Múltiplos de Cinco - crônica em homenagem ao aniversário da colunista Mirian M. de Oliveira

Múltiplos de Cinco - crônica em homenagem ao aniversário da colunista Mirian M. de Oliveira

MÚLTIPLOS DE CINCO

(Uma crônica de “quase aniversário”)

 

Mirian Menezes de Oliveira

 

Acertará, aproximadamente, 95% da questão, o leitor que se arrisca a dizer que uma crônica, cujo título se apresenta dessa forma, muito pouco tem de “matemática verdadeira”.

O que pretende uma “criança grande”,  além de brincar com as palavras?

Certamente, pretende convidar os “números” para integrar as brincadeiras de “pega-pega” e “esconde-esconde”, ou talvez, pretenda deslizar pelo “escorregador” da memória e enxergar-se com cinco e dez anos. Esta é uma hipótese razoável!

Estava há quinze dias (Olha o múltiplo aí!) de completar cinco décadas (Nossa! De novo?!) e, assim como na época em que esperava os quinze anos, ansiava pela data da “passagem”, que abriria uma nova página em sua vida.

Prestes a alterar “totalmente” seu ciclo de vida, olhou para o menino de dez anos, no intervalo do colégio, e percebeu o quanto estava diferente naquela manhã. Todo o dia ele era fiel ao universo construído por si mesmo. Chegava na classe, cumprimentava, timidamente, os colegas, dava um beijinho “torto” na professora e entregava-se à rotina disciplinada... Menino bonito, “porte de príncipe”... sabia que existia um universo paralelo ao seu, mas nada lhe interessava muito, além daquilo que se encontrava em consonância com o reino, milimetricamente, organizado.

Os colegas o chamavam para conversar... trocavam gentilezas e não-gentilezas, nos grupos... brincavam e brigavam... eram crianças, como todas as outras, mas ele... ele não queria saber disso...

Tomava seu lanchinho, escovava os dentes e, ao aproximar da professora, no momento da fila, brincava por alguns segundos com suas mãos. Nesse momento, sorria discretamente...

A professora, a competente estagiária e o aluno mais do que especial encontravam “janelas” para a convivência carinhosa e respeitosa... Um caso de amor fraterno entre duas profissionais e um ser humano incrível, na primeira década de vida (triângulo de amor fraterno ou “ágape”?!)

Como se fossem brincar de roda, sempre que se encontravam, batiam, suavemente, as palmas das mãos e ele sorria (alegria da professora!)

Meses se passaram... quase cinco... e o príncipe de outro universo tomava as primeiras iniciativas, para a conquista de um novo mundo.

Incorporou mais sorrisos à rotina... silabou alguns nomes de colegas... deixou a professora enxergar um pouco de sua alma e foi, naquela manhã, passados dez minutos do recreio, que o príncipe de outro reino, resolveu ancorar no universo das crianças que correm, pulam e gritam.

Naquele momento, o menino “autista” (às vezes, a professora nem se lembrava daquele detalhe!) sorriu de maneira mais aberta e rodopiou, no pátio da escola, juntamente com uma colega, como se quisesse fazer morada em outro reino. Sorria muito...

A professora, prestes a completar seus cinquenta anos de idade, sentiu-se com cinco, ou melhor... DEZ... (idade do garoto). Esquecendo-se de que  seu corpo já não possuía a leveza da “infância em plenitude”, correu, bem depressa para o centro do pátio, para abraçá-lo e vibrar de alegria.. Pulou também! Estava feliz!

Cinco... dez... quinze... vinte... vinte e cinco... trinta... trinta e cinco... quarenta... quarenta e cinco... CINQUENTA...

Que diferença haveria entre esses seres, em um momento tão profundo?

Havia, somente, ALEGRIA! E, nesse momento único, a professora sentiu que os múltiplos de sua idade eram sua infância transformada em tabuada! Lembrou-se da primeira cartilha, das saias pregueadas... dos medos de criança... Sentiu o “frescor” repaginado, nos olhos daquela criança linda... Sentiu-se com alma de criança, também ancorada em outro universo...

Enfim...

Poderia haver MAIOR PRESENTE de “quase aniversário” do que aquele momento de alegria compartilhada?!

O príncipe de outro mundo nos deu a honra de uma visita nobre e inesperada.

 

 

 

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