A nossa história - por Adriana Freitas

A NOSSA HISTÓRIA

 

E eu que tinha apenas 17 anos, estava quieta no meu canto, sem pensar em nada e em ninguém. Vivia uma daquelas fases em que não se está apaixonada e se vive muito bem. Aí lá vem ele me chamar de lado para conversar. A primeira vez que eu reparei nele foi quando ele pulou a janela do seu quarto no lugar de sair pela porta. Havia várias pessoas naquela pousada, eu era mais uma. Perguntou meu nome, minha idade, o que eu fazia. Quis saber tudo sobre mim. Como eu não havia reparado nele antes? Estava ali sentada naquele lugar por um bom tempo ouvindo as pessoas. E eu que pensei que fosse observadora. Há quanto tempo ele me olhava? Há quanto tempo ele prestava atenção em mim? Não sabia e na hora nem me importou muito. Quis saber também o seu nome e a sua idade. Já que eu sabia muito bem o que ele fazia. Estava na minha cidade para se apresentar com a sua banda. Uma conversa inocente que durou apenas uns minutos, traria grandes recordações futuras. Ele queria conversar mais, minhas amigas não deixaram. Havíamos combinado de sairmos, acabei me desencontrando dele. Como poderia ser? Passar a noite inteira pensando em uma pessoa que acabara de conhecer? Quis encontrá-lo, mas não foi possível durante esta noite.

Encontramo-nos apenas na manhã seguinte. A sua noite também não tinha sido a melhor. Talvez ele também tenha pensado em mim. Vai saber? Conversamos pouco. Mas podia sentir alguma coisa no ar. Voltei pra casa pensando nele. Não tinha nascido nenhuma espécie de sentimento ou coisa parecida, apenas o seu rosto não saia da minha cabeça. Talvez fosse atração. Não sabia. Era tudo novo pra mim. E eu que a menos de 24 horas era feliz por não estar apaixonada e por não pensar ninguém. Não parava de pensar em um cara que havia acabado de conhecer. Arrumei-me pensando nele. Seria hoje a grande noite. Eu não sabia o que iria acontecer. Eu só queria que ele me quisesse. E foi o que aconteceu, pelo menos por um tempo. Seria um show de rock. O seu show. E como ele estava lindo. Tocou o tempo inteiro olhando pra mim. E eu só tinha olhos pra ele. Até mudei de lugar para me certificar que ele olhava mesmo pra mim. E não é que olhava?

Ao final do show. Ele simplesmente desceu do palco, sem falar nada, veio até onde eu estava e me beijou. Eu só pude corresponder ao beijo. Afinal era o que eu queria desde a noite anterior. Eu só não entendi porque bateram palmas, atrapalharam todo o momento. Malditas palmas. Acabamos nos separando. Indo cada um para um lado. Ele ainda me convidou para acompanhá-lo até o camarim, eu, boba, não quis. Fiquei pela boate mesmo.

Ele demorou a aparecer e quando o vi novamente, infelizmente não estava sozinho. Como podia ser? Passou o show inteiro me encarando, queria ficar comigo desde a noite anterior e finalmente quando teve a oportunidade, simplesmente me trocou por outra, assim tão fácil? Senti ciúme, mas não fiquei arrasada. Sei lá, vai ver era um babaca. Estava bêbado, talvez não tenha gostado do meu beijo. Talvez eu devesse ter ido com ele até o camarim. Eu não sabia o que pensar. Preferi curtir a noite. Era o melhor que eu tinha a fazer. Depois da menina, veio outra e outra. Ele realmente queria dar uma geral na boate. Deixei pra lá. Fui procurar me divertir.

