Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Archimedes José Melo Marques, natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, nasceu em 24 de novembro de 1956. Formado em Direito pela Universidade Tiradentes, é delegado de polícia no Estado de Sergipe há mais de trinta anos. Na área policial, possui o curso de Pós-Graduação em Gestão Estratégica de Segurança Pública, pela Universidade Federal de Sergipe. É escritor de artigos e contos diversos nas áreas policiais e afins, publicados em sites e jornais escritos, espalhados pelos quatro cantos do Brasil e além fronteiras, com vários textos publicados em livros. “Lampião contra o Mata Sete” foi sua primeira obra literária, um livro contestação ao seu opositor “Lampião, o Mata Sete”. O seu segundo trabalho, fruto de quase oito anos de pesquisa, é a coleção “Lampião e o Cangaço na Historiografia de Sergipe”, composta de cinco volumes (até o momento somente o primeiro volume lançado), uma obra riquíssima em todos os detalhes que traz boas novidades para os amantes do tema e para a própria história do cangaço.
“O cangaço, sem dúvida, foi um movimento que marcou os nossos sertões de forma negativa na época, mas de forma positiva para a atualidade.”
Boa leitura!
Escritor Archimedes Marques, é um prazer contarmos com a sua participação na revista Divulga Escritor. Conte-nos, o que o motivou a escrever sobre o cangaço?
Archimedes Marques - Faço parte do Movimento Cariri Cangaço, na qualidade de Conselheiro. O Movimento Cariri Cangaço é o maior evento do mundo dentro do assunto Cangaço, Sertões, Nordeste e afins, que reúne anualmente mais de 300 escritores, historiadores, pesquisadores e amantes desses temas para palestras, debates, apresentações e visitas aos locais históricos. Daí, em nome disso tudo que é pura história, resolvi enveredar pela literatura cangaceira, literatura essa que já passa dos 800 títulos diferentes de diversos autores, mas ao que parece é um assunto que não se esgota, pois a cada ano descobrimos algo novo, a cada ano surge um novo autor para trazer essa história ao patamar de mais aproximada possível da verdade.
Apresente-nos “Lampião e o Cangaço na Historiografia de Sergipe”:
Archimedes Marques - Foram nove anos de atuação do bando de Lampião em terras do baixo São Francisco, notadamente em Sergipe, de 1929 a 1938.A partir de suas fortes ligações com o mandonismo local, veio a estabelecer um verdadeiro feudo sob suas ordens, instalando o terror e o medo, trazendo sofrimento para as muitas povoações e lugarejos do menor estado da federação.E é justamente dentro desse contexto que o livro procura colocar em “águas mais cristalinas” essa história, com o confronto de uma infinidade de entrevistas, debruces em arquivos públicos, documentos diversos, registros iconográficos, mapas, escritos, enfim, com novas pesquisas de campo, fazendo com que tudo pudesse estar em permanente diálogo na direção do fortalecimento da verdadeira história, ou seja, a definição mais aproximada do que realmente foi a passagem de Lampião por terras sergipanas, trazendo em seu bojo muitas novidades nunca antes publicadas.
Quais os principais desafios na construção do enredo que compõe a obra?
Archimedes Marques - Desafios há em todos os projetos de nossas vidas, e isso nos faz sair fortalecidos quando alcançados nossos objetivos. No caso em pauta, em virtude de eu exercer o cargo de delegado de polícia, fui e ainda continuo sendo criticado por muitos que confundem a coisa, ou seja, pensam que no fundo defendo Lampião, um bandido, quando na verdade defendo a história; para dizer a verdade, a grande história dos nossos sertões nordestinos, e porque não dizer, da grande história do nosso Brasil, uma história de sangue e lágrimas para multidões, mas também uma história de orgulho para tantos outros. O Major Optato Gueiros, da Força Pernambucana, inimigo e exímio perseguidor de Lampião, reconhecendo a força desse cangaceiro disse o seguinte: “Lampião foi um instrumento nas mãos de Deus para executar uma justiça que nem a polícia nem os juízes poderiam fazê-lo”.
Apresente-nos os principais objetivos a serem alcançados com a publicação de “Lampião e o Cangaço na Historiografia de Sergipe”.
Archimedes Marques - A história do cangaço sempre foi banhada em mitos, galgada em criações, mergulhada em invencionices, submergida em exageros e até mesmo estrangulada em mentiras propositais ou omissões descabidas, sem contar as tantas lendas daí surgidas, por isso é tão diversificada, tão bifurcada, possui tantas vertentes, pois além de tudo, Lampião, o símbolo maior desse tema, virou um mito, um mito, acredito, impossível de desmitificar. Desse modo, como já dito nas entrelinhas, o objetivo principal dessa obra é mostrar a história nua e crua como ela de fato ocorreu, ou pelo menos a mais verossímil possível.
