GRANDE VAZIO
A felicidade nunca permeou a sua vida, nunca poderia ser considerada completa e satisfeita. Buscou a vida inteira por aquele que seria o seu grande amor, procurou tanto, tentou tantas vezes, mas todos os indivíduos que passaram por seu caminho deixaram marcas ruins, dolorosas, desagradáveis, ou mesmo marcas de asco ou descaso.
Muitos homens ela considerou verdadeiros idiotas, preferia estar só a ter que suportar tamanho desinteresse por alguns.
Ela procurou anos a fio, até que resolveu desistir, jamais voltaria a procurar por amor.
Dedicava-se à suas atividades de rotina, agia como um zumbi, sorria quando esperavam que sorrisse, tentava parecer comovida quando da mesma forma esperavam que assim agisse. Comia por que era necessário, fingia se divertir com amigos.
Era vazia, uma árvore morta não poderia estar mais oca do que sua alma estava, ela já nem percebia mais o quanto sua vida nada representava.
Um dia caminhado sozinha pelas ruas, como sempre fazia, fumando seu cigarro para manter seu lento suicídio em constante reação, algo inesperado a tirou de seu mundo vazio. Ele estava na sua frente, olhando desconcertado, haviam se trombado, ela tinha derrubado algo que ele trazia consigo.
Um pedido de desculpas embaraçado, um sorriso tímido, um convite para um café, dali em diante ele costumava encontrá-la todos os dias.
Ela relutava em sentir, não queria começar a sentir, ter sentimentos, era tão doloroso na maioria das vezes, ela não queria arriscar. Um beijo repentino fez com que ela acordasse, seu corpo estava vivo, não era possível, ela vinha lutando tão arduamente contra a vida, isso não podia estar acontecendo.
Os dias pareciam belos agora, estar em sua companhia era a melhor coisa de sua vida, eles eram felizes sim, não havia mais medo. Ele era seu, preenchera o imenso vazio de sua vida inútil. Ela sorria e se sentia aquecida com seu amor.
A noite avançava, de mãos dadas caminhavam rumo à sua casa para juntos passaram a noite que era sempre tão agradável e romântica.
Um estampido seco, o olhar vidrado, ele caía lentamente seus olhos ainda a acompanhavam, ela tentava entender o que estava acontecendo, ele estava no chão, um círculo vermelho escuro se formava ao redor de seu corpo, ela permanecia paralisada, ele se fora, uma bala perdida levando seu amor embora, seus olhos se fecharam no mesmo momento que os olhos dele, ela estava sozinha novamente.
O grande vazio retornando caindo como uma pesada rocha, não merecia ser feliz, nunca poderia ser, o vazio era seu eterno companheiro que a amava profundamente, jamais a abandonaria.