A Lenda - Por Luiz Amato

A Lenda 

 

Hoje, sendo um religioso, não quero aqui transcrever tudo o que senti, seja na hora em que soube do que se tratava, seja quando, em meus braços, faleceram meus três amados filhos e minha esposa Catherina. Quanto me amaldiçoei por eles terem morrido, e eu não. Quanto, em profundo desespero, desacreditei de minha fé, de minha igreja e de Deus.

 

Embora estivesse em condição física muito debilitada, coloquei os corpos na carroça, com a qual buscávamos alimentos, levando-os para o mais longe possível. Creio tê-la puxado por horas seguidas, até decidir onde os sepultaria, para não deixá-los à mercê dos predadores.

 

Fatigado e com esforço sobre-humano, abri um largo, porém raso, buraco, onde, carinhosamente, os depositei. Primeiro o corpo dos mais velhos; depois, o de minha esposa e, em seus braços, o de meu bebê.

 

Tirei minha roupa, ficando apenas com uma peça de baixo, usando-a para os cobrir e proteger. Com o coração explodindo e os olhos ofuscados pelas lágrimas, cobri-os com terra. Fiz uma tosca cruz e deixei-me cair sobre a cova.

 

 

 

 

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