Degradação x Reconstrução - por Carmen Jacques Larroza

Degradação x Reconstrução

A porta grande e escura, se abria para um corredor comprido, que terminava em uma sala ampla com o assoalho bordado pelos cupins.
    As cortinas pesadas de veludo estavam desbotadas. Seriam vermelhas? Ou seriam laranjas? Já não se podia definir. O visível era o trabalho habilidoso das traças.    
Desenhos informes de mofo mascaravam as paredes amarelecidas. À esquerda, havia sofás e poltronas, onde almofadas puídas repousavam em sono profundo. À direita,  a mesa enorme, empoeirada, cercada por cadeiras de carvalho, esperava ansiosamente ser lembrada por alguém, que lhe servisse um jantar de gala, com as baixelas e talheres de prata, louças de porcelana pura e taças de cristal importadas da Europa; como nos velhos tempos da senhora.
Mais ao fundo, as portas que davam acesso à biblioteca, à sala de jogos e ao salão de festas. Neste, um piano alemão carcomido, de teclado amarelecido recordava os saraus disputados pela  sociedade aristocrata local. Apesar do tempo transcorrido, ainda sentia as suaves carícias dos dedos ágeis da senhora ou da menina, as quais correspondia, envaidecido, com sonatas e valsas, enquanto os pares elegantemente trajados, rodopiavam e aplaudiam querendo mais. Pareciam saber que dentro em breve, a Modernidade e a Revolução Industrial tudo extinguiria. Inclusive patrimônios latifundiários, herdados de antepassados e adquiridos a custa de muitas vidas inocentes, de muitos órfãos e viúvas, de degolas, de troncos e de senzalas.
O casarão ou palacete anfitrião de muitas festas luxuosas e de hóspedes nobres, vindos de navio de além mar;  também foi testemunha de estupros, orgias, de hipócritas senhores e senhoras de alta reputação e estirpe, e de abusos de meninas e  mulheres escravas obrigadas a “aceitar” e calar. Ali, tudo era permitido aos donos do poder político e sócio econômico.
Contudo, diz a sabedoria popular, que “não há bem que sempre dure e nem mal que nunca se acabe”. E tudo se acabou.
Hoje, as melodias cederam lugar ao chirriar das corujas e ao farfalhar dos morcegos. Os habitantes dali pereceram. Partiram. Para o inferno? Ou se arrependeram obtendo misericórdia e perdão? Só Deus o sabe. A nós, não nos cabe saber. O que nos cabe é não sermos, jamais, um casarão aparentemente, luxuoso.  É não permitirmos que corujas chirriem e nem morcegos farfalhem no interior de nossa alma, onde ninguém penetra. Ninguém penetra. Será?
Infelizmente, os casarões se foram, mas deixaram em seus lugares becos, guetos, matas e até casas que ainda propiciam violência físico-psicológica, estupros, e assassinatos, nos quais as mulheres continuam sendo a maioria das vítimas, apesar de “Maria da Penha”. Os “nobres” cederam seus lugares aos covardes sem caráter.
Mas, aqui fica um apelo: Mulher, não te intimida. Busca o pouco de força que te resta e luta, por amor a ti, a teus filhos e ao futuro que deseja te sorrir. Tens muito valor, por isso não sucumbe.
Precisamos demolir os casarões e construir casas  simples, porém abertas aos olhos de todos. Essas casas bem cuidadas e ocupadas por Quem de direito, transformam-se em templos abençoados, acolhedores, virtuosos e de moradores felizes. Só depende de nós, já que temos o livre arbítrio para decidir.
Abaixo os casarões que ainda insistem com seus entulhos! 

 

 

 

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