Cartas de Amor - por Maria de Fátima Soares

Cartas de Amor - por Maria de Fátima Soares

CARTAS DE AMOR

 

Todos os dias escrevia uma subordinada ao tema... Ama-te a ti mesma! Todos os dias se levantava da cama, organizava-se e depois de tudo feito, sentava-se á escrivaninha e escrevia. Em alguns, longuíssimas missivas. Noutros, breves frases concisas que eram conselhos, nunca levados à letra, ou nunca mais escreveria naquele papel fino, de cores nunca iguais e desmaiadas. Uma ou outra folha com um desenho de fundo, esbatido, de gardénias ou rosas. Lilases, ou hortênsias. 

Na pequena gaveta de cima, à direita, guardava os envelopes. De tamanho escolhido por si, fora do formato normal. Mimosos, com  os bordos rendilhados, que fechava depois de lhes meter dentro a sua missiva, delicadamente, vendo-lhes os buraquinhos recortados (como a renda) unirem-se à superfície de baixo, lisa fazendo um bonito efeito.

Na da esquerda e em baixo, mantinha os selos. Selos, especialíssimos. Sempre de colecção, ora de todas as classes flores, como de inúmeros exemplares de animais. Depunha-os na ponta da língua, com minúcia e deixava-lhes um rasto preciso e sempre exacto, do extracto da sua saliva que os colava na perfeição, sem exageros.

Ficava um pouco a mirar o conjunto... Guardava a caneta no descanso próprio, depois de lhe retirar os excessos de tinta do aparo e verificar a pureza e a intocabilidade da mesma nas mãos e fechava o tinteiro. De seguida, levantava-se e ajeitava as vestes, ou envergava uma outra roupa e dirigia-se à porta. Descia as escadas, andava um quarteirão e depositava a carta, endereçada a si... No marco e fazia o caminho inverso.

No dia subsequente, ou no outro, ele trazia-lha na mão. Sorria-lhe, ao entregar-lha e pensaria talvez quem seria o homem apaixonadíssimo por aquela mulher que todos os dias, ou dia sim, dia não, lhe escrevia uma carta... Sem remetente. Ela olhava-o brevemente e mal fechava a porta, dirigia-se à janela e ficava a vê-lo desaparecer ao fundo da estrada. Sentava-se então. Suspirava resignada e lia. Lia o que sabia ser a mensagem que um dia gostaria que ele lhe escrevesse.

 

Maria de Fátima Soares

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