A Amizade - por Maria de Fátima Soares

A Amizade - por Maria de Fátima Soares

 

É uma palavra. Um conceito. Será mais importante que o amor para mim. Talvez porque ela vem antes de ele. O amor começa com simpatia, cumplicidade, que dá origem a uma amizade extrema, ao querer estar junto. Depois da paixão acalmar, dá lugar ao amor, um sentimento mais estável, quase perpétuo. E é bom que a amizade também fique, quando no passar dos anos, o ameaçador desgastar das relações arrasa quase tudo, deixando só o amigo, o solidário, o querer estar, ainda! Por que para além de tudo nos sentimos em consonância com o nosso companheiro. Ou tendo-nos separado, guardamos ainda as recordações que nos fazem sorrir e pensar: Valeu a pena! É bom que a amizade prevaleça, dado que com ela se alcança, mesmo batalhando, o entendimento necessário para dois se manterem juntos, ou não. Para poderem "discutir" sã e calmamente, o seu futuro. O dos filhos, em conjunto. Quiçá assistirem mais tarde ao seu enlace também. Rezarem para que resulte melhor. A AMIZADE é mais leal que o amor. Se ela é verdadeira, pode tudo. Até perdoar uma traição e fortalecer-se. Custa mais a falsidade de uma amizade, do que  de um amor para mim. Principalmente, por no amor se estar sempre á espera, ser uma possibilidade tão grande, que quando acontece magoa, destabiliza e corrói. Mas um amigo? Em quem confiamos, se tornou um irmão, partilhou e participou de tanto ,que certas vezes não se confessou a um amor... Quando esse nos trai?! Sentimo-nos completamente a cair no espaço. Esvazia-se o colchão da vida, ficamos sem a tal rede, para nos amparar. No amor, isso acontece, mas mesmo em fúria, despeitados, ou reagindo, erguemo-nos e seguimos. Com um buraco no coração, que se vai fechando aos poucos, com o tempo. Por termos aquela "raiva" de fazer ver que vamos conseguir ultrapassar, de fazer ver ao outro: "Embora me doa, vou conseguir sozinha. Não preciso de ti"... E quando mais tarde tudo se acalma, por vezes, ambos reconhecem que erraram e lá está ela... A Amizade! Duradoura, que permite apertar as mãos, conviver, enterrar o machado de guerra, concluir... "Afinal preciso de todos. Especialmente de um amigo." Na desilusão provocada, por esse amigo aquele buraco permanece lamentavelmente aberto. Nunca se esquece tal como o outro, serve para aprender. Mas ao passo que num aprendemos e fortalece-nos, no outro perde-se a fé. Ao chamarem-nos amigo/amiga, desconfiamos. Por vezes somos injustos porque o buraco ainda lateja. E lateja, tanto... Que ao ter-se amizade, criou-se amor e assim a dor é dupla. Profunda, desestabilizadora. Como em todos os sentimentos quando a quebra se dá, existe a culpa, não só de um... Vem indecisão e aquele sentido de que nada será mais igual.

Porém o tempo cura. E enquanto um novo amor faz com que a mágoa se desvaneça, chegue até a esquecer-se o rosto, a voz, a vivência, ao ter-se uma outra intensa e gratificante, na amizade perdida, deixa sempre uma marca amarga. Como a tal ferida, latejante. Nunca se esquece um amigo. Seja ele de criança, o primeiro, ou o melhor. Um amigo é uma espécie de reflexo, nosso. E põe-se uma pergunta como no amor. Porquê? Não se entende a traição, porque a amizade é supostamente pura, desinteressada, dá... Pouco lhe interessa se recebe. O amor manda, exige, ferve, condiciona, é ciumento, controlador. Quando ela é verdadeira pode tudo e aceita. Pode uma vida inteira de atritos, desentendimentos, alegria, partilhas e coesão. Não exige, não cobra, apenas dura... Por saber destrinçar as coisas, por saber ver que ninguém é perfeito. Por ser SUBLIME, que temos o tal amor ao outro, que é impossível não sorrir e entrar em acordo, mesmo aborrecidos por momentos. A Amizade faz-nos falta, um homem não existe sem apoios, cúmplices, reflexos de si, tão perfeitos, que se elevam ao expoente máximo, daí a dor. Tal como nós, esse Amigo é importante. É como entender, que se não me magoo a mim própria, por o amar tanto a ele, ponho-o acima de tudo também... Onde deve estar. No sítio das coisas leais, claras, boas, indestrutíveis. No amor é assim, mas sempre temos o risco que na amizade nunca pensamos correr... Temos a certeza de que vão estar sempre ali para nós. Um amigo fica! Para além de tudo... Como num filme que acabou e ainda se lê quem nele participou, se procura angariar mais elementos para maior harmonia. O amor não tem tempo, procura novas personagens para fazer nova "fita" sem pensar em muito mais. Por vezes atropela tudo no caminho ao ser tão irreverente. A Amizade pode significar, um sopro de magia. Pena que a magia, hoje em dia, seja apenas uma quimera. Que o amor também falhe. Por mim, todos os dias a tento fazer real, e encontro-o extremamente difícil. Nunca sei se consigo...

 

Publicado em 04/03/2014

 

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