Qual a passagem do livro que mais o marcou, quer seja pela pesquisa ou o momento, enquanto escrevia a obra?
Archimedes Marques - A história relativa às cangaceiras sempre foi muito intrigante. Procurar saber o porquê de pacatas sertanejas se atreverem a deixar seus lares, abandonarem seus pais, suas famílias, para viverem em eternas perseguições policiais ao lado de perigosos bandidos, sempre é uma incógnita.E é dentro desse contexto que surge o exemplo maior: Maria Bonita, a pioneira das cangaceiras, mulher de coragem e porque não dizer, “revolucionária”,pois revolucionou a sociedade machista da época, e com ela trouxe novas adeptas. E é justamente relativo a essa grande mulher que trago a maior novidade da coleção, uma novidade ocorrida dentro da cidade de Propriá, em Sergipe, uma novidade que até então pesquisador algum tinha chegado a tanto. Essa é a descoberta e passagem que mais me marcou.
Além desta obra sobre o cangaço, você tem “Lampião contra o Mata Sete”, apresente-nos esta obra literária.
Archimedes Marques - Há alguns anos um cidadão conterrâneo sergipano escreveu um livro intitulado “Lampião, o Mata Sete”, obra que infelizmente o autor esqueceu o rumo da história do cangaceirismo, e de modo diverso tentou contrariá-la, afastou o seu roteiro, escondeu os caminhos claros e andou pelas veredas. Trouxe um conteúdo que não interessa a ninguém, muito menos aos amantes, pesquisadores, curiosos da história do cangaço no Nordeste brasileiro. É patente a premeditação do enredo em busca do ataque. Do primeiro ao último capítulo a emissão de juízo de valor subjetivo pelo autor fluiu de forma tão exacerbada, que faz os pelos do leitor se arrepiarem a ponto de tamanho de sobressalto, e cair no campo da indignação, principalmente por não apresentar provas, nem mesmo indícios. Afirma o autor que Lampião era um homossexual, covarde e medroso, que nada entendia de guerrilhas; e Maria Bonita,uma mundana adúltera, mulher de muitos, tudo no sentido de desmitificá-los. Enfim, usando de perspicácia rasteira e invencionices, tenta mudar os rumos da verdadeira história. Desse modo, vendo tamanha insensatez, escrevi sua contestação: “Lampião contra o Mata Sete”, uma refutação que desmonta pedra sobre pedra a pretensão do seu opositor, que além de tudo traz um livro de todo equivocado com fatos trocados, datas erradas, nomes diferentes, erros que pululam a cada página e provam que o seu autor NUNCA FOI E NUNCA SERÁ UM VERDADEIRO PESQUISADOR.
O que mais o encanta no cangaço?
Archimedes Marques - O cangaço, sem dúvida, foi um movimento que marcou os nossos sertões de forma negativa na época, mas de forma positiva para a atualidade. De forma positiva, porque hoje milhares de pessoas vivem do comércio de livros, de escritos diversos, de utensílios, de artesanatos, de turismo, de filmes, de teatros... enfim, vivem e sobrevivem dessa história tão intrigante quanto encantadora, ou seja, o cangaço ultrapassou décadas, e por certo ultrapassará séculos. Quer encanto maior?
Onde podemos comprar seus livros?
Archimedes Marques - Infelizmente meu primeiro livro “Lampião contra o Mata Sete” já se esgotou e não lancei a segunda edição, porque o autor contraditado não lançou a segunda edição do seu “Lampião, o Mata Sete”. Já o livro atual “Lampião e o Cangaço na Historiografia De Sergipe” não se encontra em livrarias, mas pode ser adquirido em contato direto comigo pelo e-mail: archimedes-marques@bol.com.br
Quais os seus principais objetivos como escritor?
Archimedes Marques -Como não sou escritor de ficção e sim um historiador, meu principal objetivo é propalar a verdade dos fatos, para que estes sirvam de parâmetros a gerações futuras, e com isso meu nome fique marcado como dos mais sérios historiadores.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Archimedes Marques. Agradecemos sua participação na Revista Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Archimedes Marques - Como existe gosto para todos os tipos de literatura, sugiro aos amantes do tema cangaço que procurem ler os livros mais sérios, os menos tendenciosos, os menos inventivos, os menos alucinados, aqueles pesquisados e escritos por historiadores mais renomados, mais acreditados, pois só assim estaremos propagando a história mais próxima da realidade.
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