Uma dama na caçada - por Patrícia Dantas

Imagem: disponível em Hanna Brescia in Pictures

Uma dama na calçada

Muitas vezes temos que esperar. É como se fosse uma lei. Andamos de uma lado para outro e continuamos esperando como se ele viesse de uma só vez. As vezes ele vem aos poucos dobrando uma esquina ainda distante, trazendo flores, bombons recheados ou uma caixa de chocolate sortidos, bem a nosso gosto. Ele também pode não vir, e é bom que se esteja bem prevenida para virar alguns drinks a noite inteira já que a madrugada não vai passar como um relâmpago, ela vai se prolongar mais que a lágrima torrencial que não aceita desculpas inventadas.

E por que ele não viria? Ela já passou do tempo de flanar por aí, esperando o que não pode vir, o que pode se perder no meio do caminho, disto ele estava ciente, ela o alertara no encontro passado que fora muito bom, mas não tão inesquecível, pois o tipo ela conhecia muito bem, talvez estivessem todos guardados numa caixinha mágica de memórias. Ele não era tão diferente assim a ponto dela espera-lo uma noite inteira, debaixo do sereno ou do orvalho que em algum lugar caía calmo.

No outro dia logo ela continuava sua caçada, não dava tréguas às entrelinhas do seu coração, queria mesmo escapar de si numa corrida frenética e pousar todas as suas cadências emocionais em outras mãos que pudessem tomar conta do seu interior tão frágil e visivelmente tão forte. Queria encontrá-lo, buscá-lo em algum lugar, afagar sua tez úmida. Que fosse outro, não tinha importância.

Ela sabia que necessitava ganhar algum dinheiro, sua sobrevivência vinha da sua própria carne embalada nas noites ou na penumbra incansável dos dias. Existia alguma forma de seu novo parceiro não saber que sua vida dependia disso? Era sua sutil sobrevivência ganhando cara nova, impulsos e desejos renovados. Não dava mais, era preciso parar ali, mas ela não podia, tinha que seguir em frente, pois ainda havia rastros de vida espalhados na calçada e ela tinha que juntá-los, à espera de algum sobrevivente que acreditasse no amor, talvez naquele amor que ela criara e não sabia explicar o que sentia, pois ninguém iria compreender sua forma lúcida e despretensiosa de amar.

Para aquela dama que todos os dias habitava aquela calçada tão familiar, era tudo ou nada: amar ou sobreviver.

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publicado em 11/03/2014

 

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