por Maria de Fátima Soares
A casa mudava de cor. Depois conforme essa fosse… Desaparecia. Inicialmente a casa era branca, com um telhado de telha normal, mas a partir do dia em que a criança foi ali morar, a casa mudou. A princípio não se percebia muito bem o motivo de a casa branca, ter passado a verde, quando o menino chegou. Não só as paredes exteriores tinham tomado um lindo tom esverdeado, como por elas fora e na base, se desenvolveram pinturas de raízes e ervas, que se foram entrelaçando e subindo, de cores mais escuras, folhagens bonitas, para abrirem depois em botões de flores, em bonitos desenhos, feitos, por mão que também nunca se viu. Era como se, devido à chegada de ele, entidades mágicas ou anjos celestiais, celebrassem a vinda da criança, e pintassem a casa, como um hino ao amor. O amor com que qualquer criança deve ser brindada na vida. Mas não durou muito essa felicidade. As pessoas são más! Invejosas e maledicentes e o menino filho de uma mãe, que o gerou e de outra mulher, que ela amava e com quem vivia, não podia, ser tido como tal… Filho de ambas! Onde já se vira, alguém ter como pais, duas mães? Portanto, toda a paz que houvera até ali… A natural vida que se leva, em qualquer lugar em que tudo corre normalmente, perdeu-se. Fosse esse o motivo por que a casa se transformou… Para os proteger aos três! E assim mal surgia algo que ameaçasse o sossego, ou a estabilidade do casal e do seu filho a casa pintava-se de amarelo, num sinal de perigo, passando rapidamente a vermelho! E se a coisa estivesse complicada… Desaparecia. Mudava de sítio. Talvez tudo isto não fosse um ambiente muito saudável, para uma criança se desenvolver. Duas mães! Uma vizinhança malévola e disposta a desestabilizar. Uma casa que se pintava de outras cores, sem ninguém lhe mexer… E para cúmulo, desaparecia. Se as circunstâncias o exigissem, para os livrar de problemas. Mas o certo, é que era o melhor sítio de todos, para alguém crescer. O petiz ria-se de cada vez que a casa se transformava. Ficava radiante, mal apareciam noutro sítio! Mais um bom bocado à frente. Lá muito para trás. Três ruas acima ou no largo em baixo! O que fazia com que as mães se divertissem também imenso ao deixarem todo o resto da vizinhança confuso. Com algum respeito e temor, até! Tornando-se por isso mesmo, um lugar alegre, cheio de bom ar e uma aura leve, com tanto riso. Depois quando o menino começou a ir para a escola, nunca achou diferença nas crianças que com ele lidavam! Só os pais delas o olhavam de lado, mas os filhos todos, queriam morar, à semelhança de ele, numa casa que era mágica. Logo! Muitos adoravam ir lá, mesmo em segredo. Nesses dias tomavam chá, comiam torradas e bolos. Havia chocolates e gomas. Brincavam muito. As mães do menino eram muito doces, e tratavam os amigos do filho com muito mimo, o que também contribuía para todas as crianças gostarem muito deles. Os miúdos mais crescidos já sabiam e explicavam aos menores, que o governo daquele país, andava a perguntar às pessoas se concordavam com isto? Uma criança… Menino ou menina, ter dois pais ou mães, do mesmo sexo, a fim de ser feita uma Lei. Parecia que andava um enorme rebuliço onde legislavam, sendo no entanto o menino e as suas mães totalmente alheios a isto. Levando a sua vida como podiam. Lá chegaria talvez o dia, (por que ansiavam muito) em que seria normal e ninguém olharia de lado os meninos filhos dessas famílias. Mas, até lá… A casa mudava de cor para os avisar que deviam ter cuidado! Se alguém os quisesse prejudicar desaparecia, para voltar, quando tudo já tivesse passado. Acalmado. Quanto a tudo o resto as suas vidas, eram boas. Felizes. Ternas. Cheio de verdadeiro afecto e muita alegria. Portanto… O chamado normal.
publicado 21/01/2014