Bêbado - por Elisa Pacheco

Bêbado - por Elisa Pacheco

 Bêbado

 

Vivia deitado num banco de praça

Abandonado

Embriagado

Bebendo cachaça

Sem destino, sem fé e sem raça

Sentia o cheiro da fumaça

Do churrasquinho da esquina

Ficava olhando

Os meninos e as meninas

Brincando de pega-pega

No balanço

No escorrega

Observava as desgraças

Os assaltos

Os atropelamentos

Tombava no asfalto

Sentia o clima

Todas as mudanças do tempo

Dormia com o sol

Sonhava com a lua

E acordava com o vento

Tinha muitos pensamentos

Queria ser marinheiro

Pedreiro

Pintor

Jogador de futebol

Pescador

Pensava em se apaixonar

Conhecer o amor

Dormia de pé

Sonhava sentado

Caía no chão

Feito um beberrão

Todo torto, esclerosado

Tomava sua pinga

Sentia o estômago embrulhado

Tinha ginga

Queria namorar uma gringa

Tocava violão sem corda

Desdentado

Estava na moda

Bêbado

Contava as estrelas

As gotas de chuva

Dizia que era solteiro

Apaixonado por uma viúva

Maltrapilho

Catava papel e latinhas

Comia uva passa e pão com sardinha

Que juntava do lixo

Homem

Mendigo

Bicho

Nômade

Um andarilho

Andava descalço

Usando um chinelo

De palha de milho

Sentia frio,

Fome

Ninguém sabia seu nome

João, Carlos, José?

Tinha piolho, sarna e frieira nos pés!

Vagava como um vaga-lume

Perseguindo o perfume dos pessegueiros

Caçando a luz do sol

No inverno de Julho

No verão de Janeiro

Permanecia parado

Meio tonto

Desmiolado

Desmaiado sobre as manchetes do jornal

Não sabia dizer

Quando era Páscoa!

Quando era carnaval!

Cantava Jingle Bells no Natal

Discutia com qualquer pivete

Sentado numa mesa de bar

Rebolava

Imitando a Gretchen

Mascava chicletes vencidos

Falava com amigos imaginários

Loucos

Salafrários

Não tinha dinheiro

Não tinha salário

Nem horário pra nada

Trocava umas ideias

Com um tal de seu guarda

Guardava a noite

E o universo

Sabia recitar alguns versos

De poemas de ninguém

Sonhava

Com uma caipirinha de maracujá

E uma nota de cem

Tropeçava

Dançando no fio da calçada

Caboclo d`água

De braguilha aberta

Sua sorte era incerta

Roncava sempre de boca aberta

Deixando o ar assoviar

A bebida esparramar

Entrando por sua goela

Atravessando sua garganta magricela!

 

 

 

 

 

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