Conceição Carraça - Entrevistada

Conceição Carraça - Entrevistada

Por João Paulo Bernardino – Escritor

 

Nasci e cresci no Alentejo, mais propriamente em Santiago do Cacém, no ano 1956.a 17 de Dezembro. Descendo de uma família humilde, mas honesta e trabalhadora. Parei os estudos aos 17 anos, altura em que fiquei órfã de pai, e resolvi trabalhar. Mas nunca abandonei os livros, a leitura, era uma viciada por livros, ao ponto de guardar o dinheiro das refeições para os poder comprar. Nunca me tinha passado pela cabeça escrever, aconteceu em Janeiro de 2014, de repente escrevi um texto, e a partir desse dia escrevo diariamente.

 

“Mas o melhor de tudo seria a minha homenagem ao herói da minha vida: o meu pai! A única pessoa que acreditava nas minhas capacidades e me incentivava sempre. A pessoa que mais me marcou na vida.”

 

Boa Leitura!

 

JPB – Os nossos agradecimentos por aceitar amavelmente o convite para nos conceder esta entrevista à DIVULGA ESCRITOR. Sei que começou a escrever ainda este ano de 2014, essencialmente poesia. Já participou em algumas colectâneas com trabalhos poéticos e foi entrevistada em algumas rádios locais. Como se sente a Conceição com esta sua nova faceta de escritora e o que pretende alcançar no futuro?

Conceição Carraça - Sinto-me muito feliz por ter a sorte de descobrir que escrever é algo que me alimenta, me faz sentir útil numa fase da vida em que me sentia desvalorizada. Estava desempregada, fechada em mim própria (e sem o saber) e muito próximo de uma depressão. O futuro não está nas minhas mãos, mas como sou uma mulher de fé, acredito que ainda serei muito feliz como escritora. Gostaria imenso que os meus leitores também sentissem o mesmo ao lerem os meus trabalhos. Adoraria editar individualmente…é um sonho que gostaria de ver realizado. Gostaria que o meu trabalho servisse para divulgar a poesia junto dos jovens, que são o futuro, não como uma “coisa massuda”, mas uma leitura fácil e prazerosa. Que os sentimentos passassem…a mensagem fosse entendida, que deixassem de ser os meus poemas mas os de todos os que se identificam com eles.

 

JPB – Sei que é Alentejana e isso reflecte-se nos seus poemas, talvez por nos falar muito da terra, dos cheiros, da paisagem única que parece dar-lhe esperança e abrir novos ciclos. É, na verdade, uma mulher que preza as suas raízes a ponto de as realçar fortemente nos seus trabalhos? Porquê?

Conceição Carraça – Sim! Sou uma Alentejana orgulhosa das minhas origens. Conheço bem o povo Alentejano, que mesmo o menos culto, é sensível. E penso que a maneira mais fácil de os homenagear é fazer com que descubram que a poesia é uma mensagem e que, escrita com palavras simples, chega até todos, dos mais e aos menos letrados. A poesia é cultura, a que todos devem ter acesso. Não aceito a poesia de elites, porque todos temos direito ao conhecimento e ao prazer da leitura. Muitos (e eu já fui uma delas) não liam poesia porque não entendiam. Muitas vezes as palavras usadas eram de forma tão nobre que era necessário um dicionário à mão. Penso que por isso os poetas do povo eram os que escreviam duma maneira tão simples (Aleixo, por exemplo).

 

JPB – Amar ao próximo inclui principalmente ter amor-próprio. Noto que, para si, o mais importante é ser você mesma. Considera que nem sempre a valorizam como pessoa ou como escritora ou, pura e simplesmente, porque se preocupa com tudo e todos e raramente tem o retorno da mesma moeda?

