T O Q U E - por Anchieta Antunes

T O Q U E - por Anchieta Antunes

T    O    Q    U    E

 

Quando me ponho ao seu lado para espichar mais uma noite de sono, gosto de sentir minha mão sobre seu ombro, ou meu braço cingindo sua cintura, absorvendo o toque de pele contra pele, ou devia dizer: de pele a favor de pele.

            Quando me aproximo de você sinto a candura de seu enlace que me arrodeia sem nem mesmo se aproximar fisicamente. Quando durante o dia ouço o arrastar de sua sandália no piso da casa, percebo a invasão do som em meus ouvidos e a carícia que envolve meus sentimentos. Quando a vejo distante, jardinando suas flores ou limpando as hastes das espadas de São Jorge, percebo o toque de seus sentimentos afagando o sopro do criador. 

            Meus olhos passam as horas do dia tocando sua pele macia, acariciando sua presença eterna a regar meu olhar com açúcar de candura, fustigando suavemente meus lábios com sua saliva que navega no espaço de meus anseios.

            O toque sutil serve para abrigar o sussurro do meu recato, a timidez de minhas vontades escondidas nas dobras do manto sagrado do amor...            ...do candor...

O   toque   é   o   rascunho   do   desejo.

          O primeiro selo a ser rompido de uma carta de amor. Dentro debulham-se palavras de sedução, de juras subjacentes, de promessas irresponsáveis proferidas no momento avassalador de uma nascente ainda não comprovada, nem provada.

            Ao momento do contato as dúvidas eclipsam-se em sua virtude intrínseca, que chega elétrico e não aguardado. Uma chuva de meteoritos confunde os dedos que tentam absorver a textura da pele que em brasa repele o invasor, todavia não reconhecido.

O   toque   é   o   piscar   de   olhos   das   mãos   em   vexame   de   sedução.

É a configuração de vontades e desejos alcantilados na vertente da aventura espontânea, quando os olhos percebem antes do coração, que é o momento e a pessoa certa para cavalgar o resto de seus dias. O toque alastra-se pelo braço como preamar trazendo fartura, singularidades, textura e essência. Sem o toque não passaríamos para a segunda fase, o momento do reconhecimento de uma paixão que veio para vingar, para ser e viver.

         O toque abstrato tem a propriedade da cura a distancia.

         O toque concreto tem o dever de vulcanizar feridas lacrimais.

         O toque do olhar observa a aceitação silenciosa do amor em erupção.

 

Anchieta Antunes   ///  Janeiro de 2016.

 

 

 

 

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