O MELRO VOLTOU
Ouvi-o cantar,
aquela ária de gargalhada
irónica, atrevida, desafiadora.
Há muito, fugido andava,
visitou-me:
negro, madrugador, luzidio, jovial, inquieto.
Belo,
de bico amarelo,
na relva saltitando,
de árvore em árvore voando
para a minha varanda entrou
e poisou.
Tinha saudades dele,
pois, todas as manhãs, todas as tardes
ao anoitecer,
o cantar que ouvia
me apetecia.
Mas, assim que me sentia
fugia,
observava-me,
cantava-me,
a alma me acalmava
com o canto que declamava.
A ele me familiarizei,
poisado na minha varanda.