CARTA ABERTA
É para ti, mulher que escrevo. Mulher, que vives num recanto da vida, sem luz, escuro de solidão, amargo de risos sem cor.
Para ti, camponesa que vives alicerçada no esforço do teu trabalho árduo e tens como salário a ignorância, que os grandes políticos te atribuem.
Para ti, que te levantas quando o sol dorme ainda tranquilo, e repartes o pão escasso pelos teus filhos.
Ao ver-te fico a pensar…
Por que te fechas nesse silêncio, por detrás dessa janela em ruínas!?
Por que te encerras nesse massacrar de vida!?
Por que te limitas!? Por que olhas, apenas!?
Por que não corres pelas ruas exigindo o que te pertence!?
O mundo cortou os laços para a solução do teu desconhecimento.
És tu e serás sempre tu mesma!?
E tu, mãe solteira, mulher e mãe como todas as outras.
Por que não espalhas em teu redor o amor que tens para oferecer!?
Por que esta solidão que te abarca!?
Que tristeza é essa que acompanha o teu olhar!?
Abre-te ao mundo, exige que te oiçam, que te saibam compreender.
Por que… afinal… não vives!?
Abandona essas ruínas, essa janela de calvário e vem viver!...
Não assistas apenas à vida, mas vive!
E tu, prostituta, que te entregaste a um mundo apedrejado, enxovalhado, roto e atormentado pelos gritos da emergência. És uma mulher, onde os olhos viram sempre a desgraça. A solidão dessas mulheres, rodeadas por uma multidão estéril.
O teu mundo é um disfarce. Ris quando a alma chora e lavas o rosto no orvalho das tuas lágrimas.
Saíste do teu lar, quem sabe? Talvez com um fato roto, pés no chão e cansados.Olhos molhados e um grito abafado na alma. Por fim suspiraste e respiraste um ar que pensavas ser puro. Como sempre não foi possível compreender.
Para ti, mulher, que és vítima de violência doméstica e vives sufocada nesse medo constante. Abre essa janela, grita e denuncia.
Por fim, ergue a bandeira do teu alívio.
Para ti, mulher, que conseguiste vencer a batalha da emancipação, continua a lutar pelos nossos direitos. As mulheres.
Maria de Lurdes Silva Maravilha
Publicado em 14/03/2014