Conceição Carraça – Verdade! Amo o próximo, estou sempre na defesa dos direitos e valores em que acredito, mas para isso tenho necessariamente que ter amor-próprio. Parte tudo daí. Mas não me arrependo de ser quem sou como ser humano. Nem me conseguia ver de outra maneira… às vezes a falta de compreensão não é agradável, mas é perdoável. Acredito na lei da sementeira. Colhemos o que semeamos. Eu creio. Sou realmente muito preocupada com o que se passa ao meu redor, tenho um coração grande e muito mole, e isso muitas vezes traz-nos dissabores. Não julgo ninguém, não tenho esse direito, gosto de dar e receber força…um pequeno gesto pode fazer a diferença, mas aceito e respeito as ideias e feitios de cada um. Mas aprendi uma coisa ao longo dos ano: cada um só pode dar o que tem…Graças a Deus, eu dou mais do que recebo. Isso é positivo.

 

JPB – Há um poema seu em que diz que “é valioso o nosso tempo/impossível voltar atrás”. Todavia, se o pudesse fazer, o que acha que faria e alteraria na sua vida?

Conceição Carraça – Muita coisa seria diferente, aprendi que a vida é curta, e muitas vezes, achamos que temos tempo para tudo, e não o valorizamos. Não aproveitamos a vida como merecemos. Quando descobrimos isso, só podemos fazer do hoje o nosso melhor e esquecer as nossas falhas. Aprendi a ser mulher quando devia ser menina, quando se perde a pessoa que mais admiramos e que sentíamos que nos amava como nós éramos. O pai é o herói de qualquer menina, e o meu partiu cedo de mais. Não estava preparada para enfrentar a vida, não tinha experiência e perdi muitos anos, muitas oportunidades. Por isso hoje tenho consciência que temos que lutar contra o tempo, ele não tem volta. Mas uma coisa eu sei: nunca é tarde para recomeçar. É preciso é coragem.

 

JPB – Em 1992 aprendeu a aceitar Jesus como único salvador. De que forma a Fé restaura o seu corpo e mente e alimenta os seus poemas? Que mensagem nos quer verdadeiramente transmitir nesses trabalhos?

Conceição Carraça – Vida na sua plenitude. Esperança, Amor, Liberdade, Igualdade. Mostrar que todos somos importantes. Todos somos carentes e devemos respeitar-nos a todos como pessoas, esquecendo as origens, os ideais, os costumes e as religiões. O importante é sermos generosos uns com os outros, fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem a nós. Acreditar que o amor é o melhor dos remédios Eu sou Cristã, tento seguir a mensagem de Cristo. Paz e Amor entre os Homens. Fazer o bem, sem olhar a quem. Ajudar quem de mim precisar, tentar fazer sorrir os que choram. Proteger, respeitar e amar muito as crianças, que são seres tão desprotegidos, uns felizmente bem-amados e desejados, mas outros tão abandonados. Isto mexe muito com as minhas emoções. Sou uma mulher de afectos.

 

JPB – Escreve normalmente sobre as suas vivências e estados de alma. Como se define enquanto poetisa e o que poderemos esperar de si enquanto tal na próxima década?

Conceição Carraça – Sinceramente sei que quero continuar, crescer, aprender…possivelmente haverá diferença na escrita, mas só o tempo o dirá…Eu quero a cada dia fazer melhor…mas o futuro é desconhecido ao Homem. Lutarei…isso eu prometo, darei o meu melhor mas o futuro a Deus pertence. Mas se daqui a dez anos eu fosse reconhecida pelo meu trabalho, seria uma mulher realizada. Sentiria que tinha vencido a guerra, batalha a batalha. Seria o orgulho dos meus netos, (já o sou), mas eles são agora crianças e nessa altura serão crescidos. Mas o melhor de tudo seria a minha homenagem ao herói da minha vida: o meu pai! A única pessoa que acreditava nas minhas capacidades e me incentivava sempre. A pessoa que mais me marcou na vida.

 

JPB – Escreveu há bem pouco tempo que o mundo está diferente, as estações do ano descontroladas e que apenas nos resta amar e respeitar a vida. Sendo mãe e avó babada, que valor tem o amor na sua vida e de que forma tenta passar esse sentimento para os seus leitores?

