Horizonte Esmaecido - por Anchieta Antunes

Horizonte Esmaecido - por Anchieta Antunes

HORIZONTE   ESMAECIDO

Nuvens desbotadas

cavas iluminadas

semáforos desligados

o topo da montanha

o oco do mundo...

Mais ou menos assim é a  visão dos portadores de daltonismo; desordem cromática, azul no verde, amarelo no vermelho, rosa no cinza. Não existe cão de guarda para daltônico, nem um tipo de código Morse. Afinal não é cegueira, apenas um pequeno distúrbio visual.

            _Como é que você faz para distinguir as cores dos sinais nos cruzamentos?

            _Não faço... Sempre tem um carro à frente ou ao lado... Tarde da noite sem transito não há perigo de acidente; pode avançar o sinal... Os  guardas estão dormindo.

            Nós corremos riscos todos os dias, não um risco calculado, a não ser que tenha sido calculado pela natureza. Não nos foi entregue nenhum plano de sobrevivência. Seja o que Deus quiser! O velho adágio: um por todos e todos por um, transforma-se em um por todos e continua um por todos. Todos por um foi substituído por um  simples singular: cada um que tome conta de sua pele. Coitados dos mosqueteiros!!!

            É ruim viver assim? Pra mim, não tem nada de ruim. Sou igual a qualquer pessoa, com a diferença de ver um  colorido diferente. E quando socializo sou motivo de mil perguntas, como se fosse uma grande piada ao vivo e sem cores. Acostumei e entro no jogo sem nenhum  subterfúgio, e muito menos, algum constrangimento. Afinal de contas são só cores, não está em jogo o caráter, o comportamento, personalidade ou justiça. Apenas cores...

            Navego em rios sibilinos, em rubras procelas, em lagos abissais a procura do mágico peixe dourado que sana a retina. Não o encontro, não o vejo ou pressinto sua presença. Ouvi dizer que se esconde no âmago da alma do gene e de lá só  sai escanchado no rabo da gota. Insere-se na trompa de Falópio de onde reaparece para a vida secular, conspurcando o arco-íris.

            Assim é a  vida do daltônico, complicada, contudo, vida. Que seria do azul se não fosse o vermelho? Parece que um poeta disse isso!

            Flores! Pra que distinguir suas cores? Basta sentir o aroma, a fragrância, o perfume, o veludo das pétalas, a maciez de sua existência.

            Sou mosqueteiro de minha singularidade...

 

Anchieta Antunes

11/02/13

 

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