Era um dia chuvoso. Eu estava sentada e encolhida naquela rua deserta e escura. A chuva fria me proporcionava uma sensação de nudez, coração esbugalhado, alma entristecida. Sem vontade de voltar para casa, ali estava, sem nenhum norte, vivendo o desamor.
Em meio aquela cidade escura, vi ao final da rua em que me encontrava um reflexo de luz, um carro com apenas um farol aceso. Puxei o capuz sobre minha face, e encostei a cabeça sobre os joelhos, já molhados.
O barulho do carro confundia minha cabeça com os pingos da chuva naquela capa de lona, e de vez enquanto, uma trovoada fazia tremer o chão. Minha cabeça coberta, mal conseguia ver que o carro se aproximava.
Não escutei mais o barulho do carro: havia parado na minha frente. A buzina soou, uma voz rouca dizia:
- O que faz aí na chuva? Vai se resfriar. Vem!
Não fui! Um filme passava pela minha cabeça, meu rosto triste e amargurado não teve condições de voltar para casa, depois de ouvir da psicóloga o diagnóstico de depressão. Minhas lágrimas corriam sobre minha face, numa velocidade maior que a chuva que caía. Não conseguia assimilar aquelas palavras ditas no consultório, elas ecoavam em minha mente e me atormentavam, como os trovões que ecoavam no céu.
- Você está com depressão! Você está com depressão! – repetiam-se em minha mente, as duras palavras daquela profissional. Fora a coisa mais dolorida que alguém já me dissera.
Num instante, a porta bateu, escutava passos vindos em minha direção, senti que se aproximavam, e lentamente, ergueu o capuz que cobria meu rosto. Respirei fundo, senti confiança, ergui meu olhar para o vulto que se aproximara, senti sua mão quente tocar meu rosto e enxugar minhas lágrimas. Abaixou-se, olhou nos meus olhos, como se vendo minha alma, abraçou-me com carinho, dizendo:
- Filha! Vamos pra casa!
Era meu pai! Levantei-me, e entrei no carro. O silêncio nos acompanhou até em casa, segurei firme sua mão, senti que não estava mais sozinha, mas que precisava de alguém pra cuidar de mim. Agradeci, por ter o meu pai, já com aquelas rugas no rosto, e alguns fios de cabelos brancos, meu amigo, meu companheiro, meu pai. Obrigado por cuidar-me! Foi um momento de maior prova de amor que senti, pois seu abraço me aqueceu quando minha alma estava fria, sua luz me permitiu sair da escuridão, e seu amor me fez ver, que o amor, está ali, e às vezes, nem percebemos! Meu pai, amo-te com amor intenso!
Publicado em 16/04/2014