Fugir da real - por Carmen Jacques Larroza

Fugir da real    

 

    'Amanheci sorrindo, às flores no caminho', como diz o 

poeta na canção? Não. Apenas, amanheci diferente!

      Hoje. Só por hoje - como é o lema do dependente - decidi

não chorar; ainda que lágrimas me acalentem a alma... 

      Hoje, decidi não chorar! Não encarar minhas dores, nem

 minha perda homeopática, que goteja, lentamente, entre meus 

dedos. Talvez, dissesse Poliana: Que bom que é lentamente! 

Dá-me mais tempo distante da solidão e do abandono entre

quatro paredes sem vozes, sem risos... Sem olhares mudos, mas

confessam tudo. 

      Hoje, decidi deixar os olhos áridos. Desérticos como o Saara.

Mandei-os, sós, procurar o pós horizonte.  Eles viram, por lá, uma 

cortina de voal, transparente.  Muito gentil, ela mostrou-lhes 

o vazio dos novos tempos, que me esperam. Têm, eles, os braços 

longos para um abraço interminável àquela que chega de 

um porto seguro. 

      Também, deixou-os ver o amanhã da escuridão da noite 

no dia; as estrelas e a lua-cheia partirem enlaçadas ao sol, 

por se negarem a ver meus braços circularem, apenas, meu 

corpo. Ou seria o meu nada?  

      Hoje, decidi não chorar, porque quero fugir desse "vale 

de sombra e de morte". Perambular na estrada Enganar-me  

até o Reino Faz-de-Conta com seus castelos, príncipes, 

princesas e o "foram felizes para sempre". Quisera poder fugir

para o mundo Avestruz. Ali, se enterra cabeça na areia, para

escapar dos ardis do predador.

      Hoje, não importa mais nada. Viajei pelas veredas da Ilusão.

Fugi. Estou não sei onde, mas aqui é melhor. Não existe a dor, 

o medo do adeus, nem da solidão. É como se fosse o suspiro final.

      Hoje, quero ser um avestruzense. Enterrar a dor. Escondê-la

 de mim. Por que? Porque, hoje, decidi não chorar.  

Preferi me enganar...

 

 

 

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