Por Shirley M. Cavalcante (SMC)
Manuel Amaro Mendonça nasceu em Portugal, em São Mamede de Infesta, e é licenciado em Engenharia de Sistemas Multimédia pelo ISLA de Gaia. Até à data tem dois livros editados: «Terras de Xisto e Outras Histórias» e «Lágrimas no Rio», publicados pela CreateSpace e distribuídos pela Amazon. Mas tem participações com contos de sua autoria em mais de uma dezena de coletâneas de várias editoras como a Papel D’Arroz, Silkskin, Lua de Marfim e nas Antologias Sui Generis, lançadas pela EuEdito. Prémios: 3º prémio no 6º Concurso Literário da Papel D’Arroz Editora com o conto «Tudo em Jogo» e 1º prémio no 7º Concurso Literário da mesma editora com o conto «O Assalto». Mantém blog pessoal, onde se apresenta publicamente e publica alguns dos seus trabalhos.
“Mas, sobretudo, não podemos ignorar a majestade dos rios que, indiferentes aos pequenos dramas das curtas vidas dos seres humanos, continuam a escavar o seu caminho para o mar.”
Boa Leitura!
Escritor Manuel Amaro Mendonça, é um prazer contarmos mais uma vez com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Depois do sucesso com o livro de contos «Terras de Xisto e Outras Histórias», publicou um romance. O que o motivou a escrever «Lágrimas no Rio»?
Manuel Amaro - Antes de mais, muito obrigado por mais esta oportunidade para falar um pouco sobre o meu trabalho. É uma honra poder participar na vossa revista que tanto faz pela divulgação dos autores.
«Terras de Xisto e Outras Histórias» já continha um conto baseado num espaço/tempo que me fascina, que são o século XIX e a região transmontana. Sendo «Terras de Xisto» um livro de contos, «Lágrimas no Rio» começou, também ele, por ser imaginado como um conto a ser incluído num próximo livro, mas a criação do enredo mostrou-me que havia tanto para contar, que acabaria por dar origem a uma obra desequilibrada, com uma das histórias a ocupar 95% do livro. Foi nessa altura que me decidi arriscar numa aventura e levar os leitores, numa viagem alargada, a conhecerem os habitantes da fictícia São Cristóvão do Covelo e a viver comigo os dramas passados nas margens do Douro.
Quais foram os principais desafios para a escrita desta obra literária?
Manuel Amaro - O principal desafio era o tamanho da história. Preocupava-me não conseguir manter a narrativa apaixonante o suficiente para prender o leitor até ao fim. À medida que ia planeando o enredo, não paravam de aparecer mais e mais detalhes importantes, acabando por ganhar vida própria e quase escrever-se a si mesmo. Depressa estava a criar gráficos com as interações entre os personagens, a tomar notas sobre a aldeia, a ler mais e mais sobre a época e os costumes. Os personagens foram mais elaborados. O leitor notará que alguns deles, apesar de nunca aparecerem porque já faleceram, têm uma presença muito forte em toda a narrativa e as suas atitudes passadas continuam a refletir-se de forma incontornável no decorrer da ação presente.
Este foi um projeto fantástico do princípio ao fim e arrisquei várias experiências, a começar por pedir a elaboração de um Prefácio ao meu grande amigo, escritor e editor Isidro Sousa, que acedeu com grande satisfação e fez um texto excelente que muito enriquece o livro. A outra experiência foi fazer uma apresentação pública da obra, a convite da direção do ISLA de Gaia, no auditório da universidade. Estiveram presentes algumas dezenas de pessoas e as reações da audiência foram muito satisfatórias. Esteve também presente a minha grande amiga e escritora Suzete Fraga, que muito me honrou com algumas palavras elogiosas acerca do livro e do meu trabalho em geral.
Dizem que os personagens têm muito do autor. Qual dos personagens de «Lágrimas no Rio» tem mais de você? Porquê?
Manuel Amaro - Dizer que aquele com quem mais me identifico não é o Avelino Montenegro seria uma mentira. Toda a ação desenrola-se à volta desse personagem e foca-se nele e nas suas reações aos acontecimentos. Claro que tem algumas atitudes demasiado passivas e outras demasiado radicais, diferentes das que eu teria nas mesmas situações, mas não podemos esquecer que a ação passa-se em 1830 e o Avelino Montenegro não é Manuel Amaro Mendonça, nem o contrário. São duas pessoas diferentes, de épocas distintas, com formações morais e culturais bem diferentes.
Como leitor, o que mais o atrai neste romance?
Manuel Amaro - Há neste livro três pontos importantes que me interessam. Primeiro, nem tudo é o que parece e o mais inocente acontecimento pode ter origens muito mais sinistras do que pensamos. Segundo, a resistência da sociedade à mudança; é curioso como por vezes, mesmo aqueles que são prejudicados por determinados costumes, resistem a que estes se alterem. Terceiro, a solidariedade que nasce nas grandes desgraças e entre a abnegação de uns, que tudo dão para acudir aos necessitados, há outros que não querem abdicar duma migalha.
Em relação ao ambiente, quais os principais locais visitados durante todo o percurso de «Lágrimas no Rio»?
Manuel Amaro - Conforme referi anteriormente, «Lágrimas no Rio» é passado numa aldeia fictícia chamada São Cristóvão do Covelo, mas claro que é baseada não numa, mas em duas aldeias que fazem parte da minha vida, Tralhariz e Foz-Tua, no concelho de Carrazeda de Ansiães, na região transmontana, em Portugal. Uma parte importante da minha vida pessoal foi passada nessa região apaixonante, pelo que é inevitável que muitas das minhas narrativas decorram nessa zona.
