Sentir-se velho.
Os anos chegam, a gente fica velho, mas custa a aceitar Geralmente são os outros que nos alertam que estamos ficando velhos. Os amigos sinceros, os inimigos, a parceira, a esposa.
E os sinais começam a aparecer numa velocidade impressionante. A gente está na fila de um Banco, moças e rapazes conversando, tuitando à sua frente, você admirando, gostando, curtindo, e vem o funcionário “Posso Ajudar?” e nos convida a entrar na outra fila, bem menor, reservada aos preferenciais: deficientes, gestantes e idosos. É um baque na autoestima.
Aconteceu comigo anos atrás: estava eu numa loja de eletrodomésticos, fila enorme no dia 10 para pagamento de carnês — descobri que essas lojas forçam o pagamento na própria loja para que o cliente veja mais mercadorias e caia na tentação de novamente comprar — quando uma bonita funcionária faz sinais endereçados à fila. Olhei para ela e retribui os sinais, fiz mímica, querendo saber se os olhares eram para mim. Ela deu um sorriso e confirmou.
Fiquei feliz, envaidecido, imagine uma gata como aquela dando bola pra mim. Arrumei a camisa dentro da calça, afrouxei a barriga, apertei o cinto, e só não penteei o cabelo porque já não o tenho mais. Plagiando o finado humorista Zé Bonitinho, lancei para a moça um olhar 46, de conquistador barato, e fiquei na espera do que ia dar. Vendo que eu não entendia o recado, a bela funcionária veio até a mim, pegou no meu braço e docemente me conduziu até ao caixa mais vazio dos preferenciais. Quanta decepção!
Convencer-se de que está velho, que as energias estão minguando, que a sua jovialidade passou, é muito difícil, e quem não assume logo, pode passar por situação mais humilhante. Imagine você em pé num ônibus superlotado, nenhum embrulho debaixo do braço, e de repente uma jovem, dessa geração que não cede lugar pra ninguém, nem pra mulher grávida, nem mesmo pra cego, se levantar da poltrona e exigir que você se assente no lugar dela. Você recusando a oferta, fingindo não ser contigo, ela insistindo e todos olhando para você. Aí, toda a ilusão de juventude vai por terra.
Vem a realidade. Novos sinais de velhice chegando aos poucos e muito depressa. Cada um pior que o outro. Alguns, impublicáveis.