Angela Ramalho

Angela Ramalho

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

A escritora paranaense Angela Ramalho de forma independente, lançou três livros solo: dois no gênero poesia (“Palavras Pedem Passagem” e “Poeminhas Dedicados”) e um de crônicas e contos (“De Abraços & Cheiros”). Participou de 32 Antologias. Seus livros foram lançados na 21ª e 22ª Bienal Internacional do livro de São Paulo. O primeiro livro foi indicado pelo apresentador Fausto Silva no quadro “Vitrine do Faustão”, em seu programa dominical na Rede Globo de Televisão. No exterior, teve obras divulgadas na Feira de Frankfurt, Feiria Del Libro de Buenos Aires e Expo book em Nova Iorque. Possui obras publicadas na Revista Eletrônica “Varal do Brasil”, editada em Genebra (Suíça). É associada da REBRA – Rede de Escritoras Brasileiras e ocupa a Cadeira nº 27 na Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro. Recentemente foi eleita Membro Correspondente da Academia de Letras do Brasil-Seccional Suíça. Em entrevista ao projeto Divulga Escritor a escritora Angela Ramalho nos conta sobre sua carreira literária, como tudo começou, fala de seus livros, nos dá dicas e apresenta algumas sugestões de melhorias para o mercado editorial brasileiro.

 

“Todo texto, disfarçadamente ou não, é vinculado à realidade. A fala vem e se esvai. O texto é mais sólido, mais definitivo. Imagine um Soneto de Camões, o quanto ele não tem a ver com a realidade, daquele momento (época) em que ele foi escrito. Cada texto conta um pouco de como ele quer ser lido. Não existe texto neutro. Todo autor se entrega na hora de escrever.”

 

Boa leitura!

 

 

SMC - Escritora Angela quando você começou a escrever? Em que momento decidiu ser escritora?

Angela Ramalho - No 3º ano do antigo primário (hoje ensino fundamental), a professora de Português solicitou que os alunos fizessem uma redação com o tema "Mãe". Eu devia ter uns 8 a 9 anos, mais ou menos. Fiz a redação e foi um sucesso! Em casa, o texto passou “de mão em mão” e todos riram muito. Lembro-me como se fosse hoje dos comentários: diziam que o texto tinha título, parágrafo, as frases eram curtas e as ideias claras. Quando havia diálogo, eu iniciava com travessão (aquele traço que se usa para começar o discurso direto). A pontuação e acentuação estavam perfeitas, as frases começavam com letra maiúscula e a letra era “desenhada”. Como se não bastasse, encerrei o texto dizendo o que pensava sobre minha mãe. Então questionavam: como pode uma menina dessa idade ter opinião e escrever dessa forma? Assim, percebi muito cedo a reação que um texto escrito causa nas pessoas. Percebi também que levava jeito para a escrita e não parei mais. Com nove anos escrevia bons textos e aos 12 anos já compunha meus versos. Como toda adolescente, não mostrava a ninguém o que escrevia. Além disso, perfeccionista, joguei muita coisa fora, por não considerar relevante. Esse momento de me tornar escritora, ainda não existiu. Como dizem os jovens: “a ficha ainda não caiu”. As coisas foram acontecendo muito naturalmente. O meu interesse pelos livros e pela escrita me levou a participar de grupos e/ou comunidades literárias pela internet e daí para o primeiro livro, foi um pulo! Eu diria que ainda não me considero escritora. Sou uma pedagoga apaixonada por ler e escrever.

 

SMC - Quais são as suas referências literárias? Que autores influenciaram em sua formação como escritora?

Angela Ramalho - A poesia na minha vida foi marcada, desde a infância, pela presença de meu pai, um paraibano da Serra de Teixeira (PB), defensor da cultura nordestina, que era repentista, lia literatura de cordel e fazia versos como ninguém! Cresci vendo meu pai compor seus versos de improviso e admirava a facilidade com que as palavras vinham-lhe à mente, produzindo na oralidade cordéis de riquíssimo conteúdo. Essa foi minha primeira e mais forte influência. Por volta dos meus 17/18 anos a Editora Abril lançou a coleção “Os Imortais da Literatura Brasileira” e a cada semana eu adquiria nas bancas um exemplar. Levou tempo, mas completei toda a coleção (mais de 50 fascículos) e pude ler as obras-primas dos grandes mestres da literatura nacional. Tem ainda muita coisa boa na minha estante que não consegui ler. Penso que devo ter influências desse povo todo em meus trabalhos, mas penso também que agreguei características minhas em todos eles. Quando lemos muito um autor é natural adquirirmos características de sua escrita, mas quando lemos vários autores, é muito difícil saber qual deles te influenciou mais. Analisando o que escrevo hoje, eu vejo algumas influências, sim.  Por exemplo, a influência de gênero. Eu escrevo muito mais poesias do que crônicas ou contos. Exploro nas poesias temas variados, mas o tema predominante é o amor. Na opção pelo romantismo, lembro-me de Vinícius de Morais, que também foi predominante para me fazer gostar de sonetos.

