Carta a alguém distante... - por Maria de Fátima Soares

Carta a alguém distante... - por Maria de Fátima Soares

CARTA A ALGUÉM DISTANTE…

 

Amor, meu amor distante!

 E completamente impossível. Não fosse este sentimento que te dedico, feito de penas e esta carta não teria asas para te chegar. Querendo que as tenha, meu idolatrado, duvido que certamente te encontre, pois daqui não sairá, tal como o amor que aqui te confesso me sela os lábios de cada vez que quero pronunciar o teu nome. Ah! Pudesse eu um dia tocar-te ao de leve a pele do rosto, com os meus olhos. Orlar a linha do teu maxilar com as minhas esperanças. Depositar no teu cabelo, os beijos cheios de paixão que não ousaria dar-te na boca, ou perder-me-ia para sempre nos teus braços, fazendo da minha sina mais perdida, que já é.

 

Amor, meu amor distante…

 

Não sonhas que aqui num canto, alguém te evoca. Por ti sofre, num querer que bem lhe sabe e mal descreve, pois tudo o que diga fica aquém, de tudo o que diria se pudesse gritá-lo em voz alta. Canto-te em palavras! Cravo-te fundo na alma, alimento-te como a flor, inebriando-me num perfume raro, que envolve de eloquência um coração destroçado, a viver cativo dum amor totalmente dedicado. Desinteressado! Do todo que poderias dar-me, entregando-se sem reservas.

 

Amor, meu amor distante…

 

És a Lua da minha noite solitária. A chama da minha vela. Voz no meu silêncio. O sangue! És-me o sangue escorrendo quente, numa paixão vigente, que de perpétua não me abandona. Ser-me às, a tinta da minha pena. O ar que mantêm viva e a luz dos meus olhos. Ai, meu amor! Parto-me em pedaços fazendo um esforço inglório para me manter inteira. É tão ingrata e trágica esta condição de permanecer anónima, desejando revelar-se. Estrangular o desejo que me flui na pele… Amordaçar os motivos que escondo e não conto, pois não sei se seria aceite, ou não, por ti este afecto. Sinto-me febril na suposição de, caso me amasses…

Que venturosa seria! Não, não sei como reunir todos os pedaços que pelos cantos deixo. Conter os ais e suspiros, que solto como uma sombra patética, lembrando as heroínas de antigamente. Mas… Como posso almejar retorno para o que sinto, se o desconheces? E como suportaria se na tua face se desenhasse um sorriso, de desprezo ao revelar-to? Quedo-me então num canto desesperada a escrever cartas e cartas, que amarfanho e recuso, presa a um receio de ser recusada… Não ouso aparecer-te, ou uma de elas remeter-te, esperando na volta que a minha vida faça sentido, quando todo o sentido nela és tu.

Por certo definharei com o teu nome nos lábios. Ridículo se faz que seja neste século. A esta altura… Que alguém ame como amaram os que a precederam. Sonhe e pene como eles penaram, por alguém que idolatra e nunca saberá que assim foi estimado. Despeço-me em preces, que pouco farão por quem acções, não tem.

 

Amor, meu grande amor distante… 

Queira Deus que um dia possa ao menos, ser-te presente na minha morte, este testemunho de todo o amor que te foi dedicado em vida.    

 

publicado em 02/06/2014

 

 

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