Conceção de Escola
Durante muito tempo acreditou-se que a escola poderia ser pensada e organizada segundo um modelo herdeiro de um sistema social, racional, formal, impessoal e profissional, sendo o ideal burocrático um modelo que melhor satisfazia o sistema. Ele estabelecia normas concebidas pelo centro político e administrativo, procedia à divisão do trabalho, normalizava o que se devia fazer, acreditava na hierarquia, na autoridade única do superior defendendo a profissionalização, a selecção e a promoção segundo a competência técnica, de forma a controlar o sistema. O objetivo principal era verificar se as regras e normas estavam a ser cumpridas e não a qualidade dos processos e produtos.
A concessão de uma maior importância à escola como organização constitui sem dúvida, uma das evoluções mais significativas dos sistemas educativos principalmente a partir dos anos oitenta, merecendo referência o facto de se ter generalizado a “escolaridade” como forte pilar para o desenvolvimento pleno das sociedades.
Recentemente a Sociologia das Organizações situa a sua análise numa mesoabordagem, atribuindo à escola e ao estabelecimento de ensino uma nova dimensão. O estabelecimento de ensino passa a ser valorizado, como espaço organizacional, onde se realiza a atividade pedagógica e onde os atores tomam decisões importantes a vários níveis, de acordo com a sua própria identidade e dentro da autonomia de que são dotados.
Com a evolução da escola e das alterações das suas funções concretas, que deixaram de ser meramente instrucionais – atualmente a escola não tem só como objetivo a instrução, mas a educação em termos gerais – para serem também culturais, socializadoras, personalizadoras e outras. A escola passou a ser um tempo, um espaço e uma modalidade de relações sociais.
Hoje a escola é uma organização específica onde se passa a maior parte do tempo, promovendo a cultura e a educação. Perante esta revelação, a organização escolar viu-se perante a situação de pensar e ter de construir uma resposta pedagógica, cientifica, cultural e organizacional capaz de satisfazer uma população social e culturalmente heterogénea.
Acredito que a construção de uma escola de qualidade ao serviço de uma melhor educação para todos, exige uma política fundada na autonomia, na liberdade, na participação, na responsabilização e na prestação de contas. Exige a aprendizagem do poder e do saber e uma mudança cultural. Esta mudança só é possível com uma política que atribua prioridade aos homens em detrimento dos procedimentos e das regras formais.
Maria de Lurdes da Silva Maravilha
Publicado em 03/05/2014