Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Leonardo Lopes da Silva nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, em 25 de abril de 1981. Foi criado numa família trabalhadora, amorosa e unida, de origem batista, no subúrbio carioca de Campo Grande, onde viveu até os seus 28 anos. Desde muito criança, foi estimulado por seus pais a ler e a interagir com as letras, encontrando grandes paixões em mitologias, literaturas clássicas brasileira, portuguesa, inglesa, americana, francesa, espanhola, italiana e russa, além de crescer ouvindo musica pop rock brasileiras e estrangeiras dos anos 80 e 90, óperas, e composições clássicas. É formado em Letras – Lingua Portuguesa e Inglesa e desde os 16 anos atua como tradutor e interprete de língua inglesa e portuguesa, e desde os 19 como professor de idiomas. O contato com as línguas inglesa, espanhola e russa tiveram um grande impacto na sua vida pessoal e profissional. É casado com Olga Lopes da Silva, sua ‘russa com coracao latino’ e mora em Moscou (Moscovo) junto com sua esposa e gato, o Willy, desde 2009. Suas aventuras e peripécias na Europa estao cronicalizadas em sua página de Facebook, e alguns de seus poemas em blogs empoeirados.
“O propósito da poesia é ligar o leitor ao Belo através de palavras, e ligar as palavras à verdade do eu interior.”
Boa Leitura!
Escritor Leonardo Lopes Silva é um prazer contarmos com a sua participação no projeto Divulga Escritor, conte-nos o que é a “Língua do Pulsar” que dá origem ao título do seu livro?
Leonardo Silva - O prazer é todo meu, sinto-me honrado por ter sido convidado para participar do Divulga Escritor. Espero algum dia chegar ao mesmo nível de talento e brilhantismo dos escritores que já fazem parte dele.
A língua do pulsar é uma expressão com duplo sentido. O primeiro refere-se à batida do coração, o despertar e o fomentar de paixões interiores intensas, a vontade de experimentar algo além de si. O pulsar neste sentido é a força interior que te faz mover, que tira você da inércia, e o propulsiona para ir de encontro ao ser desejado, o mundo desejado, o desejo próprio. A língua, como parte do corpo, articula o incomunicável, em palavras, versos, imagens e sons, que imperfeitamente tentam expressar toda a glória e o universo que você contém dentro de si.
O segundo sentido é ainda mais especial. Refere-se não ao ato de pulsar, mas à estrela pulsar, que um dos fenômenos astronômicos mais marcantes em nosso universo. O pulsar é um tipo de estrela que implodiu, diminuindo-se em dimensões para tornar-se um globo de gases ultra - compacto, girando em torno de seu próprio eixo a velocidades estonteantes, a milhares de revoluções por segundo. Neste processo, a estrela emite sinais de rádio de forma regular e intensa, que se propagam pelo universo de tal forma que astrônomos sugerem que utilizemos estrelas pulsares como uma espécie de GPS para futuras viagens interestelares. Não é uma metáfora válida, que o escritor seja uma espécie de estrela deformada que entre em contato com o seu interior efervescente para explodir esses sinais de vida e significado, que ele traga ao mundo essa sinfonia de palavras de que estava grávido(a)? E não é a nossa missão como leitores-astrônomos, captar esses sinais, e tentar traduzi-los para serem o nosso próprio combustível, para que cresçamos, expandindo e explodindo com a descoberta de nós mesmos e de nossas paixões ? Somos feitos de poeira estrelar.
De que forma “Língua do Pulsar” vai contribuir para a comunicação do leitor?
Leonardo Silva - A língua do pulsar é um livro de poemas. O propósito da poesia é ligar o leitor ao Belo através de palavras, e ligar as palavras à verdade do eu interior. Essa é a comunicação que existe. O livro vai proporcionar ao leitor um encontro com o meu mundo de vivências poéticas, que são reflexões das minhas descobertas sobre mim mesmo e mundo: o apaixonar-se, o perder-se ao lado de alguém, a perda desse alguém; a fascinação e a desilusão com a vida moderna, urbana, de subúrbio; a vontade de superar as rotinas e faltas de significado na esfera política, econômica, social e espiritual para transcender se e ver verdade em tudo, significado em tudo, beleza em tudo; lidar com o volume crescente do Ego dentro de sua cabeça, que silencia a voz do Outro e afoga a sua percepção com conceitos e preconceitos, julgamentos e sentenças, comparações e experiências, que te afastam do presente e te jogam como bola de pinball pelo passado e futuro; inocências e experiências e inocências experientes; são amostras e trechos de pensamentos e sentimentos profundamente pessoais, que espero ressoem nos lábios, mentes e corações de meus leitores, e criem um relacionamento único, que só pode ocorrer entre um leitor e o seu escritor. Podemos dizer que a pujança e a eloquência de alguns dos poemas irão inspirar os leitores a sintonizar se, encontrar palavras só suas, expressões proprias.
Em sua opinião, qual a relevância de um maior conhecimento da “voz misteriosa” que se encontra dentro de nós?
