ALICE ACORRENTADA
Tudo o que ela tinha, tudo o que podia enxergar, era através daquele pequeno buraco, tentava com os olhos apertados enxergar mais longe, queria ver mais, seu mundo era tão pequeno tão vazio, sua solidão podia ser sentida por todo o corpo.
Procurava prender a respiração, tentando ouvir melhor lá fora, queria conhecer os sons, sonhava em sentir os cheiros, queria caminhar e correr. Invariavelmente tentava forçar o trinco, talvez m dia a maçaneta cedesse e assim ela conseguiria sair, fugiria rapidamente dali, nunca mais teria que sentir as correntes em torno dos tornozelos machucados, dia após dia, sentindo o frio do metal em sua pele que escurecida e esfolada a fazia sentir vontade de morrer.
Sonhava que aqueles elos um dia se romperiam, que poderia sorrir novamente, e chorar de alegria, sentir o calor do sol aquecendo toda sua tristeza. Uma vã ilusão, estava ali a mais tempo do que podia se lembrar, sempre sentada o chão, costumava bater a cabeça contra a parede quando seu desespero era incontrolável, a dor aliviava a alma, precisava deixar a dor dominar seu corpo para esquecer que jamais sairia dali, que aquele monstro a deixara escondida de todos
Alice chorava, acorrentada, desejando sentir somente mais uma vez, o calor de um abraço, ou o brilho de um olhar.
Os médicos não alimentavam esperanças seu quadro era irreversível, permaneceria naquela cama presa em suas correntes mentais por longo tempo até que sua morte lenta e insignificante chegasse e a levasse delicadamente para onde quer que fosse.