SE A VIDA FOSSE UM POEMA
Pedia à vida o orto de uma outra vida
Uma nova linha traçada no rosto da minha sina
Esboçada no rasto do aroma livre da minha poesia
No sopro agreste a graça da minha única alegria
Pedia ao sol a luz singela do nascer de cada dia
Cravada no sulco das frestas da terra adormecida
A fibra da linha a anuir a minha ressurreição
Na razão inerte das cinzas na minha devoção
Pedia à lua o fogo solto para me adornar
A fronte arrojada com um arco de estrelas
Para que nas noites frias e mórbidas de luz
O teu rasto ceifado pudesse sempre encontrar
Pedia à força do vento para te voltar a trazer
Na brisa quente de uma madrugada a nascer
E no manto leve do tempo pudéssemos aqui ficar
Num abraço com princípio e sem fim para cessar
Pedia ao uivo da morte para saber esperar
No canteiro sagrado das nossas rosas a florir
E cada linha traçada no rosto dessa outra vida
Fossem tecidos os fios de um trilho livre e a sorrir.
Maria de Lurdes Silva Maravilha