Sensualidades e Pecados Mortais... - A Gula - por Maria de Fátima Soares

Sensualidades e Pecados Mortais... - A Gula - por Maria de Fátima Soares

SENSUALIDADES E PECADOS MORTAIS… (A GULA)

 

Normalmente arranjava-se bem. Tinha um corpo generoso, em cima dumas pernas bem torneadas. Ser algo "grande" fazia dela uma mulheraça. Não era gorda. Era... Boa! Como ouvia referirem-se-lhe ao passar. Concordava, vendo-se ao espelho. Cabelo comprido castanho encaracolado. Olhos também castanhos, expressivos. Lábios que poderiam ser um pouco mais cheios, aos quais mordia instintivamente desde que se lembrava. Quando não era isso, dava por si com a ponta da língua de fora no canto direito da boca, segurando-a forte com os dentes, até quando escrevia ao computador... Ou ficava ansiosa. Muito compenetrada em algo. Era assim que estava quando resolvera tirar a tarde para si e fazer algumas loucuras. Começaria pelo restaurante japonês. Era mais acessível. Tinha a possibilidade de comer (o que quisesse, enquanto lhe apetecesse) por um preço estipulado. Mandou vir chá de jasmim e deu início às "hostilidades".

Enquanto comia uns pedaços de fruta e sushi, reparava nalguns casais que entravam. Pessoas que saiam. Algumas sós, mas o que realmente  importava era a comida. Pôs noutro prato tiras finas de carne, pedaços de salmão, lulas, camarões e cogumelos e deu-o ao cozinheiro para grelhar. Ele sorriu. Fez o seu serviço. Minutos passados saboreava tudo, com um pouco de massa com vegetais. Reparou na cara admirada da rapariga que servia à mesa... Porventura estaria admirada de a ver sozinha, a comer aquilo tudo. "Azar! Pagava como qualquer um, portanto se achava muita comida para o preço, alterassem as condições de admissão." Olhou de novo para mais pessoas a escolherem comer para ser cozinhado e um homem dentre eles, olhou-a e sorriu. Fez um gesto com o prato, na sua direcção sustendo uns bocados de carne nos pauzinhos. Juntando-lhe lulas, como quem indagava "Isto, fica bom?" Achou piada. Confirmou com um assentir de cabeça. As lulas e fosse o que eles grelhassem, com molhos e especiarias ficavam divinais. Admirou-se quando ele não se sentou ao pé dela, mas uma vez que prezava a sua refeição solitária, agradeceu interiormente. Via-o numa mesa de lado, de quando em vez a olhá-la. O que acontecia também com o rapaz do restaurante, que grelhava. Continuou a comer. Sem se importar, lambeu os dedos, quando comia um daqueles doces fenomenais caramelizados. Mais uma vez ele tinha-a debaixo de mira, sorrindo. Mas a tarde dela não passava por aí. Sim por um bom banho a seguir ao cinema. Um livro e mais um chá. Uma torrada comida, "refastelada" no sofá. Mais tarde quiçá, uma bela canja e outra coisa qualquer. Adorava comer. Reparou que ele já acabara mas ficara ali a vê-la (o que era muito desconfortável, além de mal educado). Levantou-se um pouco antes dela, agradeceu-lhe de novo simpaticamente, pagou e saiu. Daí a um bocado foi a sua vez. Mas antes pegou numa embalagem para levar e encheu com mais "sushi" variado. Pediu a conta. Uma vez saldada dirigiu-se para a porta. Cá fora estava uma tarde amena de Outono. Já em casa, depois do filme (que não apreciara especialmente) despiu-se. Apanhou o cabelo. Completamente nua abriu a água e... Ouviu um ruído no corredor. Chaves a caírem no cinzeiro do móvel da entrada. A porta a fechar-se. Riu e entrou na banheira. A água quente e vapor, inundaram o aposento médio. O que mais gostava era quando ele chegava. Lhe fazia companhia, assim. Olhos rasgados, cabelo cortado rente, como muitos orientais usam. Tatuagens exóticas no peito, braço... E aquele seu charme, sensualidade e educação nipónica que faz uma mulher sentir-se deusa. Todo o corpo dele seco, mas musculado, se cingiu ao dela, enlaçando-a como hera. Estremeceu num arrepio bom, com o beijo provocante, antecipando o "repasto". Ele ria sedutor, senhor de si. Fazia-a derreter-se. Brincou com ela, enquanto a sua mão direita, descia e lhe afastava as pernas.

- Então, como estavam os alimentos que me deste para cozinhar? Gostaste do meu novo tempero?

Ela suspirou. Mordiscou os lábios e entrou fundo no olhar dele abafando um gemido de prazer, acusando as carícias ousadas. Estavam envoltos num nevoeiro quente, pingos de água abundante e muito mais... Respondeu.

- Estava óptimo. Porém não tão bom, como isto que me fazes, sempre que me cozinhas em fogo lento, de cada vez que chegas a casa. 

 

Maria de Fátima Soares

 

 

 

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