A cor dos meus dias
POR MARIA FÁTIMA SOARES
A cor dos meus dias tem uma pincelada de cinzento, que eu teimo em espantar com a força do pensamento. Tem um azul de sonho e um preto medonho. Mas amarelo, lindo brilhante, como raios de sol que me aquecem, num instante.
A cor dos meus dias é rubra como uma rosa. Porque explode no meu coração, uma bomba de afeição. E verde, tão fresco como a relva, tão imensamente tenra como uma folha de trevo, que a sorte traz. Por isso também existe lilás.
A cor dos meus dias tem o castanho da terra, que me faz pensar por vezes na guerra por um território, em atrocidades. Como são capazes?! Mas tem também laranja, saborosa e sumarenta, com bocadinhos de magenta.
Tem branco, de pureza, porque, maravilha e nos faz pensar em beleza. Tem dourado, quando te vejo, tão perto que te dou um beijo. Prateado, quando perco a cabeça, pelo teu corpo molhado.
A cor dos meus dias tem também o sabor das noites. Tem abraços e aspirações. Sonhos e contrariedades. A cor dos meus dias tem verdades.
E tem temperatura, quando a ideia me faz imatura, medrosa, egoísta ou um pouco orgulhosa. Aí nem o perfume me satisfaz, da rubra rosa. Perco-me numa mistura de cores que não me salva, e tento acalmar-me num chá de malva.
A cor dos meus dias pede-me mais. Mas por vezes eu não consigo ultrapassar os sinais, porque o vermelho me tolhe. Foi assim que me ensinaram. A parar, no vermelho! Mas de uma coisa se esqueceram, é que eu posso contornar, tudo o que de negativo, teima em me parar. Então tudo volta a ser colorido, divertido, assombroso... Delicioso!
Apareces, tu. Espectacularmente nu, perfumado. Com esse rosto maravilhoso os olhos ternurentos, e não! Não me nego, nem com mil raios e ventos. Apareço-te eu, desenhada no breu. E depois? Amamo-nos os dois e… Dá-se uma explosão de cores! Um fogo de artifício magnífico, onde os ocres, vermelhos, azuis, verdes, lilases e roxos, nos deixam exaustos de tanto amor. Sim! Acho que é isto, a que eu chamo cor!