A minha melhor amiga - por Adriana Freitas

A MINHA MELHOR AMIGA

 

Quando eu era menina eu sempre quis ter uma melhor amiga. Que não vinha. Ou não via. Tive muitas decepções. Decepcionei também muita gente. Magoei e fui magoada. Exclui e fui excluída. Cresci. E as marcas me acompanharam. Perdi e ganhei tanto que desisti de contar. Chorei e sorri em proporções exorbitantes. Enxuguei lágrimas e enxugaram as minhas. E a melhor amiga que não vinha? Encontrei e me despedi de tanta gente que perdi a conta. Não me fixei em nenhum lugar. Sempre em busca do que exatamente eu não sabia. Sempre desejando estar em qualquer outro lugar que não fosse o do momento. Santa indecisão. Alguns confundiram com superficialidade. Entristeci-me. Confundiram minha timidez com antipatia. Meu medo do escuro com frescura. Meu silêncio com falta de atitude. Meu isolamento por desinteresse. Por que não me entendiam? Por que as pessoas não me enxergavam do jeito que eu era? E por que eu tanto me importava? Por que eu tanto queria agradar e me decepcionava com o não reconhecimento? Por que me incomodava tanto? Por que chorei tanto? Achava que fazia parte da minha falta de sorte.  Uma amiga da época falou que era culpa minha. Fazia parte da minha personalidade não me mostrar verdadeiramente. Não era a minha intenção. Fui tão julgada injustamente. E quando o que eu mais queria era ser legal e amiga de todos. Os anos passaram, as marcas viraram cicatrizes. E passei a não mais me importar. A dar valor a coisas simples. Não deixei de ser quem era. Sem deixar a preocupação de querer ser uma pessoa melhor. Hoje eu assumo culpas, algumas. Não todas. Hoje continuo me importando com as pessoas. Mas mudei o foco. Invés de me preocupar com os que não me queriam bem, eu passei a me importar com os que me faziam bem. Não sou a melhor pessoa e estou longe da perfeição. Não tenho milhões de amigos, mas canto alto a todos os pulmões. E os que estão ao meu lado são as melhores pessoas que alguém pode desejar. Alguns de sangue outros de escolha. Não sei se fui eu ou se me escolheram. Estas pessoas me aceitam e gostam de mim do jeito que eu sou. Chata, do contra, indecisa, tímida e muitas vezes sem dar respostas. Pessoas com quem eu posso contar. Estão sempre me erguendo a mão, ajudando-me sem me pedir nada em troca. Pra que coisa melhor? Como não me sentir a pessoa mais sortuda do mundo? Agradeço todo dia a Deus por estas pessoas terem aparecido na minha vida e me influenciarem na minha personalidade. Hoje eu tenho amigos que não respeitam por muito tempo essa minha mania de me fechar no meu mundo particular. Eu graças a Deus tenho sempre alguém para bater na minha porta e me resgatar de mim mesmo. Já perdi as contas de quantas vezes saí da minha clausura por causa de alguém que não desistiu de mim. Eu não posso culpar os amigos que desistiram. As pessoas cansam. Eu bem sei disso. Os meus irmãos? São os melhores que alguém pode ter. São amigos, companheiros. Como se diz o ditado. “Pau para toda obra”. Temos até nossos desentendimentos, mas aí de quem chamar um de feio. A família se defende em bloco. Não tem pra ninguém. E a minha melhor amiga? Sempre esteve ao meu lado. Por que não a enxerguei antes? Talvez por ela ter o mesmo sangue que o meu. Talvez por lembrar mais das vezes que ela me irritou do que das vezes em que ela me incentivou e me impulsionou. Por lembrar-me das brigas e das vezes que injustamente ou justamente falei que só continuava falando com ela por ser minha irmã. Tudo mentira. Tudo dito da boca pra fora. Se não tivéssemos nascido do mesmo pai e da mesma mãe. Ela continuaria sendo a minha irmã. O meu modelo. A minha melhor amiga.

 

 

 

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