Por Marcelo Allgayer
A vida seguia um rumo que eu não entendia. Os dias passavam lentamente, mas o gosto pela arte de escrever era mais forte que a depressão que parecia ser uma desculpa para me refugiar em um mundo particular. Pensava que a poesia seria um suporte, ou seja, uma válvula de escape que poderia resolver meus problemas, minha aflições, ou mesmo, meus medos que, por muitas vezes, eu não sabia de onde vinham. O dia nasceu belo numa manhã de outono e minha mulher despertou alegre. Ela dizia:
- Marcelo, o dia está lindo hoje!
Cercado de emoções que pareciam aflorar devido a intensa magia, e o saboroso convite de desfrutar a vida, senti que devia me movimentar, mas o exercício seria explorar meu intelecto. Meu corpo sempre esteve na corda bamba como o de qualquer pessoa, e algo me dizia que a casa de alguém é refúgio nas horas em que a dúvida paira nos corações humanos.
- Marcelo, notaste como a natureza é sábia. O João-de-barro, por exemplo, faz com perfeição a sua casa para morar - observava minha mulher.
Aquelas me pareciam observações sensatas, mas... e a vida? O que é a vida senão a procura da segurança, da alegria, do bem-estar? - perguntava eu a mim mesmo.
Os dias se passavam e eu sentia cada vez mais inspiração para escrever. Lembrava-me de Quintana que, como diziam, escrevia para respirar.
Mas, também me lembrava de Kafka e sua "Metamorfose", pois era funcionário público desde os tempos da juventude. Tudo aquilo me veio a entender que seria um escritor, pois as explicações para viver eu não tinha e as letras eram formas de tentar absorver o pulsar do dia a dia, na certeza de que cada um escolhe o seu caminho.
Do livro "Sentidos poéticos e algumas histórias".