BAILE FUNK
Eu DETESTO funk de todo o meu coração, fato, mas como esse gênero musical do capeta toca até em velório de cachorro fica difícil não ter o desprazer de ouvir essa porcaria em alguma festa ou balada por aí. Por uma curiosidade mórbida e sombria, há alguns meses resolvi aceitar o convite de alguns amigos para adivinhe o quê, ir à um baile funk na minha cidade. Não, eu não havia usado drogas e nem batido contundentemente com a cabeça, mas como o ingresso havia sido ganhado e eu precisava pagar alguns pecados decidi-me a assistir ao tal show dos “Havaianos”. Desde já eu considero desnecessário qualquer comentário sobre a qualidade da banda, da música, da plateia, da minha sanidade mental, etc…
A questão é que ainda restavam alguns poucos pecados a serem quitados quando a coisa pareceu melhorar, no lugar dos saltitantes e dispensáveis dançarinos, deram-se lugar a duas rebolantes dançarinas, muito bem trajadas com alguns centímetros de pano colorido e esbanjando a sensualidade sofisticada de um rinoceronte no cio. Convenhamos que um rinoceronte teria certa dificuldade em acompanhar os contorcionismos malabaristicamente executados pelas “popozudas”, que eu poderia jurar que nasceram sem a coluna vertebral ou que tinham parte com algum super-humano asiático do Cirque du Soleil.
Os passos da “dança” que simulavam categoricamente o melhor do Kama Sutra deixariam a Bruna Surfistinha se sentindo uma novata na mais antiga profissão do mundo, mas poderiam facilitar o trabalho de qualquer ginecologista recém formado, graças aos libidinosos “ângulos de abertura” de 270°, um inexperiente doutor poderia dar um diagnóstico preciso à pelo menos 50 metros de distância das pacientes.
Como comentários irônicos e desnecessários são uma das minhas especialidades, não me contive em dizer a uma de minhas amigas que tais dançarinas deveriam fazer muito sucesso na “casinha da luz vermelha”. Comentário infeliz da minha parte, com tom de repreensão a resposta que recebi fez minha consciência doer:
“Só porque as dançarinas rebolam não quer dizer que sejam putas! É só a dança delas!”
Sim, essa doeu. E mergulhado no silêncio vergonhoso da heresia social que acabara de cometer a voz sonora e zangada da minha consciência se fez reverberar nas paredes da minha mente:
Consciência: Seu cretino, preconceituoso, pseudo-moralista, corintiano, bêbado do car$#%…quem você pensa que é taxando essas honrosas dançarinas de meretrizes?
Eu: {silêncio}
Consciência: Por acaso você agora é jurado do “Dança dos Famosos”? Acha que entende alguma porcaria sobre dança só porque aprendeu o dois pra lá e dois pra cá do forró? E qual o problema da dançarina cavalgar em cima do p*%# daquele sujeito? Peraí, santo Deus, o que é aquilo acontecendo no palco???
Eu explico. Enquanto eu era covardemente açoitado pela voz grave da minha consciência, dois marmanjos da plateia foram convidados a subir no palco e interagir com as dançarinas. Na primeira interação os afortunados se deitavam enquanto as dançarinas nada sutilmente cavalgavam (literalmente) sobre suas “partes” com a determinação e violência de uma virgem de 75 anos.
Mas o clímax da dança ainda estava por vir, logo em seguida os incrédulos convidados foram intimados a se sentar e mal tiveram tempo de se recuperar da cavalgada, quando as dançarinas se colocaram na famosa posição “de 4” a frente dos mesmos, mas numa versão com alto nível de inovação e habilidade, tenho que admitir. Se apoiando com as mãos no chão, as dançarinas (de costas para os marmanjos) posicionaram os pés por sobre os ombros dos convidados, de forma que suas respectivas caras (rosto é sacanagem) ficaram de frente para as…aaaaas….para os “glúteos aéreos” das dançarinas. Tão logo o “batidão” do funk recomeçou viu-se um verdadeiro espancamento no palco digno dos melhores nocautes do UFC. As dançarinas puxavam abruptamente com os pés os ombros dos convidados de forma que a cara do camarada era repetidamente surrada pelo glúteo voador (procure por “surra de bunda” no Google). E não pense você que era com amor e carinho não, era na força bruta mesmo! Se tivesse um juiz ele teria mandado encerrar a luta nas primeiras três bundadas.#ficadica Anderson Silva!
Para finalizar, eu e metade da plateia ainda tentávamos entender quem havia estuprado quem naquele palco quando as dançarinas resolveram executar um novo passinho, que na minha humilde opinião deveria ter feito parte das preliminares e não deixados para o fim do espetáculo. Ainda sentados e talvez inconscientes, os convidados viram com alívio as dançarinas graciosamente se levantarem e se posicionarem de pé, a frente dos mesmos e mantendo cuidadosamente os narizes deslocados de seus ajudantes a pouco menos de 10cm da …daaaaa….do “ventre” das dançarinas. Em segundos as amáveis dançarinas agarraram com força a cabeça dos marmanjos e com a fúria de um raio arremeteram seus narizes adormecidos de encontro às suas partes íntimas, que naquele momento eram mais comunistas que a obra de Karl Marx ou a ilha de Fidel, diga-se de passagem. Por alguns minutos eu poderia jurar estar de frente para o que seria uma aula de sexo oral (ou nasal) em público e gratuita, mas minha impressão era heroicamente desmentida por meio milímetro de pano costurado com linhas de “adamantium”, que dava tudo de si para evitar que os gentis convidados fossem abduzidos pelas dançarinas e nunca mais encontrados.
Tendo dado por satisfatória sua performance artística, as dançarinas se retiraram orgulhosas do palco e também permitiram que os convidados retornassem a plateia para fumar um cigarro e quem sabe visitar o hospital, onde colocariam seus narizes no lugar e substituiriam alguma prótese dentária perdida durante aquela inesquecível interação.
Eu, por minha vez, virei-me para minha amiga, aquela do início da conversa, que neste momento tinha os olhos arregalados como se tivesse topado com o Gil Brother (Canal Away) nas “Zero Hora”. Ela, claro, retirou sua objeção ao meu comentário sobre as dançarinas do funk e a “casinha da luz vermelha”. Também tentei encontrar minha consciência para continuarmos a discussão de outrora, mas misteriosamente ela desapareceu ainda durante a cavalgada e desligou o celular.
Se alguém encontrá-la, por favor, digam para voltar para casa, precisamos ter uma conversinha…
Fonte e imagem: https://dragaourbano.com.br/340/