E assim é ser mãe - por Francilangela Clarindo

E assim é ser mãe - por Francilangela Clarindo

E assim é ser mãe

 

Em vésperas do dia das mães deparo-me com duas notícias que me fizeram pensar. A primeira foi a de que um senhor publicou no twitter que se poderia abortar se se soubesse aquele ser que viria ao mundo tivesse Síndrome de Down. A outra foi que uma mãe abortara involuntariamente seu filho e fotos deste momento triste fizeram com que outras mães desistissem do aborto.  O interessante é que não há como ficar ileso a tais fatos. Há de se opinar, a favor, contra, seja como for, em nossas mentes uma série de informações pairam ao vermos tais declarações. E eu fico a pensar...

 

Ter dois filhos foram as melhores coisas da minha vida. Tudo passou a ser menor. Passar no vestibular, a formatura tão sonhada, o emprego, enfim, coisas importantes que passaram para um segundo plano depois de se ter nas mãos seres que são totalmente nossa responsabilidade. E por mais difícil que isto possa parecer, foi, é , e continuará a ser, maravilhoso! 

 

Quando ficamos grávidas e alguém pergunta: que sexo vai ter o bebê? Muitas vezes respondemos que ainda não o sabemos, ou até mesmo se já soubermos, comentamos que poderá vir qualquer contato que com saúde. Mas o que é este COM SAÙDE? Acaso termos filhos com Síndrome de Down ou uma outra situação que achemos incomum indica não ter saúde? Perguntemos isto a mães, pais, professores, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, médicos, amigos ou quem quer que tenha topado com uma criança assim e obtenha respostas surpreendentes. Tenho lido relatos de pessoas que mudaram suas vidas, suas mentes, a partir de contato com crianças de naturezas diversas, com situações que achamos um grande problemas, gritantes, no entanto, não o são. Elas ensinam muito a quem se permite aprender.

 

E uma outra situação me vem à mente quando penso em tudo isto. Quem garante que uma criança gerada PERFEITA, seja lá o que for este PERFEITO, de que algo não lhe poderá tirar a perfeição? Eu mesma nasci com minhas faculdades físicas e mentais em bom estado. Será mesmo? Acho que não! Lembre-se de que tens um olho menor que o outro. Ih! É mesmo! Ah! E também esquece-se de tua cor. És negra! Piorou a situação! E, veja só, seus olhos não são nem azuis, nem verdes, mas pretos. Tens razão! E os cabelos? Não são louros, nem lisos. Nasceste mesmo com faculdades físicas em bom estado? CRUCIFICA-A! CRUCIFICA-A!

 

Mas, aos 21 anos, sofri um acidente e não fiquei fisicamente tão bem assim. E aí? Mereço por isto ser descartada socialmente? Por isto devo já morrer? Não mereço vida se tenho um problema físico? Qual a diferença entre o ser que está ainda no ventre e eu? Ela pode morrer e eu não? Ou ambas? Ou nenhuma? Quem garante o direito à vida? Eu ainda prefiro atribuir isto a Deus. Eu disse A DEUS e não EM NOME DE DEUS, que é outra coisa totalmente diferente e que tem acontecido de forma irracional, no meu entender. Matam em nome de Deus quando deveriam deixar a vida ilesa, protegê-la, cuidar de sua integridade. Em nome de Deus crimes hediondos são cometidos. EM NOME DE DEUS! Não é ele o Deus da vida? Quando foi que o homem decidiu ser Deus? Agir em nome de Deus? Não sei se Deus está assim tão grato por tal trabalho realizado, por esta substituição. Sinceramente, acho o ser humano totalmente desqualificado para tal coisa, haja vista o quanto suas opiniões são complexas e divergentes. Já imaginou se minha vida estivesse em mãos humanas? Um dia a vida de Cristo esteve nesta situação e o povo preferiu que ele fosse crucificado. Sim, que seja Deus a decidir pela minha vida e, consequentemente, pela de toda humanidade. Daí eu não concordar com eutanásia ou até mesmo que a própria pessoa opte por sua morte. Sabe-se lá se tudo não muda, se o quadro hoje apresentado não terá mudanças significativas amanhã mesmo? Enfim, acho o homem pouco confiável para uma tão importante decisão. E para uma mãe, uma mãe mesmo, de verdade, não só que gerou, mas que ama seu filho, concordará ela com sejam quais forem os aspectos que considerem a morte de seu filho? Certamente que não. Ela quererá decidir por si mesma cuidar do filho amado, seja qual for a deficiência que lhe atribuam. Aquele ser que ela gerou e que ama infinitamente não perderá este amor por ser assim ou assado. A mãe cuida, ama, não vê em seu filho mal, e o acolhe do jeito que ele é. E assim é ser mãe.

 

Francilangela Clarindo

 

 

 

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