Inesquecíveis Encontros - por Lígia Beltrão

Inesquecíveis Encontros - por Lígia Beltrão

Inesquecíveis Encontros

 

       Eles olhavam-se apaixonados. Ela sussurrava aos seus ouvidos o encantamento de passear com ele. Ele ouvia e baixava a cabeça sacudindo a cabeleira dourada, para em seguida levantar garbosa exibindo a elegância peculiar à sua raça, e assim, seguiam os dois pelo caminho sem se preocuparem com nada. Só estavam eles ali naquele momento. O vento passava acariciando os cabelos dela e zunindo nos talos nus dos campos abandonados. A imensidão descortinava-se ante os seus olhos e perdia-se na vastidão ao derredor. Aconchegados, caminhavam sem se darem conta do tempo. Seus corpos machucavam as flores que adornavam o campo, mas não se importavam com os ais que elas gemiam ao serem pisoteadas. Só o que importava eram eles dois. Ele era seu confidente e parecia entender cada palavra que ouvia. Ela fazia-o correr pelos prados de encontro ao vento, onde se deliciava engolindo felicidade.

 

       Todos os anos, era assim. Começavam as férias e ela corria para encontrar com ele. Os dois juntos desbravavam o desconhecido e completavam-se. Ela era só uma adolescente cheia de sonhos. Ele, já maduro, conhecia aqueles caminhos de cor. Sabia encontrar os lugares para onde ela queria ir. À margem do rio, que corria batendo nas pedras numa gargalhada de alegria, aqui e acolá despencando em cambalhotas, bebiam da água fresquinha e cristalina e conversavam como se no mundo só eles existissem. Os pássaros cantavam nos galhos das árvores e em coro saudavam o instante, fazendo a magia da natureza. Partiam em revoada. Iam em bando passear pelo céu e conhecer os arredores. As flores requebravam-se manhosas no embalo do vento que uivava de quando em vez, chamando a atenção. O dia caminhava lento até fazer-se tarde. O sol declinava no horizonte, vermelho, exibindo sua capa dourada de final de dia.

 

       Voltavam para a casa em passadas lentas, como a não quererem despedir-se. A separação era inevitável, e sabiam a falta que iriam sentir um do outro. As cavalgadas da manhã ensolarada davam agora, lugar a um trote compassado, preguiçoso... Queriam adiar aquele momento. Fazê-lo eterno. Ele, mesmo cansado nunca reclamava. Seguia o curso da vida. Ninguém haveria de compreender a orgia do seu coração de menina, ali encantada com o despertar da simplicidade de viver o anonimato do existir. Ela toda, arde e flameja em sonhos indestrutíveis, nessa trajetória dela mesmo, como se ao buscar o destino, ainda assim, voltasse com as mãos vazias. Mas pressentia o prazer de viver e se entregava. A garantia da vida é uma necessidade que se renova continuamente, e sabendo disso, ela tinha avidez pelo mundo. Ela era a sua própria trajetória.

 

      A noite descia vestindo-se de negro, alumiada pelos lampiões a gás, murmurando a solidão dos que não pedem nada. Ela, deitada, olhava o teto escuro ouvindo a canção dos grilos e esperando ansiosamente o amanhecer. Ele, deitado sob a luz das estrelas que bordavam o seu teto, olhava a lua esperando que ela fosse dormir para deixar vir a aurora de um novo dia, e assim, galopar outra vez pelas estradas da esperança feito um corcel a desbravar chãos empoeirados e apedregulhados, mas sentindo-se o mais belo alazão que ali vive. Assim sonhando, adormeceu, enquanto a lua trajando prata sorria enternecida.

 

       Logo amanheceria e a menina chegaria para montá-lo. Continuariam desbravando a vida e enganando o tempo sendo felizes e galopando ao som da liberdade. Ele era só um cavalo branco, mas ela o via como o mais belo alazão do lugar.

 

                                                

 

 

 

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