Falei com ele apenas na hora de ir embora. Como a casa da minha amiga ficava próxima à pousada que ele estava hospedado e como eu já conhecia a banda inteira, eu e minhas amigas voltaríamos de carona com eles. Não sei o motivo, mas me pediram para chamá-lo. Fui um pouco de mau gosto. E lá estava ele conversando com outra menina. Eu apenas falei que ia embora. E nessa hora tudo mudou. Ele veio correndo atrás de mim. Pedindo para que eu ficasse com ele. Fosse dele aquela noite. Pediu sem rodeios que eu fizesse amor com ele. Como assim? Eu nem queria mais beijá-lo, quanto mais ir para a cama. Ele não entendeu o meu não. Pra mim, não é não e ponto. Acabei confessando que era virgem, na esperança que ele se tocasse e fosse atrás de outra, como fez a noite inteira. Nada feito, ele simplesmente pediu para que eu perdesse a minha virgindade com ele. Oi? Não dava. Primeiro, que eu era daquelas meninas bobas e românticas, eu já tinha achado o meu primeiro beijo uma bela de uma porcaria. A minha primeira vez tinha que ser especial. E não com um cara que eu tinha acabado de conhecer, e que iria embora no dia seguinte, me deu um beijo e em seguida beijou outras e muito provavelmente nem lembrava mais o meu nome, já que ele não parava de me chamar de menina. Não dava, simplesmente não dava pra mim.

Ele foi o caminho inteiro tentando ficar comigo novamente. Por mais que eu dissesse não. Por mais que eu pedisse para ele se afastar. Tentativas vãs. Ele me beijava, ele insistia. Pedia para que eu olhasse em seus olhos. E dissesse que não o queria. Eu até falei, só que ele não acreditou. Ainda tive que ouvir brincadeiras. Os seus amigos falavam que eu naquela hora iria cheirar uísque, já que ele passou a noite bebendo. Nunca gostei de bêbados, sempre tive problemas quanto a isso. Pode ser o cara mais gato do mundo, eu simplesmente travo se achar que ele esteja bêbado. E neste caso, não era desconfiança, ele estava.  Eu só podia dizer não. O que não foi suficiente.

Por mim teria ido embora para a casa da minha amiga assim que chegamos à pousada, mas ela quis ficar, jogar conversa fora, sei lá. Nem tive muito tempo para pensar. Ele me pegou pela mão e entrou comigo, não sei. Fiquei com um pouco de medo. Já se ouviu tantos casos. E o que uma menina estaria fazendo de madrugada com um cara? Eu conhecia toda a conversa. Senti um pouco de medo. Ainda mais quando sentada em uma cadeira senti o peso do seu corpo sobre mim. Ele era mais forte. Como sairia dali? Ele não fez nada. Não iria fazer se assim não consentisse. E mais salivas foram gastas, ele tentando me convencer a ficar com ele e eu dizendo não. Até que o dia amanheceu e eu ouvi da sua boca que estava cansado e que nunca mais correria atrás de mim. Ele não queria mais saber de mim. Nem quis me dizer tchau quando finalmente fui embora. Ainda fiquei com o seu boné. Não sei por que, mas guardei-o comigo.

Ele cumpriu o que falou quando disse que não queria mais saber de mim. Acabamos nos encontrando outras vezes. E ele nunca mais tentou nada parecido. Sempre me tratou bem. Cumprimentava-me, mesmo que eu estivesse longe, não ficou com mais ninguém na minha frente. Eu não me entendi. Ele foi um babaca comigo, não teve muito respeito. Eu fiz o que era certo. E então por que eu me sentia daquele jeito? Por que eu ainda quis ficar com ele mesmo depois de tudo? Eu só podia ser uma boa de uma idiota. Eu tinha que esquecer. Levou um tempo, mas eu consegui. Perdemo-nos de vista. Não nos encontramos mais. Cada um seguiu o seu caminho. Sem notícias por anos. Até que um dia, como num passe de mágica, depois de 15 anos, a vida quis brincar. Colocou-nos frente a frente. Mais velhos. Mais maduros e mais ponderados. É como se a vida dissesse: “- Ei, estou lhes dando uma segunda chance. Aproveitem”. Foi o que fizemos. Demorou um pouco para ele me reconhecer. Afinal 15 anos não são 15 dias. Mesmo assim, eu era mais uma vez a sua menina. Finalmente devolvi o seu boné. Não tiveram palmas, outras pessoas. Ninguém para atrapalhar. Mas esta já é outra história.

O amor é assim nem o tempo, nem à distância e nem outras pessoas são capazes de acabar. Quando o amor existe. Ele resiste a temporal, geada, seca. O que vier. Ele se transforma, sofre mutações, mas o amor não morre. Ele pode até adormecer por um tempo, mas quando é verdadeiro. O amor ressurgi renovado, fortalecido e cheio de disposição para viver intensamente. 

 

 

 

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