Por Pedro Mello Antunes
Passeando pelo novo escritório da Chiado Books, em Lisboa, podemos ver aqui e além, espalhados um pouco por todas as secretárias, diversos livros. Se não é de espantar que aqui seja fácil falar de livros, de publicação, do gosto pelas capas, pela escrita, uma ideia começa no entanto a desenhar-se: ninguém parece gostar muito de comparações. “Não acho que possamos ser comparados com mais nenhuma empresa no mundo do livro”, diz Sarah Hamid, do Departamento Comercial, “está no nosso ADN essa liberdade para desenharmos uma identidade própria. Somos a Chiado Books, simplesmente!”. E este fio de raciocínio parece prosseguir de forma natural, quando começamos a falar com o fundador da Chiado Books, Gonçalo Martins: “O nosso percurso é único. A Chiado começou há 10 anos com o propósito de ser uma editora lisboeta. Entretanto tornou-se numa marca internacional! Como é que tudo isto foi possível? Quebrando os monopólios, e o circuito atávico de compromissos e interdependências que estavam instalados no panorama editorial, e que bloqueavam e suprimiam a liberdade de criar algo diferente, algo que nessa área fosse único, precisamente”.
A ideia de quebrar as regras do jogo para se libertar parece ser a base do segredo deste crescimento. Essa ideia resiliente, que soa em todas as conversas com elementos da Chiado e em toda a descrição da história da empresa: a ideia de liberdade. O princípio de não haver dependência em nenhuma parte do circuito editorial. Foi certamente essa ideia que esteve na base da criação de meios gráficos próprios. Parecem longínquos os anos em que a empresa se debatia com alguma falta de espaço num pequeno escritório na zona de Santa Apolónia, com duas pequenas máquinas de impressão. A Unidade Gráfica da Chiado, agora instalada na Portela de Sacavém, tem hoje dezenas de máquinas especializadas e emprega mais de 30 trabalhadores, assegurando a impressão e acabamento próprios de cada livro da Chiado.
Parece ser essa também a ideia que preside às novas instalações da Chiado, em Alcântara. Com Bar, Livraria, Restaurante, Auditórios e Escritórios, a ideia de criar um circuito próprio e integrado, pela primeira vez numa ideia de conjunto, parece materializar o sonho de trilhar um caminho próprio. Da concepção, ainda numa fase digital, dos livros, até ao lançamento e apresentação dos mesmos, todas as fases do circuito são possíveis de concretizar, num só edifício, que parece materializar o sonho de futuro da Chiado Books. Voltaremos a ouvir falar do futuro, nesta viagem.
“Nós somos feitos dos nossos autores. Eles são o nosso núcleo vital!”, começa por defender César Adão, do Departamento de Comunicação, instado a definir a Chiado Books. Tentamos então seguir essa ordem de ideias, não perdendo de vista a pergunta inicial. Então quem são eles, os autores da Chiado? Como defini-los? “Não creio que seja possível definir os autores que publicamos como um todo, concreto. São um grupo absolutamente heterogéneo e profundamente representativo, em todos os aspectos. Nos lançamentos encontramos autores que no seu livro encontraram uma forma de ultrapassar uma dor pessoal, outros que querem apresentar uma tese académica ou profissional, muitas vezes absolutamente original, a que mais ninguém quis dar voz, outros estão a concretizar um sonho. Mas há muito mais para além disto.”, conclui.
“Lembro-me de percorrer Lisboa com uma mochila cheia de livros, que ia deixando nas livrarias independentes da cidade. A realidade das grandes cadeias de distribuição não estava ainda generalizada, e o Facebook, onde hoje temos milhões de seguidores, não era ainda utilizado pela grande maioria das pessoas, por exemplo.”, recorda Gonçalo Martins. Mas deste pequeno apontamento de passado, talvez mais afectivo, quase caricatural, que propriamente saudosista, o fundador da Chiado Books, volta imediatamente ao tempo que lhe parece ser mais familiar: o futuro. “O crescimento da Chiado passará pelo seu estatuto cada vez mais global. Quando aquela capa do “The Economist” de 2009 saudou o Brasil como um país do futuro, já sonhávamos com a nossa presença no Brasil. Montámos o nosso escritório em São Paulo, no Conjunto Nacional numa viagem relâmpago, porque acreditávamos que o Brasil pertence ao futuro, tal como nós. E continuamos a acreditar nisso!”.
Segundo as estimativas de Gonçalo Martins, no volume de trabalho da Chiado Books, o Brasil não tardará a superar Portugal. Mas para além do Brasil, a empresa tem já uma presença, com perspectivas de crescimento, por todos os países da América do Sul e da América Central.
Mas se a Chiado Books é já o presente, o seu fundador não parece, uma vez mais, muito deslumbrado com essa ideia, para logo denunciar de novo a sua verdadeira obsessão: “Não sabemos do que é feito o futuro, mas será sem dúvida feito da mesma matéria que nós. Nós queremos antecipar, criar o caminho. E isso não é possível se vivermos obcecados com comparações, ou presos a uma ideia de passado. Só pode ser parte do futuro quem nunca o perde de vista!”.