Ascenso Ferreira - por Eduardo Garcia

Ascenso Ferreira

Poeta pernambucano

 

Ascenso Ferreira (1895-1965) foi poeta brasileiro. Um grande folclorista pernambucano. Sua poesia é considerada um dos marcos do Modernismo brasileiro.

Ascenso Ferreira (1895-1965) nasceu em Palmares, Pernambuco, no dia 9 de maio de 1895. Filho de Antônio Carneiro Torres, comerciante, e de Maria Luísa Gonçalves Ferreira, professora primária. Perdeu o pai aos sete anos de idade e interrompeu os estudos para trabalhar na loja de seu padrinho. Aos 13 anos escreveu seus primeiros sonetos.

Iniciou sua carreira literária no jornal A Notícia de Palmares, com o soneto "Flor Fenecida", em 1911. Sofreu perseguição política por ser abolicionista e mudou-se para o Recife. Em 1912 começou a colaborar com jornais do Recife. Foi escriturário da Secretaria da Fazenda, tinha grande rivalidade com o também poeta e fazendário Jaime Cruz, conterrâneo e cunhado. Em 1921 casa-se com Stela de Barros Briz.

Em 1922, o Recife vivia uma época de intensa vida literária. Iniciou sua colaboração com os jornais Diário de Pernambuco e A Província. Tornou-se amigo de Joaquim Cardoso e Gilberto Freire. Apesar disso, opôs-se ao modernismo, que chegava ao estado. Logo, porém, se aproximou da Revista do Norte, porta voz dos modernistas no Nordeste. Em 1926 publica "Lusco Fusco", seu primeiro poema modernista.

Em 1927 edita "Catimbó", seu primeiro livro. Em 1928, aproxima-se do grupo paulista e faz amizade com Mário de Andrade, enquanto no Recife havia uma grande rivalidade entre os regionalistas e os modernistas. Escreveu para os periódicos Mauricéia, Revista do Norte, Revista de Pernambuco e Revista de Antropofagia.

Ascenso Ferreira era uma figura exótica, gordo, alto e sempre com um chapéu de abas largas. Era um boêmio que recitava seus versos com grande personalidade e graça. Em 1945, aos 50 anos passa a viver com a adolescente Maria de Lourdes Medeiros, com quem teve uma filha, em 1948.

Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira faleceu no Recife, no dia 5 de maio de 1965.

Obras de Ascenso Ferreira

Catimbó, 1927
Cana Caiana, 1939
Xenhenhém, 1951
Poemas, 1951 (reunindo os três livros)
O Maracatu, 1986, póstuma
Presépios e pastoris, 1986, póstuma
Bumba Meu Boi, 1986, póstuma

                                                                                                                                                                                                     Fonte

https://www.e-biografias.net/ascenso_ferreira/

 

 

 

É antologiado por Manuel Bandeira

 

Algumas Poesias

 

Filosofia
 

(A José Pereira de Araújo - "Doutorzinho de Escada")


Hora de comer — comer!
Hora de dormir — dormir!
Hora de vadiar — vadiar!
 

Hora de trabalhar?
— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

Publicado no livro Cana caiana (1939).
In: FERREIRA, Ascenso. Poemas: Catimbó, Cana Caiana, Xenhenhém. Il. por 20 artistas plásticos pernambucanos. Recife: Nordestal, 1981

 

A cavalhada

Fitas e fitas...
Fitas e fitas...
Fitas e fitas...
Roxas,
verdes,
brancas,
azuis,

Alegria nervosa de bandeirinhas trêmulas!
Bandeirinhas de papel bulindo no vento!...

Foguetes do ar...

— "De ordem do Rei dos Cavaleiros,
a cavalhada vai começar!"

Fitas e fitas...
Fitas e fitas...
Fitas e fitas...
Roxas,
verdes,
brancas,
azuis...

— Lá vem Papa-Légua em toda carreira
e vem com os arreios luzindo no sol!
— Danou-se! Vai tirar a argolinha!

— Pra quem será?
— Lá vem Pé-de-Vento!
— Lá vem Tira-Teima!
— Lá vem Fura-Mundo!
— Lá vem Sarará!
— Passou lambendo!
— Se tivesse cabelo, tirava!...
— Andou beirando!...
— Tirou!!!
— Música, seu mestre!
— Foguetes, moleque!
— Palmas, negrada!
— Tiraram a argolinha!
— Foi Sarará!

