A escola e a sociedade: perspectiva da diversidade adaptável ao indivíduo

A escola e a sociedade: perspectiva da diversidade adaptável ao indivíduo

           A escola e a sociedade:   perspectiva da diversidade  adaptável ao  indivíduo

 

O professor prefere ser o intermediário entre o aluno e as obras, ou entre o aluno e o real. Ao invés de facilitar a aprendizagem, gera uma grande confusão que, na maioria das vezes, não é desfeita por ele, havendo a necessidade de se recorrer a outra pessoa. O professor passa a ser um gerador de conflito, o que não seria um mal se fosse aproveitado no processo de aprendizagem de seus alunos.

No interior das salas de aula é muito raro que o educador e os educandos cheguem a refletir e investigar questões relacionadas com a vida cotidiana dos grupos mais próximos e suas relações, muitas vezes conflitivas. Um exemplo dessa desconsideração ocorre com o povo cigano. Nem nos materiais curriculares, nem na própria decoração das escolas, existe qualquer coisa, com a qual as crianças dessa etnia possam identificar-se. Somente observam-se tabus e preconceitos com relação ao seu cotidiano. Suas crenças, conhecimentos, destrezas e valores são sequer considerados.

Outra postura de silêncio nos conteúdos curriculares apresenta-se em relação aos indivíduos da terceira idade, mundo rural e litorâneo, classe trabalhadora, pessoas com necessidades educativas especiais, diferenciadas orientações sexuais e de gênero.

Em uma sociedade onde o multiculturalismo se apresenta significativamente, o desafio de trabalhar o “diferente” caminha a passos muito lentos. E sob tal visão é fundamental perguntar, assim como Touraine: “Poderemos Caminhar Juntos?” O próprio Touraine nos responde quando descreve a “escola do sujeito”: A criança que ingressa na escola não é uma tábula rasa sobre a qual o educador vai inscrever conhecimentos, sentimentos e valores. A criança tem, em cada momento da vida, uma história pessoal e coletiva, que sempre, vai apresentar traços particulares [...] uma educação centrada na cultura e nos valores da sociedade que educa cede o lugar a uma educação que concede importância central à diversidade (história e cultura) e ao conhecimento do outro, a começar pela comunicação entre rapazes e moças ou entre jovens de cidades diferentes, para estender-se a todas as formas de comunicação. (TOURAINE, 1999, p. 322, 330).

Na perspectiva da diversidade, o que devemos buscar não é a adaptação do indivíduo àquilo que a escola e a sociedade espera dele, mas definir uma política de educação que considere a diversidade de comportamentos de forma a possibilitar uma convivência pacífica entre os indivíduos. Esta seria a escola da democracia, conforme define Touraine, aquela que assume por missão consolidar a capacidade e a vontade dos indivíduos de serem atores e ensinar a cada um reconhecer no outro a mesma liberdade que em si mesmo, o mesmo direito à individuação e à defesa de interesses sociais e valores culturais. (TOURAINE, 1999, p. 339).

Podemos assim dizer, que os preconceitos estão presentes em nossa cultura, estabelecendo uma atitude de diferenciação de um indivíduo para outro e que por estes (os preconceitos), estarem enraizados na sociedade, torna-se difícil uma mudança "rápida" de atitudes. Eles causam também, um bloqueio moral no momento de se falar sobre esta questão.

Segundo Gomes (2003, p.171), é no âmbito da cultura e da história que definimos as identidades sociais (...). Reconhecer-se numa delas, supõe, portanto, responder. Afirmativamente a uma interpelação e estabelecer um sentido de pertencimento a um grupo social de referência.

Portanto, pudemos perceber que existe uma falta de preparação intercultural dos professores entrevistados, ou mesmo, uma indecisão em se situarem num determinado grupo social ou definirem sua raça. Ocorreram dúvidas e constrangimentos ante o questionamento sobre raça (presença significativa da falta de uma identidade cultural firmada).

Percebeu-se também que as escolas hoje têm crianças de diversas raças e cores, o que vem dificultar o trabalho qualitativo com a turma, pois os professores não se sentem capacitados para lidar com as diferenças existentes dentro dos muros da escola.

Aqui, os professores colocaram com veemência, que sentem desejo em mudar atitude e valores, lutar por uma afirmação cultural e erradicação das atitudes racistas e preconceituosas, mas não tem capacitação para qual direção tomar.

Podemos então, supor, que não tem ocorrido em nosso meio, um trabalho de conscientização, politização e criticidade cidadã, o que vem a impedir uma transformação da realidade na qual vivemos. Além disso, foi possível observar que, mesmo sendo crime qualquer forma de racismo e preconceito, os órgãos responsáveis pela educação/escola no país, não têm realizado nenhum trabalho de impacto que venha erradicar de nosso meio este “mal”, que há tanto tempo está enraizado na sociedade mundial. Infelizmente, os órgãos competentes para solucionar estes problemas, têm camuflado estas ações.

Mesmo assim, a maioria dos entrevistados desta pesquisa, manifestou vontade de encontrar soluções para tais problemas e sugeriram alguns projetos. Entre outras, deram as seguintes sugestões: trabalhar o respeito pelo outro desde a pré escola, pois não é a cor da pele que faz a diferença, mas sim o que você é capaz de produzir, pelo que não deveria haver desigualdade entre brancos e negro; promover o respeito mútuo; esforçar-se por compreender e saber conviver de forma mais harmoniosa com as diferenças; desencadear projetos no interior da escola que tratem destas questões; promover palestras e debates sobre o assunto; procurar manter sempre grupos de trabalho heterogêneos e, por último, a necessidade de capacitação regular dos educadores sobre esta problemática.

Assim, foi possível perceber que começa a clarear a visão quanto ao valor das diferenças etno-racial, e que estas não são algo “ruim”, mas sim, algo que enriquece o valor sócio cultural de uma sociedade. A realização desta pesquisa veio propiciar uma interação entre a realidade da discriminação no contexto escolar e os estudos realizados sobre o tema central. Através entrevistas, foi possível observar que as escolas não estão preparadas para o trabalho de uma educação intercultural, pois tanto professores quanto outros funcionários, não são capacitados profissionalmente para trabalhar a questão das diferenças existentes na escola.

Conclui-se, portanto, que toda mudança implica uma escolha entre uma trajetória a seguir e outras a deixar para trás. As compreensões do contexto, dos processos e das consequências da mudança, por sua vez, ajudaram a clarificar e a questionar estas escolhas. As opções que fizermos dependerão, em última instância, da profundidade deste entendimento, mas também da criatividade das nossas estratégias, da coragem das nossas convicções e da orientação dos nossos valores.

 

 

 

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