Limbório - Quizumbas Matrimoniais - por Anchieta Antunes

Limbório - Quizumbas Matrimoniais - por Anchieta Antunes

QUIZUMBAS  MATRIMONIAIS

 

Libório e Sonia estavam programando uma viagem de férias, quando surgiu o impasse: ele queria ir para os lagos do Chile e ela para Bariloche. Se tivessem dado uma olhada rápida no mapa teriam visto que com uma só viagem atenderiam aos dois objetivos. Acontece que sempre resolveram as coisas sem nenhuma atitude prática, apenas com o calor da emoção. Que mapa que nada...

Os dois destinos estão bem próximos, ligados pelo imenso lago “TODOS  LOS  SANTOS” que une os dois países. Podiam navegar de Bariloche para os lagos do Chile, ou uma viagem em sentido contrário. Os dois conheceriam ambos os destinos, satisfariam tanto a Sonia quanto a Libório, mas, feliz ou infelizmente não é assim que acontece com esse casal tão conhecido por nós. Se não houver uma quizumba nada pode ser resolvido.

Quando Sonia recomeça uma discussão, Libório logo pergunta:

–Sonia esta briga é a continuação daquela que tivemos pela manhã, ou se trata de outra questão?

–É a mesma, por quê? Alguma dúvida?

–Não se trata de dúvidas, mas sim de organização. Preciso saber se dou continuidade à raiva que senti pela manhã, ou se tenho que conseguir outra raiva e qual o teor e direcionamento dela; preciso saber o objeto da discussão; tenho que procurar, de acordo com o tema da briga, no baú onde guardo o arquivo de motivos, para saber quais argumentos disponho para contra-atacar. Para se ganhar uma discussão temos que ter em primeiro lugar uma logística adequada com o tema a ser discutido. Não gosto de amadorismo.

–Faça do jeito que você quiser, o fato é que estou fula e vou dar continuidade imediatamente ao fato em andamento, pois não quero encruar uma raiva sem que tenha uma solução razoável. Ou é Bariloche ou nada feito, passamos nossas férias em casa, como já aconteceram outras vezes em que você não cedeu nem um milímetro.

–E por acaso você cedeu alguma vez?

–Claro que não! Não cabe a mim ceder, pois sou a parte mais fraca,  e você é o patriarca,  sempre querendo ser o dono da verdade.

–Isto é você que diz, eu nunca quis ter nenhum patrocínio escuso, apenas o uso da justiça. Faço do jeito que você quer, mas me deixe tempo suficiente para avolumar minha raiva que esteve por oito horas em estado de catalepsia, dormindo, ou mesmo hibernando enquanto você fumegava pelas ventas. Começar uma briga fula já em desvantagem, é covardia por parte de vossa senhoria. Creio que temos que estabelecer regras, e cumpri-las.

–Que regra, que nada, você está tentando retardar sua derrota. Regras existem para jogos, e aqui a coisa é mais séria do que um simples joguinho a que você está acostumado. Não tente me dar uma rasteira porque eu caio em pé.

–Sonia, só para eu entender, como é que se cai em pé?

–Sei lá, você entendeu, então não enrola, vamos logo começar nossa briga.

–Mas eu só estou com metade da raiva, com certeza que vou perder e você sabe que não gosto de perder, nem em jogo de palitinho.

–Como é, quer brigar ou não, covarde?

–Querer não quero não, mas covarde não sou, portando vou começar dando-lhe um sopapo no pé do ouvido, quer ver?

–Homem que é homem não bate em mulher, você é o quê?

–Ah! Amiga, depois que me abufelo, eu bato em mulher, em menino, em cachorro, e qualquer coisa que se movimente, e vou logo começar a esquentar minha mão que já está coçando. Você me irrita tanto que tenho vontade do ir pro meio da rua e começar a usar minha lambedeira em qualquer um que atravesse meu caminho. Pra  matar alguns  vagabundos não me custa nada, e é o que vou fazer agorinha mesmo. Não tem quem me segure. E você fique longe senão vai sobrar pro seu bumbum.  Acabou-se Chile, Bariloche ou o raio que o parta, agora é no fio da navalha. Duvida?

–Não, não duvido, mas meu amor, esqueça o que eu disse, não fique assim tão bravo, cuidado com seu coração; e eu sempre lhe perdoo.  Tá bom, tá bom, deixa pra lá, venha aqui, vou lhe trazer um ponche de maracujá pra você se acalmar, você não é homem de matar ninguém, venha meu bem, vamos esquecer tudo o que aconteceu e começar nossa viagem pra onde você quiser. Venha, vamos comer uma pizza que é muito melhor.

–Covarde não sou, mas vamos sim, comer uma pizza e das grandes, pois estou morrendo de fome depois desta discussão idiota.

ESTATUTO    DE    DISCUSSÕES    E   QUERELAS    VIOLENTAS    ENTRE   CASAIS.

Art. 1º - O  SINDICATO  DOS  CASAIS  HÉTEROS,  COMO  TAMBÉM  OS  DO MESMO  SEXO, fica organizacionado de acordo com os ditames deste Estatuto, levando em consideração que a finalidade deste elenco de artigos, tudo dentro do comportamento jurídico espelhado na Constituição Nacional, visa evitar fraudes “discussionais”, eliminação de arquivo caminhante (morte por encomenda), e falecimentos provocados por atos turbulentos de violência incontida.

Art. 2º - Não há privilégios para iniciar discussões, briga de foice no escuro, pelejas com cabo de vassoura, com alfinete ou travesseiro de penas, desde que seja avisado ao contendor com antecedência mínima de cinco minutos.

§ 1º - A não observância deste paragrafo confere ao adversário não informado, o ganho de causa imediato, sem que seja necessária audiência pública.

Art. 3º - A lisura e o decoro devem sempre nortear os contendores para evitar covardias, arapucas escondidas na metade do caminho, e obstruções indevidas, tanto do ponto de vista do motivo da liça, quanto do desempenho dos querelantes.

Art. 4º - Cabe a qualquer das partes envolvidas no arranca-rabo, o direito a reivindicar a arena onde deve acontecer a justa, seja ela justa ou injusta, contanto que nenhuma das partes tenha privilégios preestabelecidos.

Art. 5º - Em caso de falecimento durante a pugna, o sobrevivente deve providenciar o velório, e o enterro com todas as honras prestadas a membros da realeza, seja o defunto digno de tal comenda ou não.

Todo morto é cidadão de bem, homem honorável, elemento modelar na sociedade onde vivia, pessoa de fino trato, esposo exemplar, pai de família incomparável, e amigo fiel, logo,

                        ENTERRA   O   SAFADO  COM  TODAS   AS   HONRAS.

§ 1º - Cabe ao sobrevivente cumprir os reclamos do art. acima, assistir a missa de sétimo dia,  pagar pensão alimentícia à viúva durante um ano, e apadrinhar os filhos do finado até que se formem no terceiro grau, ou que ingressem na cadeia publica.

Art. 6º - Compete ao Presidente do Sindicado dos Casais Héteros e outros divergentes, cumprir e fazer cumprir todos os artigos deste estatuto, bem como resolver questões insolúveis, durante o decurso de quizumbas intermináveis.

Art. 7º -  CENSURADO.

Art. 8º - Este Estatuto entrará em vigor após o devido Registro Público, visando atender dispositivos da lei dos insurgentes, e na data de sua publicação ( se um dia algum incauto tiver coragem de publicar tamanha aberração).

            ­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–­–

Presidente. “quem se habilitar queira”

 

Vice Presidente

 

Redator: Anchieta Antunes

Fevereiro/2016.

 

 

 

 

 

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