Fitas e fitas...
Fitas e fitas...
Fitas e fitas...
Roxas,
verdes,
brancas,
azuis...

— Viva a cavalhada!
— Vivôô!!!

— De ordem do Rei dos Cavaleiros,
a cavalhada vai terminar!

Publicado no livro Catimbó (1927).
In: FERREIRA, Ascenso. Poemas: Catimbó, Cana Caiana, Xenhenhém. Il. por 20 artistas plásticos pernambucanos. Recife: Nordestal, 1981
 

 

"Oropa, França e Bahia"
 

(Romance)

Para os 3 Manuéis:
Manuel Bandeira
Manuel de Souza Barros
Manuel Gomes Maranhão


Num sobradão arruinado,
Tristonho, mal-assombrado,
Que dava fundos prá terra.
( "para ver marujos,
Ttituliluliu!
ao desembarcar").

...Morava Manuel Furtado,
português apatacado,
com Maria de Alencar!
 

Maria, era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar...

A vida de Manuel,
qque louco alguém o dizia,
era vigiar das janelas
toda noite e todo o dia,
as naus que ao longe passavam,
de "Oropa, França e Bahia"!

— Me dá uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
— Estás idiota , Maria.
Essas naus foram vintena
Que eu herdei da minha tia!
Por todo o ouro do mundo
eu jamais a trocaria!
 

Dou-te tudo que quiseres:
Dou-te xale de Tonquim!
Dou-te uma saia bordada!
Dou-te leques de marfim!
Queijos da Serra Estrela,
perfumes de benjoim...
 

Nada.
A mulata só queria
que seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a mais pichititinha,
prá ela ir ver essas terras
"De Oropa, França e Bahia"...
 

— Ó Maria, hoje nós temos
vinhos da quinta do Aguirre,
uma queijadas de Sintra,
só prá tu te distraire
desse pensamento ruim...
— Seu Manuel, isso é besteira!
Eu prefiro macaxeira
com galinha de oxinxim!

"Ó lua que alumias
esse mundo de meu Deus,
alumia a mim também
que ando fora dos meus..."
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus.
 

"Eu sou mulata dengosa,
linda, faceira, mimosa,
qual outras brancas não são"...
Cantava forte Maria,
pisando fubá de milho,
lentamente no pilão...

Uma noite de luar,
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul...
— Ah! Seu Manuel, isso chega...
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul.

— "Onde vais mulhé?"
— Vou me daná no carrosé!
— Tu não vais, mulhé,
— mulhé, você não vai lá..."
 

Maria atirou-se n´água,
Seu Manuel seguiu atrás...
— Quero a mais pichititinha!
— Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido da minha tia !
Vêm dos confins do mundo...
De "Oropa, França e Bahia"!
 

Nadavam de mar em fora...
(Manuel atrás de Maria!)
Passou-se uma hora, outra hora,
e as naus nenhum atingia...
Faz-se um silêncio nas águas,
cadê Manuel e Maria?!

De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia...
Seu Manuel era um "Boi Morto",
Maria, uma "Cotovia"!

E as naus de Manuel Furtado,
herança de sua tia?

— continuam mar em fora,
navegando noite e dia...
Caminham para "Pasárgada",
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que, ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia!

— As eternas naus do Sonho,
de "Oropa, França e Bahia"...


                                                                                                       Fonte

https://www.jornaldepoesia.jor.br/af.html

 

A poesia de Ascenso é considerada um baluarte do Modernismo brasileiro. Sua obra tem conteúdo marcado pela saudade da antiga região açucareira, dado que havia grandes mudanças, quando os engenhos davam lugar as novas usinas. Homem da noite, sempre recitava seus versos, acompanhado do inseparável chapéu. Grande folclorista, se opunha ao Modernismo, embora regionalista mais tarde ao conhecer Mário de Andrade o incorporou. Sofreu perseguições políticas pelo fato de ser abolicionista. O grande valor se destaca quando é Antologiado por Manuel Bandeira

 

Comentários e Pesquisa

Luis Eduardo Garcia Aguiar

 

Publicado em 16/03/2014

 

Conheça outros parceiros da rede de divulgação "Divulga Escritor"!

 

           

 

 

Serviços Divulga Escritor:

Divulgar Livros:

 

Editoras parceiras Divulga Escritor