Ninguém que aprecie a natureza pode ficar indiferente à grandiosidade dos montes a perder de vista, aos monumentos, ao engenho e força humana que são as vinhas plantadas nos socalcos erguidos à força de braço e ferro. Mas, sobretudo, não podemos ignorar a majestade dos rios que, indiferentes aos pequenos dramas das curtas vidas dos seres humanos, continuam a escavar o seu caminho para o mar.
Onde podemos comprar o seu livro?
Manuel Amaro - Os meus livros podem ser adquiridos em todos os sites da Amazon.
https://www.amazon.com/author/manuelmendonca
Ou podem fazer uma encomenda direta via correio eletrónico para amaro.autor@gmail.com, com indicação da morada, para receberem um exemplar autografado.
Que tipo de textos gosta de ler?
Manuel Amaro - A minha leitura é relativamente variada. Tanto me interesso por ficção, científica ou não, como por temas reais e sérios como a Sociologia e a História. Neste momento, por exemplo, estou a ler «A História da Vida Privada» de José Mattoso, que tem sido uma importante fonte de informação para as minhas narrativas.
O que mais o encanta na leitura deste tipo de textos?
Manuel Amaro - Alguma dessa leitura é simples curiosidade, outra tem motivos mais sérios, como seja levantamento de dados e factos para o enriquecimento dos meus trabalhos. Como exemplo, terminei recentemente de ler um conjunto de livros referentes à guerra civil que aconteceu em Portugal entre 1832 e 1834. Retirei dessa leitura dados muito importantes que vão ser incluídos no romance «Samara», que me encontro a escrever neste momento e que deverá ser lançado no primeiro semestre de 2017.
Então já tem um livro novo no prelo! Fale-nos um pouco sobre a sua próxima obra literária...
Até ao final de 2016, deverá ser lançado mais um livro de contos que já está terminado e encontra-se em fase de revisão. Intitula-se «Daqueles Além Marão» e são contos escolhidos, alguns deles premiados em concursos literários. Mantive como pano de fundo o meu espaço e tempo preferidos e coloquei os personagens nas mais diversas situações.
Para o primeiro semestre de 2017, também teremos novidades. Estou já a escrever a sequela de «Lágrimas no Rio». Intitula-se «Samara» e levará o leitor de volta para a aldeia de São Cristóvão do Covelo, pelos olhos de outros personagens, alguns anos após a tragédia que a assolou.
Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor o escritor Manuel Amaro Mendonça. Agradecemos a sua participação na Revista Divulga Escritor. Em sua opinião, o que cada leitor pode fazer para ajudar a vencermos os desafios encontrados no mercado literário português?
Manuel Amaro - O mercado literário está vocacionado para o lucro, não do autor, mas das editoras e das distribuidoras. No acrescentar de margens e mais margens (algumas bem chorudas), encarecem de tal forma os livros que o ganho do escritor é sempre o mais penalizado. Este, como em última análise o que pretende é ser lido, sacrifica-se a escrever durante meses para receber uma pequena compensação por unidade vendida, cerca de um ano após o lançamento. Essa compensação pode nem chegar para cobrir os custos de impressão que pagou à editora, que mesmo assim também vai receber uma margem por livro vendido.
A maior parte das editoras limita-se a receber o pagamento, enviar para distribuição pelas livrarias afiliadas e aguardar os lucros. Como o trabalho está pago, não faz nenhum tipo de publicidade nem divulgação das obras com que lucra e devia patrocinar.
Atualmente, fruto da concorrência de sistemas como “Print-on-demand” da Amazon/Createspace, conseguimos saber quanto custa a impressão de um livro e quanto as editoras lucram com isso. A publicação está facilitada mas a divulgação está na mão do autor...
Claro que a liberalização traz outros problemas, como a redução de qualidade da obra escrita, com livros que não são revisados e outros com narrativas desconexas e cheias de inconsistências.
Não é fácil ser-se escritor iniciante. Aquilo que tenho visto na maior parte das vezes, ou não se atrevem a publicar, porque têm medo das críticas, ou não dispõem do dinheiro necessário para pagar à editora, ou investem o dinheiro e, como o retorno é reduzidíssimo, não se atrevem a repetir.
Os concursos de escrita são uma boa forma de os escritores se mostrarem, ganharem confiança e perceberem se aquilo que escrevem é ou não é digno de ser lido e publicado. Pena é que, por vezes, mais do que o intuito de incentivar e criar novos autores, é o objetivo do negócio que move o concurso. Porque é que as grandes editoras não promovem mais concursos de escrita? Claro que terão de ser fiscalizados, claro que custam dinheiro, mas a possibilidade de trazer à luz um bom autor que possa firmar contrato com eles também será vantajosa, assim como a publicidade conseguida com toda a gente a falar nisso nas redes sociais. E quanto ao prémio, a grande maioria dos novos autores não está nisto para ganhar dinheiro, mas pelo prazer de ser lido, não está à espera de grandes somas de dinheiro, nem viagens… um simples papel, ou até mesmo um post no Facebook, fará as alegrias de qualquer autor com direito a lugar no pódio.
Há também um apelo aos leitores: não subestimem a capacidade do autor pelo facto de ser muito ou pouco conhecido, por ser vendido numa boa livraria ou simplesmente online, em livros físicos ou e-books. Leiam! Tenham o prazer de conhecer os novos escritores, leiam os contos que são publicados em alguns sites do Facebook ou nos blogs de autor que tenham conhecimento. Leiam mais autores lusófonos do que os traduzidos. Mas, principalmente, leiam! E se gostaram, não se esqueçam de divulgar junto dos vossos amigos que gostam de ler.
Manuel Amaro Mendonça
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