O Estranho - por Karem Schumacher

O Estranho - por Karem Schumacher

O ESTRANHO

 

Hoje posso deixar em palavras sentimentos que me corroeram por longo tempo, que mantive trancados nas gavetas da memória, que queria não lembrar, que tentei esquecer.

Aquele homem, hoje consigo pensar sobre sua existência em minha vida, uma pessoa que considerei cruel por anos e anos, que procurei me distanciar, não queria mais saber se estava presente ou não.

Tentei esquecer, uma infância torturante, anos onde precisei me esconder e chorar amargamente, por toda sua frieza e maldade, sua figura me fazia tremer, me sentia tão horrivelmente desconfortável em sua presença, que costumava assistir as cenas de fora, eu nunca estava presente dentro de mim, me escondia, não queria ouvir sua agressividade gratuita, não queria ouvir sua respiração violenta, sua falta de compaixão e amor.

Por toda uma vida tentei ser outra pessoa para passar por ele sem que me visse, mas minha natureza rebelde me causava problemas, por vezes eu não conseguia evitar e despejava meu ódio extremo.

E assim se passou nossa desesperadora convivência, até que um dia ele partiu, sem palavras de aviso, virou as costas e foi-se, não lamentei, senti meu coração leve, agora eu poderia voltar a viver, ser eu mesma, mas era tarde, ele havia destruído minha força, me derrubado e pisado com botas de couro, eu não podia me levantar da lama em que me encontrava, ele conseguira, matou minha personalidade, e me deixou viva para vagar vazia pela vida cinzenta.

Anos se passaram depois de sua partida e agora eu tinha uma chance de tentar ser humana, estava lutando, me recuperando, sem com tudo me vingar, sem esperar pela felicidade, apenas vivendo a desprezível vida que me resta, a herança odiosa que me foi deixada.

Hoje estou sentada entre pedras frias de granito, olhando para você, nem assim as lágrimas conseguem escorrer livremente, se escondem dentro de mim, como me escondi a vida inteira.

 Você que não está aqui, apenas algumas palavras escritas descrevem a sua passagem na terra, eu poderia sim mudar essas palavras nobres, que o descrevem, gravadas em bronze.

Eu escreveria apenas, ERA MEU PAI.

 

 

 

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