Samba a dois - por Adriana Freitas

Samba a dois - por Adriana Freitas

SAMBA A DOIS

 

Sempre ouvi a frase “cuidado com o que você pede”, “cuidado com os seus sonhos, eles podem se realizar”. Não é exatamente sobre sonhos que quero falar, mas sobre desejos, vontades. Aquilo que o coração anseia, suspira.

            Tive muitos sonhos, desde criança quis ser muitas coisas, muitas pessoas. Mas o que o meu coração sempre aspirou sempre foi o amor, sempre foi amar. Amor de verdade, amor companheiro, amor calmo, mas com emoção. Sentimento forte e perene.

            Por muito tempo me considerei aquela pessoa sem sorte no amor. Como se fosse um carma, uma maldição, ou qualquer nome do gênero. Tive alguns amores. Nenhum do jeito que desejava. A maioria efêmero.

            Quantas noites mal dormidas, quantas lágrimas desperdiçadas. Quantas vezes senti o meu coração partido pela ingratidão de não aceitarem o meu amor. Afinal eu só queria amar e ser correspondida.

            Do último relacionamento longo que tive, guardo bons momentos. Mas por que acabamos lembrando mais do que machucou do que nos alegrou? Lembro-me bem do período final desse relacionamento, sentada na cozinha da minha mãe. Eu dizia a ela que estava cansada de cuidar e que gostaria de ser cuidada um pouco.

            Eu me sentia sobrecarregada, não valorizada. Era eu que tinha que ceder. Era eu que tinha que cuidar de tudo. Eu sentia que tinha um marido, mas não um companheiro. Talvez a culpa tivesse sido minha. Desde o início foi assim, e eu permiti.

            Eu me sentia uma babá, secretária, mãe, conselheira, empregada e há muito deixava de me sentir a namorada, esposa, companheira. Acontece que nunca tinha passado por um relacionamento longo. Acabei absorvendo a culpa toda para mim. O problema deveria ser meu mesmo. Eu acabei me esforçando ao máximo para fazer esse durar.

            Eu demorei para perceber que relacionamento é a dois. O esforço deve ser feito dos dois lados. As renúncias, as somas são feitas em parceria. Relacionamento afetivo não é um samba que se samba só. Não é uma dança solo. Se a dupla não estiver empenhada a balança desiguala. E quando descobri isso, o relacionamento, obviamente, acabou.

            Quando realizei que apenas por ter mudado o meu estado civil uma vez, eu poderia mudar quantas vezes quisesse. Quando percebi que não me importava em ser uma senhora casada e sim uma senhora feliz. E que para ser feliz eu não precisava ter alguém ao meu lado. Eu resolvi me livrar de todas as amarras. Eu queria ser feliz. Eu queria me sentir leve e livre. Foi o que aconteceu.

            Eu procurei aproveitar a vida, enxergar a beleza das coisas. Não ter pressa para amar. Viver um dia de cada vez. Cuidar de mim. Fazer o que queria, a hora que queria. Foi um processo. Mas quando deixei o velho ir, o novo surgiu. Quando aprendi a primeiro me amar, fui capaz de amar o outro e ser amada de volta.

            Hoje eu cuido, mas também sou cuidada. Hoje eu valorizo e me sinto valorizada. Abro mão de algo, mas ganho de volta. Hoje divido momentos e somo alegrias. Hoje eu me sinto a namorada, mulher, companheira. Não me sinto fazendo esforços, porque descobri que quando se dança em dupla, não existe peso, não existe desequilíbrio. Tudo fica mais leve, mais fácil. Bom de se viver.

 

 

 

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