As Absurdidades do Maurício - Entrevista

As Absurdidades do Maurício - Entrevista

   As Absurdidades do Maurício

 

Por Fabio da Silva Barbosa

 

Maurício Duarte é mais uma daquelas criaturas que tive a felicidade de conhecer nem lembro como. Já faz tempo trocamos materiais e ideias. Não concordamos em tudo (e nem precisa), mas nosso ponto em comum é a insistência em se expressar e a busca por uma forma própria de perceber o mundo. Nem digo que a questão da forma própria de ver o mundo seja uma busca, mas uma limpeza, um ato de tirar tudo que distorce nossa visão, um ato de purificação. Vai saber. Talvez não seja nada disso. Indo direto ao grão, essa semana ele me passou umas informações sobre seu novo trampo (o livro Absurdidades) e sugeri fazermos esse papo que aí vai.

 

Reboco Caído - Suas produções artísticas não nasceram hoje. Conte um pouco sobre o início, as fases, as faces e a trajetória.

Mauricio Duarte - Passei a me dedicar em tempo integral às artes visuais e à literatura a partir de 2007.  Mas anterior a isso, durante minha adolescência, eu já tinha participado de um concurso literário de romance no colégio e fiquei em segundo lugar.  Depois disso escrevi mais um romance que não gostei do resultado e joguei fora.  Enquanto isso, completei o curso de desenho artístico e publicitário.  Abandonei meus escritos e finalmente entrei na UFRJ para cursar Programação Visual.  Trabalhei durante 9 anos como designer gráfico e ilustrador autônomo depois de formado. Mas não estava satisfeito.  Decidi mudar de profissão traçando um caminho meio tortuoso.  Comecei fazendo fotografias de “pseudo-ready-mades” como eu chamei, que depois eram manipulados em computação gráfica, por isso o “pseudo”.  Nesse meio tempo já tinha escrito dois contos infanto-juvenis bastante voltados para uma linha espiritualista e feito o curso de produção textual com a poeta Maria Regina Moura, na editora Canteiros.  Pude recomeçar meus escritos numa linha que ficava entre o libertário e o espiritualista.  Muita coisa aconteceu comigo na vida pessoal e tornei-me neosannyasin a partir do OSHO concomitantemente a um período longo na militância anarquista no Rio de Janeiro que depois abandonei. Tudo isso foi muita mudança junta (eu que fui católico e até hoje ainda me considero assim, seguindo o Tratado de São Dionísio do OSHO, embora não seja um católico comum). Acredito que essas transformações refletiram-se positivamente no meu trabalho, porque pude desenvolver um estilo pessoal na poesia bem voltado para a espiritualidade ou para a crítica social.  No trabalho como romancista estou finalizando o romance Os arcanos, onde um devoto chamado Nonato se torna santo em Juazeiro do Norte. Como você pode ver também a espiritualidade está presente.  Nas artes visuais parti para o expressionismo abstrato. Trabalho muito com guache e nanquim, com cores fortes e tirando proveito, muitas vezes, do acaso na realização da pintura.  Cheguei a essa fase após muito desenvolvimento em arte figurativa que passou a não me dizer muito, pelo menos por enquanto.

 

Reboco Caído - Explicando sobre o novo livro você disse: “Absurdos em profusão. 35 reflexões e histórias curtas sobre o ocaso da existência e a esperança - ou a desesperança - de um universo em profunda transformação.” Fale mais sobre essa ideia.

Mauricio Duarte - Acredito que o mundo está passando por profundas transformações em todas as instâncias, tanto na política, no social (vemos a Primavera Árabe, vemos os grandes conglomerados empresariais e especulativos dominando e, ao mesmo tempo, demonstrando toda a sua incompetência e a falência do sistema mesmo, vemos uma agenda que prevê um governo mundial que faria a nossa globalização parecer brinquedo de criança) quanto no mundo intrapsiquico das pessoas.  A Nova Era chegou e trouxe uma série de questionamentos.  Todo esse caldo cultural está no Absurdidades, enfocando, muitas vezes, nos desvalidos, aqueles que a sociedade esqueceu ou que estão à margem de alguma maneira.  São textos curtos e alguns, quase telegráficos, que originalmente eram poesia, mas que comecei a ver que não funcionavam assim, por isso adaptei para prosa poética.  O resultado me agradou porque não é cansativo. São 63 páginas que podem ser lidas numa viagem longa de ônibus, por exemplo.

