A PALAVRA, O SENTIMENTO E O TEMPO
Hoje me atrevi a ler tua carta
E entre as linhas e as palavras escritas por ti
Encontrei o teu sorriso distante
Pelas notícias de que me falas
Deves estar alegre, certamente
Eu, primeiro leitor dos meus sentimentos
Deixei a cada palavra lida na carta
Um rastro do meu olhar tristemente saudoso
Quando a escrevestes, não deves ter imaginado
Mas é fato que sinto tua falta, dolorosamente
E é engraçado, que, no mesmo papel
Nas mesmas palavras
Estejam presentes a tua alegria quando as escreveste
E a tristeza que agora sinto por estar lendo-as
Mas então o tempo passará (um mês, um ano?)
E eu me atreverei a ler tua carta novamente
Já passada a saudade, triste porque sem esperanças
De ser saciada, me darei por contente
Pelas tuas notícias boas e pelos fatos findos entre nós
E nessa releitura da carta
Virá também a reviravolta dos sentimentos divergentes
Eu, futuro leitor dos meus sentimentos
Deixarei a cada palavra lida na carta
Um sorriso sincero pelas tuas conquistas
E na minha memória virá a imagem
Talvez falsa, talvez verdadeira
Que era a tristeza pela minha falta que te movia
A escrever a carta para mim
Nem que fosse para falar de boas notícias
Pontuadas de exclamações
(Agora me lembro de que o decoro talvez não tenha te permitido dizer, mesmo que numa carta íntima, que sentias minha falta, pois planejas te casar com ele, não é mesmo?)
E pode uma simples carta, ou a sua releitura
Trocar os polos de dois sentimentos?
Talvez não. Isso é mágica do tempo
Ou da imaginação, ou até da conformidade
As palavras apenas provocam apenas os sentimentos
Ou são provocadas por eles.
Mas entre as palavras e os sentimentos
Não há acordos perenes diante do Tempo