 

SMC - Escritora Angela fale-nos um pouco sobre seu livro “ Palavras Pedem Passagem”.

Angela Ramalho - Palavras Pedem Passagem” considero um livro ousado, pois nele eu contrario Vinícius de Moraes e discordo de Fernando Pessoa. Deixo para o leitor tirar suas conclusões. E que me perdoem os meus dois “mestres”, mas muita gente já me deu razão! Mas também o considero um livro político, de cordel, autobiográfico, de reflexões sobre a vida, filosófico, de recordações, ecológico, de apego às raízes, religioso, humorístico, de questionamentos, de apologia à liberdade e predominantemente romântico. Enfim: é um livro de poesias, com poemas sobre temas diversos!

 

SMC - Que mensagem você quer transmitir para as pessoas através de seu “Poeminhas Dedicados”?  Qual a diferença de temas abordados entre ele e o livro “Palavras Pedem Passagem”?

Angela Ramalho -  “Poeminhas Dedicados” foi um “mimo” que fiz aos meus sobrinhos-netos. Para cada um (e às vezes até mesmo antes de nascer, quando ainda estavam na barriga da mãe, como foi o caso de um deles) eu fiz um poema. Os textos eram personalizados e continham características de cada criança ou adolescente. Fui acumulando esses textos e assim nasceu “Poeminhas Dedicados”. Interessante que outras crianças que leram o livro se identificaram com poemas que tinham o seu nome e/ou alguma característica pessoal citada nos textos.

A diferença dos temas abordados entre eles é que “Palavras Pedem Passagem” é um livro de poesias destinado a jovens e adultos e “Poeminhas Dedicados” é um livro de poesias infanto-juvenil.

     

SMC - Que tipo de crônicas e contos abordas no livro “De Abraços & Cheiros”?

Angela Ramalho - Segundo Rejane Machado, professora e crítica literária (que já trabalhou com Marina Colasanti no Jornal do Brasil) e que prefaciou o meu livro, as minhas crônicas “são conversas bem humoradas, divertidas, para serem lidas com prazer. São leituras rápidas, pois os jovens da “geração PC” não têm paciência para ler coisas longas. Mas que também vão satisfazer a leitores outros”. Mais adiante ela afirma que “a autora circula com naturalidade, borboleteando sobre os assuntos – muitos - de que se ocupa: seu status de pessoa integrada, o trabalho, os grandes temas da vida, o amor, as perdas, uma leve filosofia”. Continuando sua análise sobre o livro, ela diz: “Vez em quando carrega o cenho e usa de muita seriedade, compondo verdadeiras obras primas, crônicas perfeitas, irrepreensíveis” e finaliza o prefácio afirmando que: “De um modo geral a marca desse conversar consigo mesma é a extrema leveza. Que não nos permite largar o livro enquanto não se chega à última página. Como uma obra de ficção. Como um romance bonito que vai nos legar algum sentimento de pertença àquele universo amável”. Creio que com essas palavras, Rejane conseguiu sintetizar “De Abraços & Cheiros”. Fiquei muito honrada com a sua fala!

 

SMC - Onde podemos comprar os seus livros?

Angela Ramalho - Meus livros estão à venda nos catálogos virtuais das livrarias Cultura, Martins Fontes e nos sites das editoras (LivroPronto e Scortecci, que os comercializa através da Livraria Asabeça). Mas mantenho em casa um pequeno estoque, pois muitas vezes recebo pedidos para enviar o livro autografado pelos Correios. Quem preferir comprar diretamente comigo, pode pedir pelo e-mail: xavier.arr@gmail.com

 

SMC - Seus textos são 100% verdadeiros ou você costuma fantasiar/criar em cima de situações reais?

Angela Ramalho - Todo texto, disfarçadamente ou não, é vinculado à realidade. A fala vem e se esvai. O texto é mais sólido, mais definitivo. Imagine um Soneto de Camões, o quanto ele não tem a ver com a realidade, daquele momento (época) em que ele foi escrito. Cada texto conta um pouco de como ele quer ser lido. Não existe texto neutro. Todo autor se entrega na hora de escrever. Ele coloca nas entrelinhas (e às vezes escancaradamente) seu ponto de vista. Prestem muita atenção no título do texto. Às vezes o título é a primeira confissão, onde o autor coloca ali sua verdadeira intenção. Eu tenho alguns textos que considero autobiográficos. Outros eu imagino, invento, crio, partindo de situações reais que vivencio no dia a dia. Também me inspiro em leituras, músicas, poemas e faço uma releitura disso tudo nos meus textos. Mas que vai muito de mim em todos eles, isso é certo. 

 

SMC - Escritora Angela, hoje você participa da REBRA - Rede de Escritoras Brasileiras, assim como de algumas academias, que tipo de eventos literários vocês organizam?

