OS DIAMANTES AZUIS – VOLUME I – PLANETA LUZ.
EPISÓDIO II – A TRAVESSIA - Continuação
Embora muito esforço tenha sido feito nesse sentido, ao iniciar a jornada o grupo não estava totalmente coeso e havia resistência de algumas quanto à direção a seguir. Ao raiar do sol, reuniram-se fizeram uma profunda oração e partiram. Estavam tensas e emocionadas, pois sabiam que aquela travessia era muito difícil e decisiva para o desenvolvimento de cada uma.
Chegaram sem problemas à entrada da gruta, a tensão aumentava à medida que penetravam mais fundo em seu interior. Logo a escuridão era intensa e tiveram que acender a primeira tocha. Acenderam apenas uma para economizar, a mulher que conduzia a tocha escolhia o caminho e depois auxiliava as outras a chegar a um ponto determinado onde se reuniam e retomavam a caminhada de outro trecho. Chegaram à beira do lago, sabiam que a partir dali seria muito difícil manter uma direção e não ficarem andando sem rumo. Amarraram uma ponta da corda em uma pedra na margem e começaram a entrar na água, procuravam manter uma linha mais ou menos reta em relação à entrada da gruta, assim sabiam que estavam caminhando em direção ao outro lado da montanha.
A princípio o lago não era profundo, conseguiam caminhar com a água pela altura da cintura. Aurora, que ia à frente avistou pedras e se dirigiu a elas, desviando um pouco o trajeto para a direita. Era como uma pequena ilha de pedras e naquele ponto o teto da caverna se tornava mais alto, dando a perceber que fora um desmoronamento do teto que formara aquela pequena ilha. Marcaram cuidadosamente a direção que chegaram e a que deveriam prosseguir, depois reuniram todas e descansaram um pouco, pois a travessia era cansativa.
Ao entrarem no lago para prosseguir notaram que este se tornava mais profundo e Clotildes, que estava à frente, já estava com a água pelo pescoço. Ela instruiu as outras:
— Fiquem todas próximas e segurem bem a corda, vou amarrá-la em minha cintura e nadar um pouco, se não conseguir achar nada para me apoiar, vocês me puxam de volta.
Nadando sempre em frente, Clotildes encontrou um grande paredão de pedras, conseguiu agarrar-se a algumas pedras, mas não poderia subi-lo, sentiu então que a água a puxava para a esquerda, não era um lago de água parada, havia uma corrente. Soltou a pedra que segurava e deixou-se levar um pouco pela corrente, mas sempre beirando o paredão. Logo chegou ao final do paredão e encontrou uma pequena praia de areia e pedras.
Amarrou bem a ponta da corda e chamou as outras e pediu para que viessem uma a uma, pois teriam que passar por água profunda segurando somente na corda. Quando todas chegaram, perceberam que já não tinham mais fogo, as tochas já haviam se consumido todas, pois a travessia estava mais demorada e difícil do que imaginaram. Guida era a mais crítica da escolha, sempre defendera a saída pela outra montanha e considerava um erro tentarem atravessar o pântano, defendia a ideia de voltarem e tentar pela outra montanha. Estavam todas abatidas e cansadas o local era bastante escuro e não viam nenhuma saída. Guida disse:
— Temos que voltar, enquanto temos a corda, não há saída daqui.
Aurora ponderou:
— Temos que ter calma, vamos descansar um pouco, comer e beber, depois decidimos o que fazer.
Comeram cada uma um pedaço de fruta e um pequeno gole de água, pois esta também já era pouca e não sabiam se poderiam beber da água do lago. Passado algum tempo Guida insistia:
— Temos que voltar.
Clotildes falou: — Não é tão simples Guida, viemos a favor da corrente, se tentarmos voltar, será contra a corrente, será muito mais difícil, talvez nem consigamos. Guida se tornou mais agressiva:
— Então o que sugere? Ficarmos presas aqui?
— Tenha calma, vamos procurar uma saída.
— Não tem saída nenhuma, eu vou voltar.
Guida segurou a ponta da corda e começou a entrar no lago. As outras tentaram de todas as formas contê-la, mas ela exigia que a soltassem. Depois de algum tempo de tensão e até de embate corporal, acabaram cedendo, mesmo a contra gosto, pois não poderiam deter alguém à força.
Guida começou a nadar segurando a corda, mas a corrente a puxou mais para o meio onde a água era profunda e a corrente mais forte, ela começou a ter dificuldade para prosseguir e mesmo para manter-se sobre a água. Começou a gritar por socorro, as outras tentaram ajudar, puxando a corda, mas ela já estava exausta, não resistiu e acabou soltando-a. A corrente a puxou fortemente, ela se afastou soltando um grande grito e desaparecendo na água.
Todas ficaram muito abaladas, choraram muito. Depois de alguns minutos, exaustas acabaram pegando no sono e dormiram por bastante tempo.
Clotildes e Aurora acordaram primeiro e começaram a pensar no que poderiam fazer. A situação era crítica, não viam um caminho para seguir e a volta era quase impossível. Quando as outras acordaram já tinham planejado algo. Amarraram-se umas as outras e começaram a fazer tipo um arrastão de pescadores, tateando entre as pedras, pois era muito escuro, mas se alguma tivesse uma dificuldade maior, as outras poderiam ajudar, guiadas pela corda. De repente Genésia soltou um forte grito:
— Estou vendo uma pequena luz.