Leonardo Silva - Gnōthi seauton - Conhece-te a ti mesmo. Muitos usam a ciência para esse propósito, com as suas hipóteses e teorias, provas e refutações, teses e antíteses. Outros encontram respostas para as muitas perguntas da existência humana em orações, preces, versículos e cantos religiosos. A poesia também se propõe a cortar na carne, revelar as feridas, e curá-las, com o uso de sua própria língua e forma, um caldo muito concentrado e temperado, alcoólico, psicodélico. Um poema pode transformar a vida de alguém, como "The Good Morrow" de John Donne ou "Dolce et Decorum est" de Wilfred Owen me transformaram. Descobri que o meu eu anseia ardentemente o ser amado como o eu poético de Donne, e que nunca ousaria por um momento exaltar qualquer guerra, pois eu a vi no poema de Owen; morri com os gases tóxicos ao meu redor; vi o meu amigo soldado contorcer-se de dor e morte no solo enlameado; e ouvi as marchas militares saudando o fim da minha humanidade.
A voz do eu interior se fortalece, obtém músculos e energia, esclarece se, afirma se, escapa do abismo que é a separação, atomização, e a alienação do ser humano. E isso é possível através da apreciação da poesia e da arte. Um pai tem algo a mais a dizer para o seu filho, além do "o céu é azul porque é o resultado da filtragem da luz solar por partículas atmosféricas, em especial o nitrogênio". Uma adolescente deprimida pode fixar a mente em algo que permita tolerar o intolerável, e dissuade a mão que iria para a lâmina de barbear para o auto flagelo a não fazê-lo.
Em que momento pensou em escrever sobre este tema?
Leonardo Silva - Temas. O livro é uma coletânea de poemas escritos desde os 16 anos. É muito difícil dizer que há um tema único. Por isso, eu o dividi em 13 capítulos, que capturam a essência de diferentes momentos na minha vida, como a adolescência obcecada, o primeiro relacionamento sério com alguém, a(s) separação(ões), homenagens a outros poetas (como Cruz e Souza)... Porém, não desejo que a forma como os categorizei sejam ditados ao leitor. Não expliquei ou explicitei o propósito de cada capítulo. Desejo que o leitor chegue às suas próprias conclusões. Que se aproprie do que encontrar e dê a sua própria leitura. Que a minha verdade passe a ser a dele(a).
O que mais o encanta em seu livro “Língua do Pulsar”?
Leonardo Silva - A capacidade que ele tem de incitar reações e respostas tão diferentes dos leitores. É como se eles estivessem a falar de um quadro abstrato. E também algo que mencionei anteriormente, a eloquência com que se expõe ao leitor, não dá para lê-lo calado, é preciso recitá-lo em voz alta, é preciso música ambiente. Ele - e eu - quer tomar o leitor de assalto, sofregamente. Acho isso deveras atraente em um livro.
Quem é o leitor Leonardo Lopes Silva, que tipo de textos gostas de ler?
Leonardo Silva - Leio de tudo o que for essencial. Há uma urgência, uma voracidade de querer conhecer os escritos dos grandes e clássicos, e de surpreender me com os escritores contemporâneos que encontrar no meio tempo. Amo muito a prosa, e aí embrenhamos numa floresta densa de grandes ícones, de Shakespeare a Virgínia Woolf a George Elliot a Rubem Braga; de Dostóievski a Thomas Mann a Neil Gaiman; caminho pelas ruas de Moscou e vejo meus amigos Turgenev e Gogol e Pushkin. Minha mente viaja pela Sibéria para poder chegar ao Japão de Musashi. Quer se esconder no mundo supremamente poético é inexorável de Cortazar. Em poesia, outro planeta, povoado por esta irmandade de loucos e cegos que veem tudo, falam tudo: Donne, Camões, Milton, Wordsworth, Álvares de Azevedo e seu mestre Byron; Walt Whitman, Shelley, Cruz e Souza, Baudelaire, Keats, Emily Dickinson, Elizabeth Browning, Thomás Hardy, Tennyson, D.H. Lawrence, Don Marquis, Auden.
Ultimamente tenho lido pesadamente ficção científica (Le Guin, Asimov), fantasia (Tolkien, Le Guin) e ficção russa - Bunin e Andreyev. Estou a ler "Atonement" de Ian McEwan agora.
E de escrever?
Leonardo Silva - Poemas e artigos. Os artigos são de meia tigela, mas leia de qualquer forma. Pode ser que ache algo que preste neles, uma frase ou duas.
Quais os seus principais objetivos como escritor?
Leonardo Silva - Fazer com que a minha voz seja ouvida e que encontre me eternamente com o meu leitor em papel ou na tela, como uma força que o encoraje a lutar um pouco mais a luta do dia do dia, que não desista. E que eu o ajude a encontrar o seu ikigai literário - a sua razão para levantar se no dia seguinte.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Leonardo Lopes Silva. Agradecemos sua participação no projeto Divulga Escritor. Que mensagem você deixa para nossos leitores?
Leonardo Silva - Mantenha a mente e o coração abertos para tudo o que vida vos proporcionar. Não permita endurecer-se pelos regimes e ideologias e dogmas. Descubra como respirar. E tenha conforto na sabedoria de saber que não sabes de tudo. Mas que o tudo sabe de ti. Leia. Leia sempre, até mesmo quando não houver mais olhos.
Muito agradecido pela oportunidade.
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