Angela Ramalho - A REBRA – Rede de Escritoras Brasileiras disponibiliza para suas escritoras uma home-page que é a grande vitrine mundial de suas associadas. Além disso, cada associada tem uma apresentação virtual que é distribuída para uma lista de 30.000 e-mails pertencentes a profissionais da área literária do país e do exterior. Diariamente são disponibilizadas informações literárias por correio eletrônico, mantendo as associadas informadas sobre concursos, prêmios, feiras e congressos literários. Além disso, é um canal para as associadas divulgarem seus livros e suas conquistas literárias. O Selo Editorial REBRA permite que as associadas editem livros com descontos. Além disso, são organizadas antologias com participação das interessadas. Todas essas ferramentas são extremamente importantes para que o escritor possa mostrar seu trabalho, tanto no Brasil quanto no exterior.

 

SMC - Como membro acadêmico da ANLPB, quais as melhorias que você poderia citar para as academias brasileiras?

Angela Ramalho - Eu participo de uma Academia de Poetas que primeiro se encontraram/conheceram num portal na internet e depois formaram a ANLPPB – Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro. Nesse grupo existem representantes da maioria dos estados brasileiros. Uma vez por ano nos encontramos num Encontro Nacional e a cada seis meses o grupo se encontra para reuniões. Discutimos a poesia contemporânea, organizamos coletâneas, participamos de feiras e eventos literários, organizamos e/ou participamos de saraus de poesias e ao mesmo tempo conhecemos pessoas do Brasil todo que comungam da mesma paixão: a poesia! Não tenho conhecimento do que fazem outras academias, mas presumo que todas devem trabalhar pela difusão da literatura em geral.

 

SMC - Que dica você dá as pessoas que estão iniciando carreira como escritor?

Angela Ramalho - Eu digo que acreditem em si mesmas e sigam em frente. Eu não teria feito nada se não acreditasse em mim. Sou minha maior fã! Quando escrevo algo que considero uma “obra prima” digo a mim mesma: Caraca Angela, tú é boa nisso! (risos). Costumo aconselhar aos jovens escritores que leiam! Leiam muito! Eu li de tudo: autores diversos com seus diferentes estilos e isso foi fundamental para a minha formação. A leitura amplia a visão de mundo. Abre-nos um leque para visualizarmos de forma mais abrangente a realidade que nos cerca. Além disso, a leitura de vários estilos de textos é que vai nos capacitar para a escrita, ampliando o nosso vocabulário e nos proporcionando mais segurança para escrever. Ler e escrever sempre! Este foi o melhor conselho que tive e que faço questão de repassar a quem deseja se dedicar à escrita.

 

SMC - Quais as melhorias que você citaria para o mercado literário no Brasil?

Angela Ramalho - Quanto ao mercado literário no Brasil, tem que melhorar muito! As dificuldades de um escritor iniciante são enormes! Vejo por mim. No início, tentei mandar originais para algumas editoras, mas nem me responderam. Outras não aceitavam originais de poesias e algumas nem abriam espaço para receberem originais. Eu não tinha nenhum figurão que me bancasse, muito menos conhecimento em editoras consideradas top de linha. Era apenas eu e minha vontade. Também não tinha (e ainda não tenho) paciência para sair de empresa em empresa solicitando patrocínios. Não me dispus a utilizar recursos da Lei Rouanet, por discordar de suas exigências burocráticas. Restou-me apenas uma opção: ser escritora independente ou seja, banco o meu trabalho com meus próprios recursos. Se não fizesse assim, não teria escrito nem uma linha! Penso que deveria haver no MinC um programa para incentivo ao escritor iniciante, que analisasse seus originais e lhe desse crédito para se colocar no mercado de trabalho com dignidade.

 

SMC - Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista, agradecemos sua participação, muito bom conhecer melhor a Escritora Angela Ramalho, que mensagem você deixa para nossos leitores?

Angela Ramalho - Dia desses, vi Marina Colasanti numa roda de escritores, dizer que o escritor deve ter foco. Que “modismos” vêm e vão, mas o escritor deve saber se colocar com autenticidade. Assumir uma linha e manter-se nela. Tento passar isso nos meus livros. Eu sou aquilo que escrevo. Eu me vejo nos meus textos. Eu tenho sede de viver, tenho muita energia, sou uma pessoa otimista por natureza: emotiva, romântica, verdadeira. Tento passar tudo isso nos meus escritos. Escrevo o que sinto, vejo ou ouço, sem a preocupação demasiada com métrica ou rimas. Recebo muitos e-mails de leitores que relatam terem se identificado e até chorado com meus textos. Fico feliz com essa empatia, mas torço para que tenham chorado de emoção, pois evito escrever sobre coisas tristes. Prefiro falar de amor, de alegria, de fé e de esperança, pois é isso que as pessoas mais precisam. 

 

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