Conceição Carraça – penso e acredito que o amor (e falo em amor sem interesse e sem esperar nada em troca, não o amor carnal) é a única arma, a grande “bomba” que poderá mudar o mundo. Só com esse amor poderá haver paz! É difícil? Eu sei, parece loucura, mas o AMOR é a solução. Acredito que quando os Homens acordarem, se ainda forem a tempo, poderão falar todos a mesma linguagem. Há lugar para todos, é preciso saber viver e aproveitar todos os momentos A vida é uma passagem, uma aprendizagem que sabemos quando começa mas não sabemos quando termina. Temos que ser rápidos não esquecer os afectos mas sim usá-los e partilhar-lhos Nada mais tem valor. Quem escreve e edita…esse deixa um pedaço de si para os que hão-de vir.

 

JPB – “Sofrer às vezes é preciso”, disse-o recentemente. Levando o tema para a literatura em Portugal, considera que os novos escritores terão de sofrer ainda mais para que vejam os seus trabalhos editados? O que faria para mudar a situação usual de ter de se pagar para se editar?

Conceição Carraça – Os escritores já sofreram até de mais com isso. Só quem tem dinheiro e se pode financiar pode editar. Isso não é admissível, para bem da Cultura Nacional. Nem para a minha maneira de ver as coisas. Isso é desigualdade e para mim não faz sentido! Revolta-me. O dinheiro não faz ninguém melhor ou pior. Ele é necessário mas não deve interferir com a cultura dum povo. Deveria haver condições de igualdade de oportunidades, pelo valor do trabalho, e não por interesses mesquinhos. A cultura é uma riqueza dum povo, não deveria ser usada como negócio de alguns. Deveria ser olhada pelo governo do país! Com coerência, e sem compadrios. Serei muito dura? É o meu ponto de vista.

 

JPB – Imagine-se daqui a vinte anos com vários livros de poesia publicados. Se os seus dois netos lhe pedissem ajuda para que lhes dissesse o que deveriam fazer para escreverem como a Conceição, que conselhos lhes transmitiria e porquê?

Conceição Carraça – Não é fácil a resposta. Mas certamente lhes diria para fazerem o que lhes desse prazer, serem eles próprios, e se o fizerem que o façam com amor. Quero que sejam felizes, e para isso têm que ser eles próprios. Ninguém é igual a ninguém. Somos todos iguais, mas sentimos diferente. Gostaria que os meus netos tivessem orgulho na avó, não só como pessoa mas como escritora, mas eu também quero ter orgulho na mulher e no homem que eles serão. Quero-os felizes e realizados, isso é o mais importante para mim. Se gostarem e tiverem o gosto pela escrita terão o meu apoio incondicional.

 

JPB – A nossa entrevista chega ao fim e agradeço-lhe toda a consideração que depositou na DIVULGA ESCRITOR e na minha pessoa. Não queria deixar passar a oportunidade para referir que pertence aos Confrades da Poesia. Explique-nos o que é isso de ser-se Confrade e o que altera ou alterou em si enquanto escritora e a sua forma de escrever?

Conceição Carraça – Ser confrade, é uma honra! Fui convidada para um círculo restrito que eu desconhecia. É mais um envolvimento, um reconhecimento e a possibilidade de mostrar o meu trabalho. Conviver e participar activamente num projecto onde a cultura é privilegiada, em especial a poesia. Para mim foi um prémio e um incentivo! Nada foi alterado a não ser a responsabilidade de cumprir com os meus deveres perante a instituição e a alegria de ver os meus trabalhos terem visibilidade. Fazem vários eventos, tenho lá a minha janelinha (página) on-line. É mais um motivo para ir em frente, ser conhecida no meio da poesia e dos poetas que fizeram o favor de me receber de braços abertos. Digo-vos uma coisa: o ano de 2014 foi um ano de grande mudança na minha vida. Eu é que agradeço. O meu muito obrigado, foi uma honra e um privilégio: bem-haja DIVULGA ESCRITOR e bem-haja Escritor João Bernardino.

 

Contatos com a escritora:

https://www.facebook.com/#!/pages/Cria%C3%A7%C3%B5es-da-S%C3%A3o/229795217144946?fref=ts

https://www.osconfradesdapoesia.com/

 

Contato com o entrevistador João Paulo Bernardino (JPB)

https://www.facebook.com/pages/Jo%C3%A3o-Paulo-Bernardino-Escritor/714362628587284

 

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