Saudade - por Anchieta Antunes

Saudade - por Anchieta Antunes

SAUDADE

 

Ah! Instrumento de tortura, que rasga as defesas do espírito mais ladino. Ferro em brasa que vai queimando e cauterizando as feridas do coração. O tamanho da distancia não tem o menor significado, a menor importância. Pode estar ao lado acolhida no desprezo da insalubridade, da insatisfação. A saudade nunca é solicitada, só acontece quando nos separamos. Ela fica martelando no intimo como ferreiro em bigorna, malhando o ferro quente e dando forma de figura, de rosto, de lagrima.         

O tempo embaça a memória, mas o cerne fica na alma como vírus adormecido esperando para se manifestar. É como a lepra do amor que vai corroendo o espírito e só acontece a cura quando a presença desponta no horizonte.           

Do florete fincado na nuca pingam gotas escarlates de saudade. Isto acontece quando eu começo a vê-la pelas costas. Ela é minha mulher, ela é minha vida, meu anjo da guarda. Dea é meu porto seguro, minha professora de vida, meu encantamento. Quando ela parte, fico no limbo, sozinho, desgraçado, olhando para o nada. Vejo dois pés caminhando para longe de mim, para perto da saudade que me acabrunha.       

Dou meia volta e volto, pelos caminhos da solidão, da desilusão, da escuridão. Quanto tempo? Não sei! Não quero pensar, apenas sarar, pensar a ferida aberta, a garganta seca, os olhos úmidos, a alma vacante. Solto um grito que cai no vácuo. O vácuo não existe, um gemido escapole da garganta, como um ladrão flagrado pela incompetência. A pequena gota que escorre dos olhos, marca a face como se fosse o traço de Michelangelo. A escultura do desespero está em pé, apenas em pé, como se fosse um poste sem lâmpada, sem brilho, sem luz, sem orgulho, despido de amor próprio.  

Como pesam meus ombros em cima de um corpo vazio de vontade. Retorno para o casulo sem seda, sem água, sem alimento. Inerte à beira do abismo não tenho animo para saltar, não tenho brios para morrer. Resta a esperança do reencontro no  rio revolto da alegria, do encantamento, dos folguedos do acasalamento, da plenitude do ser, da perfeição da presença.

           

Saudade! Não te quero presente. Quero-te longe de mim.

Cansei de sofrer.

Cansei de cansar. 

 

 

 

 

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