Ela estava mais à direita da corda e as outras mulheres começaram a juntar-se a ela com ansiedade, algumas até se arranharam nas pedras. Todas observaram atentamente e viram um pequenino ponto de luz distante. Decidiram caminhar em sua direção. Ao se aproximarem perceberam que era uma vela acesa, já queimada pela metade, estava na entrada de uma gruta. Ficaram confusas, sobre o que significava aquilo, como aquela vela fora parar ali? Decidiram entrar pela gruta, passaram pela vela e caminharam enquanto podiam ver, aproveitando ao máximo a luz fornecida pela vela. Quando a vela se extinguiu, fez-se grande escuridão, o ar quente e úmido, provocava certo mal estar e algumas começaram a entrar em pânico. Clotildes e Aurora chamaram a todas:
— Vamos ficar todas juntas e ter calma.
Quando olharam mais atentamente para frente, viram outro pequeno ponto de luz. Reanimaram-se e o seguiram, era outra vela que permitiu que elas caminhassem mais um bom pedaço. E assim se sucedeu várias vezes, quando uma vela se extinguia vislumbravam outra que indicava e iluminava o caminho a seguir. Quando paravam para descansar, começaram a conversar sobre o que significavam aquelas velas, o que representavam. A opinião mais aceita é que eram velas propriamente ditas e/ou orações que alguém oferecia a uma delas. Em alguns momentos as velas apareciam sem demora, em outros era necessário esperar por algum tempo, até que uma surgisse e pudessem prosseguir, pois aprenderam que além da luz, as velas indicavam também o caminho. Após caminharem e esperarem vários dias estavam sentadas nas pedras, já não viam a luz da última vela que ultrapassaram e aguardavam surgir a próxima, mas após bastante tempo começaram a inquietar-se pois não mais aparecia nenhuma luz.
— O que está acontecendo? Será que ninguém mais reza por nós?
— É talvez tenhamos demorado muito a entender a necessidade de sair do vale e já estejamos ficando esquecidas por nossos parentes.
Nesse momento, no entanto, perceberam que mesmo não estando muito próximas, conseguiam ver, pelo menos o vulto umas das outras, perceberam então que a caverna estava um pouco mais clara que por onde passaram.
— Meu Deus! Podemos estar perto de uma saída.
Ficaram muito entusiasmadas com a ideia e começaram a procurar detalhadamente de onde poderia estar vindo aquela luz. Havia um caminho que parecia mais claro, mas era uma subida bastante íngreme. Usaram então o último pedaço de corda que levaram amarraram se novamente umas às outras e começaram a subir com bastante dificuldade. Desta vez Genésia, que tinha uma boa visão, seguia na frente e ajudava às demais. À medida que avançavam, ficavam mais alegres, pois a caverna era cada vez mais clara e o ar mais fresco, sentiam estar prestes a encontrar uma saída e isto não tardou a ocorrer. Logo viram um ponto de luz bem nítido e o seguiram avidamente, era uma saída da caverna. Ficaram muito eufóricas, riam e choravam ao mesmo tempo.
A saída da caverna ficava pouco acima do sopé da montanha e desta avistaram uma grande planície. A planície era muita bonita, com trechos de mata, outros de relva e árvores frutíferas e diversas nascentes de água muito limpas. Corriam como crianças, brincavam e sorriam, estavam muito felizes e se sentiam mais jovens e fortes. Algumas queriam começar imediatamente a caminhada pela planície, mas como já estava entardecendo, resolveram ficar na caverna mais uma noite e começariam a jornada na manhã do dia seguinte.
No dia seguinte desceram a montanha e começaram a caminhada, cruzavam vales e colinas, apesar daquele episódio da Guida, a sensação de liberdade e do dever cumprido deixava-as bastante felizes e descontraídas. Depois de alguns dias de caminhada, Aurora observou:
— Clotildes! Estou observando algo muito interessante, não sei quanto a mim, mas vocês estão rejuvenescendo, você está me parecendo mais jovem pelo menos dez anos.
— Não se preocupe Aurora, certamente está na lista. Vejo-a muito bem e rejuvenescendo também.
Estavam cada vez mais dispostas e andavam com desenvoltura. Não tinham um rumo certo a seguir, mas não se preocupavam muito com isso, a cada dia escolhiam uma direção de forma aleatória e caminhavam, aproveitando as maravilhas daquela planície: rios de água limpa, cascatas, remansos e praias sombreadas por generosa vegetação. Frutas deliciosas, muitas das quais jamais haviam provado.
Os longos banhos e o descanso nas confortáveis prainhas constituíam excelente refrigério para aquelas almas, ainda premidas pelo desgastante estresse da tormentosa travessia da inóspita gruta no âmago da montanha.
Certo dia, ao anoitecer, quando subiam uma suave colina, viram algo estranho, embaixo de uma árvore, era mais baixo que uma pessoa normal, tinha a cor muito branca e estava imóvel, começaram a aproximar-se entre temerosas e curiosas. De repente a coisa se movimentou, levantando os braços, imitando os movimentos e sons de fantasma.
As mulheres se assustaram, gritando e algumas correram. Então o fantasma começou a rir, retirando o lençol branco que estava sobre ele. Clotildes reconheceu de imediato aquele sorriso e até aquela brincadeira, correu e abraçou emocionada, o fantasma.
— Brincalhão como sempre hein? Há quanto tempo está aqui meu irmão?
— Há pouco tempo, estou numa vila chamada Santa Clara, lá é muito bom, tem muitos místicos. Como eu já possuía alguma iniciação, resolveram ensinar-me mais um pouco, estou aprendendo muito.
Clotildes chamou as outras que observavam a certa distância, desconfiadas:
— Aproximem-se, é meu irmão Estanislau.
— O que faz perdido nesta imensidão Senhor Estas... Estalis...
— Vamos simplificar chame-me de Lau. Fui mandado para buscar vocês.
— Como sabia que vínhamos?
— Bem! Eu não sabia, como disse só estou aprendendo, mas eles sabiam.
Luz para Todos
Juvenil Tomás