O Jardim - por Karem Schumacher Lacerda

O Jardim - por Karem Schumacher Lacerda

O JARDIM

 

Quando andava pelas ruas se sentia amedrontada, tinha poucos amigos e pouco saía de sua casa. Gostava do seu jardim, era pequeno, porém um bonito lugar, costumava plantar mudas de dama-da-noite, sentir o perfume que exalava quando o crepúsculo surgia era a coisa mais deliciosa de que podia se lembrar, a sensação de conforto que surgia com o perfume delicado das flores noturnas, trazia em geral um volume de lembranças que afetavam seu comportamento.

As noites quentes são sempre mais favoráveis para que o perfume das flores exale e preencha o ar, sentar-se por ali, olhar o céu e sentir o vento morno eram com toda a certeza um modo de entrar em uma espécie de transe, deixando as emoções livres a galoparem em sua cabeça.

Essa noite se sentia angustiada e deixou-se ficar deitada na grama mesmo, sem se preocupar com mais nada, tentava inutilmente se livrar daquela sensação de perda e vazio, ele havia ido embora já havia um bom tempo, mas a dor ainda era tão poderosa em seu corpo que não tinha mais coragem de agir, tinha deixado seu trabalho, decidiu que poderia fazer alguma coisa de sua casa mesmo, o convívio social era difícil, sentia que a olhavam com pena, os pequenos atos de consideração faziam que se sentisse ainda pior, de forma a tornar tudo mais duro de suportar, queria ir embora da cidadezinha sufocante, queria esquecer que um dia tivera um jardim tão lindo.

Sabia apesar de tudo que jamais sairia daquela casa, seu lugar era junto às damas-da-noite que plantara para sua felicidade, uma farsa com certeza, nada mais a faria feliz.

O entardecer chegava com suas luzes arroxeadas que pareciam transmitir tristeza e pesar, ela observava as nuvens sem interesse, sua atenção era constantemente desviada para um canto do jardim, lá ela sabia estava a razão de sua dor, naquele pedacinho de terra repleto de flores, com um suave gramado que recobria o chão havia uma cruz, era ali que seu amor estava deitado em seu triste descanso solitário, ele podia sentir o perfume das flores e o calor morno da noite.

O vento por vezes trazia sons distantes, queria que trouxesse de volta a risada do seu amor, o vento nunca atendeu seu pedido, não lhe dava atenção.

Ansiava pelo dia, quando enfim se deitaria ao seu lado para juntos apreciarem a beleza do céu e sentir o vento balançando suas preciosas flores para que enchessem o ar de alegria, mas por enquanto teria que se contentar em estar só, pedindo para que pelo menos em seus sonhos ele surgisse e trouxesse um pouco de consolo para seu coração despedaçado.

As lágrimas queimavam seu rosto ao cair, lágrimas que durariam para sempre, todas as noites, seu tormento era infinito, pedia em silêncio que sua alma pudesse ser arrebatada também, queria fechar os olhos para nunca mais abri-los novamente, esperava sozinha, mais um dia.

 

 

 

 

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