Como somos? - por Carmen Jacques Larroza

 Como somos?
 
"Amélia que era mulher de verdade", lembrei deste verso de Mário Lago, hoje assistindo uma reportagem sobre uma senhora, de oitenta anos, que se chama Amélia e tudo tem a ver com este refrão.
Na entrevista, ela contou que alguns anos atrás, ela teve câncer. Condenada a perder sua vida, ela fez um voto com Deus. Se fosse curada, ajudaria o próximo, fosse ele quem fosse.
Passou-se um tempo e ela foi dada por curada. Ai vieram-lhe as preocupações. - O que fazer para cumprir seu voto com o Doador da vida? Ganhava somente um salário mínimo. Como fazer? 
- O que ela sabia fazer? - Que habilidade tinha? Era semo analfabeta.
Sabia coser e tinha uma máquina de costura. Mas e dai? Como usar isso em benefício do outro? Em suas reflexões, lembrou-se que o inverno, aqui do sul, era rigoroso... Que muitos passavam frio e outros até morriam nas noites geladas. Pensou em cobertores para aquecer as crianças, os adultos e os idosos carentes, os quais, muitas vezes, nem gás possuíam, para tomar uma água quente e driblar o frio que o vento carregava  pelas frestas das paredes.
 Para isso, precisaria de dinheiro para comprar tecidos. 
- Jesus meu, quero fazer, mas está além do meu limite. Abre-me as idéias. Foi ai, que se abriu uma luz. Começou a percorrer malharias, fábricas de confecções, costureiras, etc. Todo lugar que trabalhava com tecido, ela entrava, contava sua história e pedia retalhos. Cheia de sacolas voltou para casa e deu início ao seu projeto solidário.
 A partir de então, não parou mais. Não precisa mais pedir. Só passar nos lugares para fazer as coletas. Trabalha inverno e verão emendando pedacinhos de tecidos, que na realidade, são pedacinhos de amor e de vida unidos, para dar vida melhor a quem a tem pior. Determinado dia, ou dias, ela sai, caminhando com seus passos lentos de oitenta anos, a percorrer as favelas, becos e guetos para entregar o agasalho, o calor que aquecerá um desprotegido. Vi, na mesma reportagem, Dona Amélia entregando cobertas a uma velhinha, pequeninha, mal agasalhada. Sorridente, emocionada e agradecida, dizia que o inverno deste ano, "tava gelado demais e que cortava até a alma" , e que  já tinha passado muito frio. Via-se a precariedade da casa. O coração doeu. Os olhos umedeceram-se. Apesar de tudo, de tanta miséria, ela sorria.
Agradecida, abençoava dona Amélia. Estava feliz. Conforme falei em um Papos de Mulher, o conceito de felicidade não tem limites, ou talvez o seu limite seja ilimitado.
Parei para refletir a importância para a sociedade desta idosa, mal remunerada pelo seu salário mínimo e de andar arrastado. Passei a me perguntar: - Que exemplo de cristã eu sou?  Que ser humano somos nós que dormimos quentinhos pelos edredons, com estufa, ar condicionado enquanto o outro está no relento, coberto de papelões? Enquanto muitas crianças dormem amontoadas, para que seus corpos aqueçam o do irmão; como  filhotes de animais? Tanto nos preocupamos se o nosso animalzinho de estimação não está com frio, que nos esquecemos de gente! 
Na maioria das vezes, ajudamos nosso amigos, familiares, ou seja, pessoas do nosso convívio social e achamos que temos bom coração. Realmente somos bons: não desejamos mal a ninguém, não roubamos, temos um bom caráter e até muitos bons sentimentos. Somos pessoas boas, nos preocupamos com quem queremos bem, com os nossos conhecidos. Mas também tem um porém! A maioria de nós, quando ajuda alguém e o ajudado se nos é ingrato, nos sentimos injustiçados, magoados. Óh! Coitados de nós!
Agora pensemos, em dona Amélia! A quem ela ajuda? A quem ela socorre? Ao desconhecido! Sabe por que? Porque ela não se preocupa, com retribuições, com gratidões. Sabe com quem ela está preocupada? Segundo suas palavras "Com Deus". Com o cumprir de "Seus mandamentos". Que lição! 
Aqui citamos alguns mandamentos: "Que a tua mão esquerda não saiba, o que fez a direita." "Pedi e não me deste de comer."(Jesus) "Quem acolhe a um destes pequeninos [os pobres] a mim acolhe." "Fazei o bem." "Eu vim para os enfermos." (Miséria é uma enfermidade grave!). "A fé sem obras é morta." "Com as minhas obras, te mostrarei minha fé.".....
Mulheres e homens, sejamos Amélias. Sejamos cristãos! sejamos humanos! Sejamos solidários. Unamos as forças, as idéias e façamos algo pelo desprivilegiado, que paga o preço de governos "compulsivos (?)". 
Não precisamos imitá-la na sua coragem, já que ela faz tudo sozinha, em secreto, cumprindo a parte dela; como a Parábola do Beija-flor. Trabalha porque ama! Ajuda, porque é boa, por isso não pensa em a quem está ajudando! Pensa que Cristo morreu na cruz por todos. Todos! Podemos trabalhar em grupos.
 Como uma pessoa tremendo de frio, de barriga vazia vai crer que existe um Deus que a ama? Teria motivos para isso?
Sejamos mulheres e homens humanos de verdade. Sejamos Amélias!
 
 

 

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