 

Reboco Caído - Como se deu a organização do livro?

Mauricio Duarte - Como eu disse, originalmente os textos eram poesia.  Mas como vi que a maioria deles contava uma história ou era uma reflexão mais do que partiram de uma elaboração rítmica ou melodiosa de versos, resolvi adaptá-los para prosa poética, o que me deu a liberdade de acrescentar ou, às vezes, até diminuir o conteúdo.  Escrevi todos esses textos no meio do ano passado e os adaptei no final do ano passado e começo do corrente ano. Fiz o design de página imaginando uma fluidez, por isso utilizei um corpo 12 nos textos corridos e um corpo 14 nos títulos com a tipologia Cambria.  O design de capa leva a ilustração de um detalhe da minha obra de arte expressionista abstrata Contextura, realizada com guache e nanquim sobre tela em 2013.

 

Reboco Caído - Sua escrita na atual obra:

Mauricio Duarte - Posso dizer que cheguei a uma síntese na minha escrita nesse livro.  Dizer só o essencial, só o que não pode deixar de ser dito.  Alguns textos soam como desabafo em meio ao caos urbano que vivemos e o descaso desse governo – e de muitos outros na história do Brasil – para com a educação, a cidadania, a própria dignidade de ser humano de muitas pessoas.  Apesar disso, há também muitos textos divertidos, num sentido irônico e reflexivo, onde tento deixar o desassossego como legado para o leitor que vai construir a sua própria conclusão do que leu.  Espero que meus leitores apreciem o livro tanto quanto eu apreciei escrevê-lo.

 

Reboco Caído - As dificuldades de se trabalhar com arte e cultura:

Mauricio Duarte - As dificuldades são enormes, sobretudo aqui no Brasil, onde a cultura e a arte são vistas em segundo, terceiro plano.  Se você vai tentar escrever um projeto para pedir apoio financeiro dos órgãos federais, você esbarra na burocracia e na má vontade, fora a corrupção, que não estou nem citando.  Porque para que seu projeto seja aceito, tem que ter “quem indica”, tem que ser encaminhado por um produtor cultural dos bons que tem contatos, que vai cobrar não menos do que R$ 1.000,00 para fazer isso.  E está certo.  Não está errado.  Mas isso já peneirou 99% de muitos projetos que nem sequer vão ser lidos.  As livrarias pequenas e médias que deveriam ser incentivadas porque tornam a leitura uma verdadeira aventura e não essas caixas de Harry Potter e não sei quantos Tons de Cinza das megastores que deixam todo mundo sem opção.  Não acho ruim Harry Potter, mas também não acrescenta nada.  Para não dizer que não fiz nenhum elogio, o governo do Estado do Rio está fazendo um projeto bom de livros a R$ 2,00 e, no máximo, R$ 3,00 nas livrarias do Poupa Tempo.  Mas é um programa limitado e sem muita divulgação.

 

Reboco Caído - Ler ou não ler Absurdidades?

Mauricio Duarte - Olha, o livro é para quem tem noção de que a nossa realidade está mudando e que absurdos estão tomando conta da nossa vida constantemente.  Mas se há alguma poesia nisso, ela tem que vir de dentro de cada um de nós, temos que descobrir o poético em cada não que recebemos da vida ou em cada tristeza que passam nossos irmãos pedintes e sem-teto nas ruas, por exemplo.  Se há alguma poesia nisso é uma espécie de poesia maldita.  Leia Absurdidades se você acha que o mundo pode ser um lugar melhor ou mesmo se a esperança já te abandonou, porque pensar não faz mal a ninguém e o absurdo da vida é que não querem que nós pensemos, nos querem ignorantes e fáceis de manipular.  

 

Absurdidades

Número de páginas: 63

Edição: 1(2015)

Formato: A5 148x210

Coloração: Preto e branco

Acabamento: Brochura c/ orelha

Tipo de papel: Offset 75g

Para leitura online: 

https://www.recantodasletras.com.br/e-livros/5114637

Link dessa entrevista: https://rebococaido.tumblr.com/post/109385711280/as-absurdidades-do-mauricio

 

 

 

 

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