Os loucos dos sapatos
Olá amigos leitores. Que Deus os abençoe e muito obrigada por gastarem tempo lendo as minhas crônicas.
Há um tempo atrás, lhes disse que de vez em quando compartilharia com vocês coisas da minha vida. Pois bem, lembrei-me de um caso ilário que aconteceu com meu marido, há uns trinta anos atrás.
Todos os domingos, seu irmão - vamos chamá-lo de Luiz - saia, cedo, de sua casa e vinha ao centro abrir a grade de sua loja, que assim, permanecia até as doze horas. Era uma maneira dele divulgar seus produtos expostos na vitrine.
Enquanto aguardava as horas passarem, vinha para nossa casa.
Conversávamos, ríamos, sonhávamos, fazíamos planos... enquanto nossas filhas brincavam.
Certo domingo, ele falou que tinha vários pares de sapatos, usados, guardados na loja e os daria para meu marido, que na época, era da construção civil. Construir casas, gasta muito calçado! Ou melhor, consome, tritura... Coitados, já eram predestinados há pouco tempo de vida. Praticamente, duravam uns dias e já eram levados em coma, para a U.T.I.
Ambos combinaram, que Luiz, ia colocá-los em uns pacotes de supermercado e entregá-los a meu marido, na parada do ônibus, quando este parasse. Aquela parada estava sempre cheia de gente.
Meu marido "deu um tempo" e foi esperar o presente do irmão.
Como de costume, havia muita gente esperando. Cada um tinha um destino diferente e esperava o "seu mercedes com motorista particular" chegar. He he! Entre o povo havia uns velhinhos e um casal de namorados em altos "loves", escorados na coluna do ponto de ônibus.
De repente, meu marido avistou o veículo que trazia Luiz e o seu presente. Preparou-se para pegá-lo, rapidamente, enquanto uns passageiros descessem e outros subissem.
Surpresa! Por incrível que pareça, aquele ônibus não parou. Ninguém esperava por ele.
Meu cunhado, não pensou duas vezes, jogou os pacotes pela janela do ônibus. Um deles foi atingir axatamente a coluna onde os pombinhos agarradinhos arrulhavam. Desprenderam-se apavorados, foi um para cada lado e o pessoal que esperava um coletivo, espalhou-se, de olhos arregalados. Os velhinhos, coitadinhos, não conseguiam correr. A vó gritava: - Valei-me meu Jesus!
Com o impacto os pacotes rasgaram-se e os sapatos espalharam-se. Uns foram parar no meio da avenida. Meu marido, por sua vez, não queria perdê-los e foi para lá, em busca de seu tesouro. Começou a juntá-los. Porém, como os pacotes rasgaram-se, ele ensacava um e outro caia. Os carros buzinavam para aquele louco agachado no meio da rua, juntando sapatos. Ele vinha para a calçada e voltava para o meio da avenida, quando o trânsito dava uma trégua. E, continuava guardando e perdendo sapatos em sacos rasgados.
As pessoas que esperavam ali, olhavam assustadas para ele. Estavam com medo. Seria um fugitivo do "Amarelinho" (modo pelo qual é conhecido o sanatório aqui da cidade)? Seria um drogado? Ou um assaltante? Os pacotes voaram pela janela do ônibus e ele pôs-se a juntá-los imediamente, sem respeitar o vai e vem dos carros. Os namorados aproximaram-se de novo, mas somente as mãozinhas se tocavam. Os vovôs foram para bem longe. Quando chegou a vez de resgatar os que jaziam inertes na calçada, todos se distanciaram de meu marido, que gargalhava em sua luta de agarra e deixa cair...
Ao chegar em casa, ele sentou-se, abraçado naqueles pares de sapatos e ria... Ria muito, enquanto eu o olhava inquiridora. Sem saber de quê comecei a rir também, E, assim ficamos longos minutos, até passar a crise do riso.
Dias mais tarde, minha sobrinha me contou, que passara por um vexame enorme. Imaginem: eles vinham sentados tranquilamente. Eis que não mais que de repente, seu pai levanta do banco, abre a janela e arremessa os dois pacotes que carregava com cuidado. As pessoas entreolharam-se e fizeram o famoso e conhecido gesto do dedo indicador circulando ao redor da orelha: - É louco!