Desaniversário - por Adriana Freitas

DESANIVERSÁRIO

 

            Hoje faz um ano que te vi pela última vez. Não sei se o que sinto é mágoa ou saudade. A saudade eu descarto, porque se deve sentir saudade do que foi bom. Dos momentos verdadeiros que vivemos.

            E por falar em verdades lembro-me da peça do fabuloso Nelson Rodrigues “Perdoa-me por me Traíres”, este título sempre me chamou atenção, como se pedir perdão por ser traído? E quando penso em traição é inevitável não pensar em você.

            Como não? Você me traiu, não por ter ficado com outra. Esse ato por si só já dói demais. Dói quando percebemos que o não ter mais a pessoa dói mais do que a traição. Na verdade, hoje, acredito que nunca te tive de verdade. Você me traiu quando disse que me amava. Você me traiu quando dizia pensar em morar comigo. Você me traiu por alimentar um sentimento que nunca existiu.

            E quando eu não servia mais, friamente com apenas uma ligação você encerrou toda a história. Descartou-me como se descarta papéis velhos, roupas surradas, objetos obsoletos que só preenchiam um espaço qualquer.

            Gostaria, também, de descartar a mágoa. Esse tipo de sentimento adoece o corpo, empaca a vida, não traz benefício nenhum. Apenas aprisiona a pessoa e lhe impede de seguir adiante. E hoje eu posso te dizer que consegui avançar.

            Hoje eu não sou mais aquela que acredita em palavras ditas em quatro paredes. Não em qualquer palavra. Eu prefiro acreditar em olhares, eu prefiro acreditar nas ações, no que eu posso enxergar e sentir.

            Talvez eu nunca tenha te amado. Isso é quase uma certeza. Eu fui apegada a uma projeção que ilusoriamente enxerguei. Ao que você me fazia sentir. Ao que ingenuamente sonhei em ter um dia.

            Hoje eu posso dizer que te exorcizei de mim. Nem mágoa nem saudade. Poderia dizer que você foi um erro, um engano meu. Meu tempo perdido, minha energia gasta em vão. Poderia te cobrar a conta do meu terapeuta, dos antidepressivos que tive que tomar.

            No entanto, acredito que sempre devemos tirar como experiência e aprendizado com as pessoas erradas que entram na nossa vida. Por sua causa, eu tive que aprender a perdoar. Por sua causa aprendi que devemos orar por quem nos faz mal, a trabalhar o desapego, a paciência. Acredito que ninguém entra na vida de ninguém por acaso. Eu não sei qual foi a minha função na sua vida. Só posso te dizer que você na minha foi uma lição dolorosa, mas que me fez enxergar a vida de outra forma, a entender que ninguém é responsável pela minha felicidade a não ser eu mesmo.

 

 

 

 

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