Quero ver o pôr do sol
Gosto de descrever o pôr do sol com tons reforçados à maneira de Bilac, o mesmo poeta que ouvia estrelas. Talvez porque eu vejo a vida e sua composição com cores vibrantes, desenhos nítidos pintados com guaches delicados e delineados com eficácia.
Escrever requer perícia, cuidado para que o alvo descrito não se perca por entre as linhas e versos. É fundamental um olhar atento, mesmo para o mais discreto movimento. A vida é feita de pequenos retalhos, fragmentos e recortes e teares que parafraseiam os tempos.
Gosto de deixar meu pensamento livre, não quero a arte pela arte, apenas (assim como os parnasianos), prefiro uma tendência acentuada de subjetividade; quero a arte pela vida ou a vida pela arte.
Mas, voltemos ao período em que o Sol se oculta no horizonte, este inverso do nascer matizado por nuances vibrantes, esta incerteza entre o dia e a noite, entre a calma e a pressa. Ver a vida diurna se despedindo sentada na pedra do Arpoador ou, logo ali, na lagoa da cidade pacata. Ver a morte poética de cada dia, a leveza da despedida. É o momento de diminuir a pressa das agendas furiosas, dos compromissos e prosas. A vida tem outras urgências. Ela tem outros sabores.
Daí meu gosto colorido e festivo de ver a fusão de cores do Sol que se misturam ao pó da tarde, ao calor do dia, à luz da vida, em uma mistura profética e poética, que se unem e se confundem com nossas emoções. Gosto de ver a vida assim: a arte feita das partes concretas de nossas abstrações. Gosto de pores do sol, eles me incitam a ver a vida sob outra ótica, eles me preparam para ouvir estrelas.
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