Olhares cegos
Olhos perdidos no verde da relva, que se extende e se perde na tênue linha do horizonte. Olhos postos no infinito perdido, sem flores, sem cores. Olhos que olham sem ver os desenhos das nuvens pintados no céu. Imagens que, rapidamente, se desfazem, contorcem, se distorcem e se esfumaçam ao beijo do vento, que as levam para além do horizonte, enquanto a vista se perde, no vaguear da mente, que busca o infinito sem poder alcançar.
Olhos que marcham para o invisível e se alimentam do cintilar das estrelas, que brilham, sem lhes sorrir. Sonham com o intocável, o inatingível, enquanto o que procuram os esperam com a mão estendida. Querendo carinhos, uma boca a sorrir, ou a lhes animar para a vida enfrentar. Olhos que só fitam seu eu. Um eu de braços fechados, abraçando a si mesmo e tampouco se abre para fazer alguém, mais um pouco feliz. Menos só.
Tudo gira ao seu redor, qual ciranda ou brincadeira de roda que não podem parar. E, quando param, é para abaixar-se no chão e dizer o "juá". Porém, nunca param, nem voltam a rodar.
Esses olhos, que eu falo, continuam perdidos... Não cessam de olhar o infinito, que nem nas retinas lhes cabe. Não vêm a vida esperando, pedindo socorro e querendo ser vista pelos olhos de alguém, que lhe possa enxergar. São pobres. São cegos.
A felicidade se contrói além de olhares perdidos, sonhadores e sem ação. Ação que não se assemelha a dAquele que, de braços abertos, morreu em uma cruz, porque olhou para nós, nos viu e nos amou.