DESEJO POR AMOR
Teu gosto na ponta da minha língua,
o cheiro suave e doce invadindo as narinas,
os resquícios do nosso sexo em mim.
Os sentidos ainda entorpecidos,
e o pensamento que vai longe.
A razão passa ao largo de nós,
se é que dá para existir alguma lógica em tudo.
Amar é simplesmente ter fé,
acreditar e sentir o desencontro, o destempero.
O calor de nossos corpos ainda sobre o lençol,
lembrança do prazer da noite anterior.
Sob o chuveiro nossos corpos ainda se procuram, se tocam,
se examinam com minúcia.
Somos presenças que preenchem o vazio
que trazemos, senão no corpo, na alma.
Amamos mais do que uma face, um rosto,
amamos por causa dos nossos sentidos.
Pelo gosto, pelo perfume, pela pele,
amamos sem ao menos entender o por quê,
simplesmente nos apaixonamos.
Somos tomados por um capricho,
que atiça, que toma conta, te faz querer.
Mãos que se encontram,
olhos que não se largam, nunca se despedem,
uma insegurança e uma constância,
sede que custamos a saciar,
um desejo que nunca satisfazemos por inteiro,
um jogo que jogamos e que nunca termina,
e que não há vencedores ou vencidos,
uma batalha inglória onde as vezes,
perder é ganhar.
As palavras de ontem reverberando aos ouvidos,
ainda ouço sussurros, gemidos e suspiros.
Lá no fundo um "eu te amo" solto no ar,
sobrevoando como uma névoa insípida e fina sob nossa alcova.
Os olhos virados para dentro de nós mesmos
No momento egoísta do gozo,
expressões impessoais do que somos.
Os corações num compasso único,
as respirações que se encontram em idas e vindas.
Corpos fundidos querendo tornar-se um só ser.
Dedos se entrelaçam, pernas que enlaçam.
Vem mais, mais forte, mais mais rápido, mais fundo.
Eu vou, não hesito, quero mais, preciso mais.
Com cuidado, com força.
Eu te procuro e satisfaço
à mim, à ti, à nós dois.
E assim nós fazemos, construimos o amor.
Em 2014